A vacinação contra o novo coronavírus mal começou e os cientistas já começam a fazer novos testes para tentar turbinar os resultados da imunização em massa. Recentemente, foi lançada uma pesquisa para avaliar o potencial da combinação da vacina da AstraZeneca e Universidade de Oxford com a da Pfizer/BioNTech. Mas qual a lógica por trás de iniciativas como essa?
Antes de tudo, a médica Viviane Boaventura, que é imunologista, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e professora da Universidade Federal da Bahia, afirma que a estratégia de aliar vacinas com tecnologias diferentes já é adotada na prevenção de outras doenças, como a poliomielite.
E não é que os fabricantes misturam os compostos e os aplicam em uma mesma injeção. Na realidade, os voluntários desses experimentos envolvendo o Sars-CoV-2 receberão uma primeira dose de uma marca e, após algum tempo, uma segunda dose da outra.
Uma das metas de estudos assim é avaliar se há melhora na capacidade de evitar a Covid-19. Ora, como cada produto instiga o sistema imune de um jeito distinto, é possível que o combo turbine ainda mais nossas defesas.
A vacina da Universidade de Oxford, por exemplo, usa um vírus modificado que é incapaz de se replicar para transportar pedaços do material genético do coronavírus que estimulam a nossa imunidade. Já a da Pfizer recorre a fragmentos do RNA viral com o mesmo fim. Há ainda pesquisas previstas que associam a vacina de Oxford com a Sputnik V, fabricada na Rússia.
Outro ponto que os especialistas pretendem averiguar é se essas combinações protegem adequadamente contra as novas variantes do Sars-CoV-2. E, claro, se elas disparam efeitos colaterais adicionais.
Existe uma vantagem indireta — e especialmente valiosa durante uma pandemia — de poder combinar diferentes imunizantes: a flexibilização da logística. Ter a possibilidade de aplicar a dose de um fabricante e, dias depois, a de outro ajuda as autoridades a organizarem e distribuírem seus estoques. Se há uma falta momentânea de uma versão de vacina, o serviço consegue oferecer a de outra (desde que haja testes com essa união).
Os próximos passos
Viviane, que também integra a Sociedade Brasileira de Imunologia, ressalta que a união da vacina de Oxford com a da Pfizer trouxe resultados promissores em camundongos, porém aqueles estudos em humanos que mencionamos ainda vão demorar um tempinho para serem concluídos.
Mesmo se tivermos dados positivos, os órgãos reguladores precisam entrar em jogo para checar as pesquisas e outras informações. No Brasil, estamos falando da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Ou seja, por enquanto, não devemos usar doses de vacinas diferentes”, reforça Viviane.
Ainda assim, a especialista está otimista: “Agora que as vacinas começaram a ser aplicadas, teremos mais informações para testar combinações e avançar no combate ao coronavírus. É importante que todos os países vacinem para frearmos a transmissão e a mutação do vírus. E a utilização de doses diferentes pode facilitar essa conquista”, finalizou Viviane.