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Mordida ou arranhão de gato: o que fazer se sofrer um ataque?

Segundo a Fiocruz, cerca de 50% das mordeduras de gatos vão causar uma infecção. Por isso, é preciso buscar atendimento médico para iniciar o tratamento

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein*
8 dez 2023, 11h53
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Em casos de ataques por gatos, seja por mordedura ou arranhão, a primeira medida a ser tomada é a completa higienização do local (Foto: Freepik/Divulgação)
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Gatos são geralmente animais dóceis, mas podem apresentar comportamentos agressivos e inesperados quando se sentem provocados ou incomodados. Podem reagir com mordidas ou arranhões em quem consideram uma ameaça, seja uma pessoa ou outro animal.

Enquanto, no caso de mordidas de cachorro, automaticamente pensamos na vacinação antirrábica, o que devemos fazer quando a mordida ou arranhão é de um gato?

Segundo a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein, em casos de ataques por gatos, seja por mordedura ou arranhão, a primeira medida a ser tomada é a completa higienização do local, lavando o ferimento com água e sabonete neutro.

Em seguida, é crucial tentar identificar se o animal está vacinado e se existe alguma suspeita de raiva – nem sempre isso é possível, porque esse ataque pode ter acontecido com um animal que vive na rua. Depois, a recomendação é buscar atendimento de emergência, onde a administração de profilaxia com antibióticos pode ser considerada.

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“A boca de cães e de gatos possui muitas bactérias, mas uma delas em especial é mais preocupante: a Pasteurella multocida. Uma infecção causada por essa bactéria, se não for adequadamente tratada, pode evoluir com lesões infectadas graves, acometimento ósseo e, eventualmente, ser fatal”, alertou a infectologista.

“Por isso, é essencial que haja uma avaliação médica para orientar os cuidados com a ferida e avaliar a necessidade de prescrição ou não de antibióticos”, acrescentou.

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Gouveia ressalta, entretanto, que a vacinação de gatos e cachorros previnem algumas doenças específicas próprias destes animais, que são transmitidas entre eles, ou deles para os humanos, como o vírus da raiva.

“As infecções bacterianas transmitidas pelas bactérias da boca do animal não são prevenidas por vacinas. Por isso, é preciso procurar um serviço de saúde”, orientou.

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apesar de a maioria das ocorrências de mordeduras ser causada por cães, acidentes com gatos, ratos e coelhos também aparecem na lista.

Na maioria das vezes, a mordida de cachorro não costuma causar maiores complicações, mas, segundo a entidade, pelo menos 50% das feridas causadas pelos gatos (sejam mordidas ou arranhões) vão infectar e, por isso, precisam de tratamento adequado.

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Há pouco mais de quatro anos, a dona de casa Vanessa Godoi Romero, de 54 anos, foi mordida na mão por um gato que ela havia resgatado da rua após um atropelamento.

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Ela cuidava do animal em casa, mas ele se assustou com os cachorros no quintal e quando ela tentou separá-los, foi mordida. Vanessa procurou o hospital imediatamente, iniciou um tratamento com antibióticos, mesmo assim teve uma infecção grave e perdeu a mobilidade do dedo.

“Eu deveria ter recebido antibiótico endovenoso e não oral. Não sei qual foi a bactéria responsável, mas a infecção foi muito grave. O meu dedo ficou muito inchado e rompeu o tendão. Demorei muito para conseguir atendimento com um especialista em mão por causa da pandemia. Fiz uma cirurgia, mas não recuperei totalmente o movimento do dedo”, contou. Ela faz fisioterapia duas vezes na semana para tentar recuperar a mobilidade do dedo.

‘Doença da arranhadura do gato’

Uma das principais doenças causadas pelo arranhão do gato é a bartonelose, uma infecção causada por bactérias do gênero Bartonella, conhecida como “doença da arranhadura do gato”. Ela pode provocar desde uma pequena inflamação no local da ferida, inchaço nos gânglios e febre, até quadros graves que afetam os nervos e o coração.

Em geral, os gatos jovens têm mais probabilidade de transmitir a infecção, e a doença se manifesta de forma mais intensa em pessoas com imunidade reduzida, como idosos ou crianças.

A esporotricose é outra doença que pode acometer gatos e, eventualmente, contaminar os humanos. Também é conhecida popularmente como “doença do jardineiro”, pois ao cuidar de plantas e remexer a terra, a pessoa pode se contaminar. Isso porque trata-se de um fungo que está presente no solo e no ambiente, que pode acometer a pele dos gatos.

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A transmissão se dá pelo contato de algum tipo de lesão de pele ou mucosa com o fungo, causando lesões que evoluem de forma progressiva. No caso dos humanos, é possível adquirir esporotricose pela mordedura, arranhadura ou contato da nossa pele lesada com o fungo que está presente na pele do gato.

“Esta é uma doença de difícil diagnóstico e é um problema de saúde pública. A boa notícia é que pode ser tratada com antifúngicos. No município de São Paulo, essa é uma doença de notificação compulsória, tanto quando ocorre nos gatos ou quando ocorre em humanos”, explica a infectologista, que ressalta que essa é uma enfermidade que não se apresenta logo no dia da mordedura ou do contato com o gato doente – pelo contrário, tem uma evolução lenta.

Ao procurar atendimento, também haverá a checagem do status da vacinação antitetânica, já que os ferimentos causados por mordidas de animais também podem causar tétano (uma infecção aguda e grave).

Se o esquema vacinal da pessoa estiver em dia, ela deve receber uma dose de reforço. Se a pessoa não souber a sua história vacinal, deverá receber as três doses da vacina.

dois gatos interagindo
Uma das principais doenças causadas pelo arranhão do gato é a bartonelose (Foto: Cynoclub (Getty Images)/SAÚDE é Vital)

Outra medida possível é a aplicação da vacina ou da imunoglobulina antirrábica, caso haja suspeita de o animal estar contaminado pelo vírus da raiva.

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A raiva, uma zoonose, apresenta um período de incubação do vírus que pode variar de dias a anos, sendo que, em média, leva cerca de 45 dias para que os sintomas se manifestem no corpo humano. Entretanto, em crianças, os sintomas podem surgir mais rapidamente.

A evolução da doença depende do tipo de exposição, seja por mordedura, lambedura ou arranhão. Fatores como a profundidade e o local da lesão, juntamente com a carga viral transmitida, também influenciam. Por essa razão, é fundamental monitorar o animal por um período de 10 dias.

“Independentemente de se conhecer ou não o animal, devemos procurar um pronto atendimento, já que somente o médico conseguirá avaliar as condições da lesão, verificar a necessidade de antibiótico e de profilaxia de raiva. Há risco de infecções e pode haver extensão para o osso e tanto a doença da arranhadura do gato quanto a infecção após a mordida podem ter consequências fatais se não tratadas adequadamente”, completou a infectologista.

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Fique atento e evite acidentes

Segundo dados da Vigilância de Zoonoses da Prefeitura de São Paulo, os animais podem interpretar algumas atitudes simples como provocativas e seguir os seus instintos de defesa – e a reação natural é morder ou arranhar.

Por isso, a orientação é nunca mexer em gatos não conhecidos, soltos na rua ou mesmo presos atrás de portões, pois faz parte do instinto do animal proteger o território onde está, seja dentro de casa, em um terreno ou solto na rua.

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Tocar de forma inesperada também pode ser perigoso. Em geral, se o animal estiver dormindo ou se alimentando e se sentir ameaçado, é provável que ele reaja com movimentos rápidos e agressivos.

De acordo com a Vigilância de Zoonoses, o animal apresenta sinais de irritação, sendo importante saber identificá-los.

Quando um gato está irritado, por exemplo, ele tende a dobrar as orelhas para trás, balançar a cauda, arrepiar os pelos, rosnar e abrir a boca. Além disso, pode começar a emitir sons, encolher-se e, eventualmente, pular e atacar.

Se um gato se aproximar e não for possível evitá-lo, a recomendação é permanecer imóvel e proteger a cabeça, o rosto e o pescoço com mãos e braços. Não olhe diretamente e, se possível, não grite nem corra. Tente identificar o animal mordedor para que o acidente não volte a acontecer. Entre as principais orientações, estão:

• Preste atenção nas características do animal, como tamanho, tipo de pelo, idade aproximada;
• Procure identificar e localizar o dono do animal para saber onde ele vive e quais suas condições de saúde;
• Se for um fato que tem dono, solicite ao tutor que observe o animal por 10 dias e acompanhe a sua evolução – se nesse período o animal adoecer ou mudar de comportamento, o serviço de saúde deve ser acionado;
• Caso seja um animal desconhecido e sua observação impossível, relate o ocorrido ao procurar o serviço de saúde para que sejam tomadas as medidas preventivas.

*Conteúdo publicado originalmente na Agência Einstein.

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