Câncer: soluções para um tratamento mais ágil e eficaz
Essa doença impõe desafios consideráveis para o sistema de saúde brasileiro, que foram abordados no Fórum SAÚDE – A Revolução do Acesso
Você já deve ter ouvido que o câncer é um conjunto de centenas – talvez milhares – de doenças diferentes. Diante disso, um grande desafio é oferecer o tratamento mais adequado para cada paciente e, acima disso, evitar que casos mais simples se agravem por falta de cuidados.
Durante o Fórum SAÚDE – A Revolução do Acesso, que teve o apoio da farmacêutica Bristol-Myers Squibb, o advogado Tiago Matos, do Instituto Oncoguia, palestrou sobre como muitos pacientes com um tumor passam meses esperando o início da terapia mesmo após o diagnóstico. “A lei dos 60 dias, que obriga as instituições públicas a começarem o tratamento em até dois meses, não é cumprida em vários casos”, lamentou. “Aprendemos nesses cinco anos de sua vigência que nenhuma lei faz mágica. Precisamos monitorar melhor os casos de câncer e criar estruturas para atender a população”.
Já a médica Rachel Riechelmann, chefe do Departamento de Oncologia Clínica do A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo, focou na otimização dos recursos terapêuticos que temos à disposição. “Se, por exemplo, conseguirmos detectar o câncer mais precocemente na população, aumentaremos as chances de cura e economizaremos dinheiro”, disse, durante sua palestra.
Veja: um tumor detectado nos seus primeiros passos várias vezes pode ser removido do corpo com uma cirurgia, eventualmente complementada com sessões de quimio e radioterapia. Sim, estamos falando de boas chances de cura a partir de armas mais tradicionais e baratas.
Já se essa mesma doença avança e se espalha pelo organismo, os médicos provavelmente terão de recorrer a diversas intervenções custosas para prolongar a vida do paciente. Em outras palavras, ao pegarmos os cânceres mais cedo, garantiremos inclusive uma economia que poderia ser direcionado na utilização de remédios modernos para a parcela da população com casos mais graves.
Rachel ainda destacou a importância de valorizar a pesquisa clínica no país: “No Brasil, os voluntários que entram nesses protocolos para testar um medicamento não pagam nada. E os estudos são relativamente seguros, porque essas drogas experimentais já foram testadas em outras situações”. É um jeito de garantir um bom tratamento de graça.
De acordo com ela, os estudos mostram que menos de 1% dos participantes desses trabalhos sofrem com reações adversas graves. “O risco é bem menor do que o de não se tratar”, comparou Raquel.
O papel da inteligência artificial hoje
Quem também discursou sobre o assunto durante o Fórum SAÚDE foi Mariana Perroni, médica da IBM envolvida no projeto Watson, um programa de inteligência artificial que pode revolucionar o diagnóstico e o tratamento de diversas doenças.
De acordo com ela, hoje o ritmo de produção científica supera, em muito, a capacidade de os profissionais de saúde interpretarem essas novas informações e ajustarem a conduta a partir delas. “Hoje, conseguimos analisar 0,5% dos dados disponíveis. Estamos pagando o preço de não saber”, afirmou.
Aí entra a tal inteligência artificial. Desde que “ensinados”, os computadores modernos podem consolidar essas informações e oferecer rapidamente possíveis soluções baseadas em evidências científicas. O médico, então, ganha tempo e assertividade em suas escolhas.
Parece coisa futur��stica? Pois o Watson já rende frutos hoje. No Instituto do Câncer do Ceará, por exemplo, ele entrou em cena desde o fim de 2017. E acelerou a criação de planos terapêuticos adequados ao ponto de aumentar em 30% a capacidade de novos pacientes, segundo Mariana.
Já o laboratório Fleury Medicina e Saúde anunciou recentemente um teste que se vale da tecnologia IBM Watson for Genomics. Chamado de Oncofoco, ele consiste no mapeamento genético da doença em pessoas com câncer que não estão respondendo bem ao tratamento. A partir daí, o programa de inteligência artificial identifica alternativas medicamentosas ou mesmo estudos clínicos em andamento com drogas que poderiam beneficiar esse pessoal.
“Não será uma coisa que vai garantir um acesso adequado. Mas, se cada uma área para propor mudanças, aos poucos a gente verá melhorias”, concluiu Tiago Matos.