Não foram poucas as pessoas que notaram, durante a pandemia de coronavírus, que os cabelos ficaram brancos em uma velocidade mais acelerada. É como experimentar quase que em tempo real um elo que a ciência vem desvendando – sim, o estresse acelera o processo de se tornar grisalho. Um novo estudo, realizado na Universidade Columbia – Irving Medical Center, nos Estados Unidos, traz evidências quantitativas desse fenômeno e acrescenta um dado curioso: a cor do cabelo pode ser restaurada quando o estresse é eliminado.
“Compreender os mecanismos que permitem que os cabelos grisalhos ‘velhos’ retornem ao seu estado pigmentado ‘jovem’ pode fornecer novas pistas sobre a maleabilidade do envelhecimento humano em geral, e como ele é influenciado pelo estresse”, disse o autor sênior do estudo Martin Picard, em comunicado divulgado pela instituição. De acordo com ele, o cabelo concentra informações sobre a nossa história biológica.
O cientista acrescentou: “Nossos dados se somam a um crescente corpo de evidências que demonstra que o envelhecimento humano não é um processo biológico linear e fixo, mas que pode, pelo menos em parte, ser interrompido ou mesmo temporariamente revertido”.
A análise
A primeira autora do trabalho, a pesquisadora Ayelet Rosenberg, desenvolveu um novo método para capturar imagens altamente detalhadas de minúsculas fatias de cabelo humano – assim, conseguiu quantificar a extensão da perda de cor de forma muito mais precisa.
Com base nesse sistema, os cientistas avaliaram cabelos individuais de 14 voluntários, comparando os resultados com um “diário de estresse” produzido por cada um deles.
Foi aí que o time de experts notou que alguns fios grisalhos recuperavam naturalmente a sua cor original. “Houve um indivíduo que saiu de férias e cinco fios de cabelo dessa pessoa voltaram a escurecer”, contou Picard.
Não é para todo mundo
Embora a redução de estresse traga inúmeras vantagens, os pesquisadores frisam que não dá para esperar que isso faça milagres pela pigmentação da cabeleira.
“Não achamos que reduzir o estresse em uma pessoa de 70 anos que é grisalha há décadas vai escurecer seus cabelos, nem que aumentar o estresse em uma criança de 10 anos será o suficiente para transformar seu cabelo em grisalho”, pontua o autor sênior.
Por que o estresse afeta a cor
Para entender melhor esse aspecto, os cientistas mediram os níveis de várias proteínas ao longo do comprimento dos fios. Eles notaram, então, que alterações em 300 proteínas ocorreram quando a coloração do cabelo se transformou. Ao que tudo indica, o impacto do estresse nas mitocôndrias – estruturas responsáveis pela respiração celular – pode justificar a branqueamento da cabeça.
“Frequentemente, ouvimos que as mitocôndrias são a força motriz da célula, mas essa não é a única função que desempenham”, citou Picard. “As mitocôndrias são, na verdade, como pequenas antenas que respondem a uma série de sinais diferentes, incluindo estresse o psicológico”, explicou o pesquisador.