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Covid-19: dexametasona reduz tempo de ventilação mecânica em casos graves

O tratamento com esse corticoide em pacientes com coronavírus foi alvo do novo estudo da Coalizão Covid-19 Brasil. E os resultados animaram

Por Frederico Cursino, da Agência Einstein
Atualizado em 1 jun 2022, 17h58 - Publicado em 2 set 2020, 12h47
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  • O anti-inflamatório dexametasona ajuda a diminuir o tempo de uso do respirador artificial em pacientes graves internados com coronavírus (Sars-CoV-2). A descoberta consta de um novo estudo da Coalizão Covid-19 Brasil, publicado no dia 2 de agosto, pelo periódico científico Journal of the American Medical Association (JAMA).

    De acordo com a pesquisa, intitulada Coalizão III, portadores do novo coronavírus com síndrome respiratória aguda grave passaram, em média, 6,6 dias sem necessidade de respiradores, quando tratados com o corticoide. Já os pacientes com o mesmo quadro clínico, mas que não utilizaram o medicamento, ficaram quatro dias sem precisar da ventilação. Isso em um período de até 28 dias.

    Para os autores, os resultados trazem importantes avanços na corrida para a liberação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). “A retirada mais precoce do respirador artificial pode se associar ao menor risco de complicações decorrentes da permanência na UTI e à alta mais precoce, com liberação de leitos e economia de recursos”, afirmou, em nota, o grupo Coalizão Covid-19 Brasil. Ele é formado por oito organizações: Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva.

    O Coalizão III foi a primeira investigação brasileira voltada para os corticoides no tratamento da Covid-19. O trabalho contou com apoio da farmacêutica Aché, que forneceu os fármacos, e foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

    De tão importante, a análise contribuiu para uma revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS), que compilou os dados do Coalizão III e das demais pesquisas que testaram esse tipo de remédio contra a Covid-19. Também divulgado neste dia 2, o documento da OMS demonstrou que a administração de corticoides reduz a mortalidade em pacientes graves.

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    “Além do bom resultado de menos dias no ventilador, não tivemos impacto negativo, o que é uma preocupação com os corticoides. Na dosagem aplicada em nossa análise, não houve aumento de infecção secundária nem alterações de glicemia de forma significativa”, destaca a cardiologista Viviane Cordeiro Veiga, coordenadora de UTI da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

    Como foram feitos os testes com dexametasona contra o coronavírus

    O Coalizão III teve início no dia 17 de abril, com inclusão do último paciente em 23 de junho, e seguimento clínico finalizado em 21 de julho. Foram incluídos 299 voluntários com síndrome respiratória aguda grave submetidos à ventilação mecânica (respiração artificial) em 41 UTIs brasileiras. Os indivíduos tinham idade média de 61 anos — cerca de 60% eram do sexo masculino.

    Por meio de randomização (sorteio), os pacientes receberam dexametasona mais suporte clínico padrão (151 pessoas) ou apenas suporte clínico padrão (grupo controle, 148 pessoas). Esse corticoide foi aplicado por via endovenosa durante cinco dias.

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    A avaliação do efeito do tratamento considerou como resultado principal o número de dias que o paciente permaneceu fora do respirador artificial em até 28 dias.

    “Estamos vivendo um momento único na ciência brasileira, ajudando a trazer informações científicas que podem demonstrar a eficácia de tratamentos no combate à Covid-19, e trabalhando diretamente no impacto da pandemia”, afirma Luciano Cesar Pontes Azevedo, superintendente de ensino no Hospital Sírio-Libanês, outro especialista que assina o Coalizão III.

    O cardiologista Álvaro Avezum, diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e membro do Coalizão Covid-19 Brasil, destaca a contribuição do estudo para as novas diretrizes da OMS. “Essa importante aliança entre pesquisadores brasileiros vêm conduzindo diversos estudos clínicos randomizados e gerando conhecimento útil contra a Covid-19. Dessa maneira, torna-se possível a prática médica baseada em evidências por meio de respostas confiáveis às questões científicas envolvendo o coronavírus”, ressalta.

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    De acordo com os autores, o estudo não foi idealizado para avaliar diferenças de mortalidade entre os grupos. Os pesquisadores ainda ressaltaram que os resultados não são aplicáveis a outras populações, como pacientes ambulatoriais com formas mais leves e iniciais de Covid-19, ou mesmo pacientes hospitalizados que não estejam em respiração artificial.

    A OMS sugere não utilizar a dexametasona ou outros corticoides em quadros menos severos do coronavírus.

    Este conteúdo é da Agência Einstein.

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