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“Estamos ajudando a criar linhagens mais transmissíveis de coronavírus”

O virologista José Eduardo Levi, que analisou a variante britânica do Sars-CoV-2 detectada no Brasil, explica o que fazer para conter mutações contagiosas

Por Frederico Cursino, da Agência Einstein*
Atualizado em 3 fev 2021, 12h46 - Publicado em 19 jan 2021, 12h28
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  • O comportamento humano está favorecendo o desenvolvimento de linhagens mais transmissíveis do coronavírus. O alerta vem do virologista José Eduardo Levi, pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo.

    Levi foi o responsável pela descoberta, no fim de dezembro, dos primeiros dois casos da variante britânica do Sars-CoV-2 na América Latina. A mutação possui oito alterações na proteína Spike. Mudanças nessa estrutura podem não apenas afetar a transmissibilidade do vírus — como aconteceu com a mutação inglesa —, mas eventualmente torná-lo mais resistente a vacinas.

    Nesta semana, o virologista recebeu amostras de outra mutação (B.1.1.28), a mesma detectada em turistas japoneses que contraíram a Covid-19 em Manaus (AM). Nela, foram encontradas dez alterações na proteína Spike. Ainda que não haja dados sobre a repercussão disso na pandemia, a possibilidade de que o coronavírus continue circulando e evoluindo acende um alerta.

    “Esse é um momento crítico. As variantes podem colocar dúvidas sobre o desempenho dos exames de diagnóstico, e, principalmente, sobre as vacinas “, alerta o virologista.

    Para Levi, o contexto atual exige medidas sérias. Primeiramente, é preciso diminuir a circulação de pessoas, que funciona como um “adubo” para a mutação do vírus. E também é fundamental tornar mais frequentes os sequenciamentos dos vírus em atividade no Brasil.

    “Só assim poderemos saber se vacinas adotadas terão a mesma eficácia nessas variantes. Caso suspeitemos de uma possível perda de eficácia, poderemos atualizá-la em tempo hábil”, diz.

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    O pesquisador ressalta que, com o baixo índice de sequenciamento no país, a mutação encontrada na capital do Amazonas pode ser apenas a ponta do iceberg de uma série de variantes que já teriam sido criadas em solo brasileiro.

    Confira abaixo outros trechos da entrevista que José Eduardo Levi concedeu à Agência Einstein:

    A variante brasileira seria mais transmissível, como a britânica?

    José Eduardo Levi: A variante B.1.1.28 [brasileira] ainda é recente. O que sabemos é que ela tem dez mutações na proteína Spike, enquanto a britânica possui oito. Em teoria, essas alterações na proteína sugerem que o vírus mutado pode ter comportamento diferente, uma vez que ela serve como a porta de entrada do vírus. Mas no momento não podemos dizer que qualquer variante encontrada no Brasil é mais transmissível. Imagino que, no fim do mês, teremos uma ideia melhor disso.

    Hoje, o que mais me preocupa é a variante de Manaus, porque é provável que tenhamos mais casos dela do que a britânica por causa do fluxo de pessoas. O problema é que não conseguimos enxergar isso por causa da baixa taxa de sequenciamento por aqui. Precisamos de uma vigilância molecular melhor para controlar as mutações.

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    As mutações do vírus afetam a eficácia da vacina?

    Há um dado da Pfizer mostrando que a vacina conseguiu neutralizar um vírus artificial com uma das mutações mais importantes da variante britânica. Isso é bom, mas ainda não vi um estudo em laboratório que tivesse neutralizado o vírus em si. Temos que verificar se quem foi vacinado acabou infectado pela nova variante. Se isso acontecer, é um sinal de que a B.1.1.7 pode resistir à imunização.

    A baixa a adesão ao isolamento no Brasil contribui para a criação de linhagens mais transmissíveis ou resistentes?

    Certamente estamos ajudando a criar linhagens mais transmissíveis de coronavírus. Basta fazer o seguinte raciocínio: se você coloca mais pessoas aglomeradas, umas com o vírus de menor transmissão e outras com a variante mais transmissível, quem é que vai sair predominante? Será a segunda linhagem.

    E deve ter sido isso que aconteceu em Manaus. O isolamento permite que você não dê chance ao vírus. Se a variante não se espalha, é mais fácil que ela morra ou não evolua para outras.

    O que é preciso fazer para controlar as mutações do vírus neste momento?

    É preciso que haja monitoramento constante, que se adiante ao vírus ou que se caminhe junto dele. Todos os vírus terão variantes, mas só conseguiremos descobri-las se fizermos o sequenciamento. Só assim é possível constatar com rapidez o surgimento de uma linhagem mais agressiva.

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    *Este conteúdo é da Agência Einstein

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