Gripe aviária em granja comercial no Brasil: qual o risco para a população?
Ministério da Agricultura decretou emergência zoossanitária em cidade gaúcha. Doença é rara entre humanos, mas costuma ser grave

O primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil foi confirmado nesta quinta-feira (15), conforme divulgou o Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa).
O vírus foi detectado em aves no município de Montenegro, que fica a cerca de 60 km de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Chamado de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) ou H5N1, esse tipo de vírus já foi detectado na Ásia, na África e na Europa.
No Brasil, o IAAP só havia sido identificado em aves silvestres até o momento. Ele causa sintomas mais evidentes nas aves, e tem altas taxas de mortalidade, diferentemente do IABP, ou influenza aviária de baixa patogenicidade, que não costuma gerar sinais clínicos.
Medidas de prevenção já estão vigentes
O caso em Montenegro foi atendido na última segunda-feira pela Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul. A partir da detecção do vírus, o aviário foi isolado. As aves foram eliminadas.
O Mapa determinou um estado de emergência zoossanitária de 60 dias no município. Uma investigação complementar em áreas no raio de 10 km da granja será conduzida.
Em Sapucaia do Sul, também no estado gaúcho, o zoológico local foi fechado para visitação após casos de mortes de cisnes e patos. Amostrados dos animais são analisadas em laboratório.
Esse primeiro caso já traz consequências comerciais para o Brasil, maior exportador de frango do mundo. A China interrompeu a compra de carne de frango brasileira por 60 dias.
A gripe aviária é transmissível para humanos?
Raramente. Não há risco em consumir carne de frango ou ovos.
O vírus da gripe aviária pode afetar aves domésticas ou silvestres, assim como mamíferos – ratos, gatos, cachorros, cavalos e porcos estão suscetíveis.
Os poucos casos registrados de tranmissão de aves para humanos ocorrem entre pessoas com contato direto com os animais infectados, como tratadores ou profissionais de granjas. O risco vem do contato com secreções e fluidos do animal infectado, vivo ou morto.
No Brasil, a transmissão entre aves e humanos ainda não foi identificada.
Por precaução, não toque em aves doentes ou carcaças de animais mortos. Trabalhadores de aviários ou veterinários devem utilizador equipamentos de proteção individual. Os órgãos de saúde do município precisam ser informados caso haja suspeita de infecção pelo vírus.
Os sinais clínicos nas aves são dificuldade para respirar e se locomover, com cianose e necrose na crista e na barbela, pescoço torto, diarreia, queda na postura e produção de ovos deformados. Em aves já mortas, há inchaço, hemorragia e necrose.
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Qual é o risco para a população?
“Não há motivos para preocupação ou mudanças na rotina. São raros os registros de transmissão de aves para humanos, e inexistentes os casos de transmissão entre seres humanos”, explica o infectologia Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Embora não exista perigo por ora, é importante ficar atento às próximas notícias sobre a gripe aviária. Isso porque o vírus passa por mutações frequentes. “O H5N1 é o vírus com maior potencial pandêmico hoje em dia. Se, lá no futuro, o vírus adquirir a capacidade de infectar seres humanos, pode causar uma grande onda de circulação”, complementa Kfouri.
Outro problema é que, quando ocorre em humanos, a doença costuma ser grave. “Os casos humanos tendem a apresentar evolução para pneumonia viral severa, síndroma de angústia respiratória aguda e comprometimento multissistêmico”, alerta o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). A letalidade pode chegar a índices altos nesses casos.
“Do ponto de vista ocupacional, trabalhadores de granjas, abatedouros, profissionais de saúde animal, veterinários e populações expostas a mercados de aves vivas estão em grupos de risco elevado, o que reforça a necessidade de protocolos rígidos de biossegurança, uso correto de equipamentos de proteção individual e vigilância epidemiológica contínua”, informa Barbosa.