Depoimentos sobre o constrangimento ou a negação de fazer o exame de toque, que ajuda a detectar o câncer de próstata, são comuns em diversas rodas de conversa entre homens. O preconceito, no entanto, contribui para que a doença progrida silenciosamente, uma vez que o procedimento é fundamental para o seu diagnóstico precoce.
A próstata é uma glândula pequena (do tamanho e com a forma de uma ameixa fresca), localizada na pelve, que é a parte baixa do abdômen. A próstata tem a função de produzir substâncias que fazem parte do sêmen (material ejaculado quando o homem tem orgasmo), e essas substâncias são importantes para nutrir os espermatozoides produzidos pelo testículo.
O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens brasileiros, atrás apenas do câncer de pele.1 A campanha mundial Novembro Azul joga luz sobre a importância do acompanhamento médico como uma medida fundamental para diminuir as chances de morte pelo câncer de próstata. “As oportunidades de tratamento efetivo da doença em pacientes diagnosticados em fases precoces são muito altas. No estágio 1, por exemplo, as possibilidades de cura são de praticamente 100%”, afirma o dr. Augusto Mota, oncologista da Clínica AMO, na Bahia, que faz parte da Dasa, maior rede de saúde integrada do Brasil.
Na fase inicial, o câncer de próstata normalmente não causa sintomas. Quando o diagnóstico é feito após o surgimento de sintomas, a doença usualmente não está mais dentro do órgão. Isso reduz de maneira significativa as chances de cura. É importante frisar que não há nenhum sintoma que seja sugestivo de câncer de próstata, e qualquer sintoma urinário novo e sustentado (que persiste por mais de duas ou três semanas) deve motivar uma consulta com um urologista.2
De olho nos fatores de risco e testes diagnósticos
De acordo com o dr. Augusto Mota, a idade é o principal fator de risco para a doença, mas o histórico familiar também pode ser uma das causas. “Um homem que tem um irmão ou pai com a enfermidade tem quase três vezes mais chances de ter câncer de próstata quando comparado a quem não tem casos na família. Aqueles com irmãs que tiveram diagnóstico de câncer de mama também têm maior probabilidade de desenvolver um câncer de próstata. No entanto, é importante enfatizar que a maioria acontece em pacientes sem histórico familiar. Se houver dúvida com relação a um possível risco aumentado de câncer, recomenda-se uma avaliação médica com um especialista, como urologista, oncologista ou oncogeneticista”, destaca ele.
Segundo o dr. Fernando Ide, especialista em imagem de próstata do Alta Diagnósticos, em São Paulo, que também faz parte da Dasa, a identificação do câncer de próstata pode ser feita por meio de exames preventivos, como o PSA (análise de sangue) e o de toque retal, feito por um especialista. “A ressonância magnética também vem ganhando destaque na detecção desse tumor. Pode ser complementar ao PSA, triando pacientes que devem prosseguir para a biópsia. Outros estudos podem ser solicitados durante o tratamento, como o Prolaris (teste genético que pode estratificar o risco de agravamento) e o PET-CT com PSMA, excelente na pesquisa de recidiva da doença”, explica o médico, ressaltando que os métodos de imagem permitem tratamentos individualizados para cada paciente.
O dr. Fernando Ide ainda orienta que o rastreamento do câncer de próstata deve começar a ser feito a partir dos 50 anos. Em casos de pacientes com mutações germinativas – alterações no DNA transmitidas geneticamente –, é importante iniciar o acompanhamento mais cedo do que o recomendado. Tumores que surgem como consequência dessas alterações tendem a apresentar um comportamento clínico mais agressivo. “Os genes mais importantes associados ao câncer de próstata são o BRCA 1 e BRCA 2, porém existem outros, como CHEK2, PALB2 e NBN. No entanto, as doenças que se desenvolvem em homens com modificação genética têm a mesma característica silenciosa que os tumores não relacionados a essas mutações”, conclui o especialista.
Superação do tumor de próstata
Para o dr. Gustavo Piotto, oncologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo, pertencente à Dasa, o tipo de tratamento pode ser definido com testes genéticos, indicados para pacientes que tenham desenvolvido metástase ou com histórico de câncer de próstata ou mama na família. Esses exames podem indicar como deve ser o acompanhamento e cuidado com cada um. Em geral, a intervenção varia de caso a caso. Uma das modalidades é a vigilância ativa, voltada para quem desenvolveu câncer de risco baixo ou muito baixo.
“O paciente com critério de vigilância ativa se beneficia por não precisar, em um primeiro momento, ser submetido a nenhum procedimento local. Normalmente, esse programa contempla a medição de dosagens de PSA a cada quatro a seis meses, além de repetição do exame de toque retal e de biopsia a cada 12 a 24 meses. Aqueles que fazem o seguimento de maneira apropriada podem evitar, com segurança, a interferência local após o diagnóstico, sem maiores riscos de perder a oportunidade de tratar o tumor de maneira efetiva caso alguma das características iniciais se modifique”, detalha o dr. Gustavo Piotto, afirmando que, em caso de avanço da doença, a cirurgia é recomendada, e que, nos últimos anos, a tecnologia facilitou o procedimento com o auxílio de um robô.
“Essa modalidade reduz de maneira significativa as possíveis consequências indesejáveis da cirurgia, como incontinência urinária e impotência sexual. Para os pacientes que recusam ou não podem se submeter ao tratamento cirúrgico, existe a alternativa de tratamento com radioterapia com ou sem o uso associado de terapia de privação androgênica”, pontua o oncologista.
Para além dos cuidados médicos, o dr. Gustavo Piotto cita o apoio da família como imprescindível para obter melhores chances de sucesso em todo o processo. “É importante estarem todos juntos, principalmente porque muitos homens demoram a procurar ajuda médica. Então, esse apoio é fundamental para uma boa recuperação”, ressalta o dr. Gustavo, que destaca iniciativas que podem diminuir o risco da doença. “Atividades físicas, no geral, diminuem o risco de o paciente ter esse tipo de doença no futuro. Por outro lado, obesidade e sedentarismo são considerados dois fatores de risco em relação ao câncer de próstata. É preciso uma rotina com hábitos saudáveis para a prevenção e o sucesso do tratamento”, finaliza.
Fontes:
- https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/prostata.
- https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//cartilha_cancer_prostata_nov2019_3areimp_2022_visualizacao.pdf.