O câncer de próstata é alvo de campanhas anuais, mas há um tipo de tumor masculino que também é preocupante e ainda mais comum nos jovens: o de testículo. Apesar da baixa mortalidade, ele interfere diretamente na fertilidade e na autoestima dos homens.
Na maioria das vezes, ele aparece entre 15 e 34 anos. Para ter ideia, são registrados, anualmente, 74 mil casos no mundo. Em nosso país, a doença faz 3,3 mil novas vítimas todo ano, o que infelizmente nos coloca como campeões da América Latina nesse quesito, segundo a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde.
Não há um motivo claro para o câncer de testículo afetar os mais jovens. “Há tumores mais prevalentes de acordo com a faixa etária, e eles costumam estar relacionados a alterações genéticas herdadas ou mutações que são adquiridas durante a vida”, explica o cirurgião oncológico Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador dos departamentos cirúrgicos oncológicos da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Como aconteceu com outras doenças, o câncer de testículo foi menos diagnosticado durante a pandemia, já que os homens deixaram de visitar o médico.
Mas, antes da crise sanitária, o diagnóstico já costumava demorar mesmo, porque é comum associar os sintomas a alguma doença venérea ou trauma recente.
“Os principais sintomas são aumento do testículo ou a presença de um nódulo [caroço] palpável. Geralmente, essas manifestações são indolores. Em menos de 10% dos casos há desconforto. Daí porque o quadro tende a ser confundido com alterações infecciosas ou inflamatórias, como traumas ou orquiepididimites [inflamação de origem bacteriana]”, relata o oncologista.
O autoexame é o primeiro passo para detectar a neoplasia. “É a forma mais fácil de suspeitar de uma alteração testicular e pode ser realizado durante o banho, com toques rápidos durante a higiene íntima. Uma vez constatada alguma mudança, o paciente deve ir ao médico, que prosseguirá com a investigação”, explica Guimarães.
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O que aumento o risco do câncer no testículo
- Idade: a maioria dos casos ocorre entre 15 e 50 anos. Mas é mais comum na faixa dos 15 aos 34
- Raça: Os homens brancos têm de 5 a 10 vezes mais risco de desenvolver a doença
- Herança genética: Quando há história familiar, o risco é aumentado
- Criptorquidia: Condição na qual o testículo não desceu para o escroto. Homens que fizeram cirurgia para corrigir esse problema também têm risco maior
- Síndrome de Klinefelter: o transtorno cromossômico sexual é caracterizado por baixos níveis de hormônios masculinos, esterilidade, aumento dos seios e testículos pequenos
- Vírus da imunodeficiência humana (HIV)
E a fertilidade, como fica?
O câncer de testículo, quando flagrado precocemente, é altamente curável e apresenta baixo perigo de mortalidade. Mas o tratamento e a própria doença têm grande potencial de prejudicar a fertilidade do homem. Isso ocorre porque o quadro interfere diretamente nos níveis de testosterona.
“Boa parte dos pacientes com esse tumor é infértil ou subfértil”, conta Guimarães. Naqueles que ainda não são 100% inférteis, a remoção de um testículo pode ser o fator decisivo nessa direção. Fora que o procedimento traz impactos psicológicos para os pacientes.
Quando o homem ainda deseja ter filhos, é importante discutir opções de tratamento com o médico. Segundo a Sociedade Americana de Câncer, é aconselhável que o indivíduo guarde espermas em um banco antes de iniciar as intervenções.
A maioria dos tumores ocorre em apenas um testículo e, se ele precisar ser removido, a fertilidade costuma retornar dois anos após o tratamento. Quando aparece nos dois, é preciso repor hormônios com medicamentos.
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Sintomas do câncer no testículo:
- Nódulo pequeno, duro e indolor
- Mudança na consistência dos testículos
- Sensação de peso no saco escrotal
- Dor incômoda no baixo ventre ou na virilha
- Dor ou desconforto no testículo ou no saco escrotal
- Crescimento da mama ou perda do desejo sexual
- Crescimento de pelos faciais e corporais em meninos muito jovens
- Dor lombar
Tratamento
Quimioterapia, radioterapia e cirurgia são os tratamentos disponíveis contra o câncer de testículo. Um procedimento chamado orquiectomia é realizado quando há necessidade de remover o órgão atingido a partir de uma incisão na virilha.
“Na operação, amostras de tecido são examinadas para determinar o estágio do câncer. Os tumores de testículo mais comuns [conhecidos como seminoma] são tratados com cirurgia, que muitas vezes é associada a radioterapia ou quimioterapia. Tudo depende da fase de descoberta da doença”, esclarece o cirurgião oncológico.
Tipos de câncer de testículo:
+ Tumores de células germinativas ou seminoma: ocorrem nas células que fabricam os espermatozoides.
+ Tumores estromais: ocorrem no tecido testicular, onde hormônios são produzidos.