O novo coronavírus (Sars-Cov-2) parece se espalhar mais lentamente em países onde a temperatura é elevada. É o que mostra um novo estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.
Os cientistas compararam a velocidade de crescimento da epidemia nas regiões frias e quentes. Na Noruega, por exemplo, o número de casos saltou, em cerca de uma semana, de 40 a cada milhão de habitantes (medida usada pelos pesquisadores para uniformizar dados globais) para mais de 120 na mesma fatia populacional.
Já na Austrália, país que está no verão, a curva sobe mais devagar. A taxa de infecções em uma semana do mês de março passou de 15 para 20 por milhão de pessoas. Os dados foram colhidos até 21 de março, época em que o Brasil apresentava menos de mil casos de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.
O estudo mostra ainda que, em locais com surtos mais severos, como Irã e Itália, além de certas regiões chinesas e norte-americanas, a temperatura atual varia entre 3 e 17 °C. E, segundo os autores, cerca de 90% dos casos de Covid-19 registrados no planeta são de áreas onde a média atual é de até 11 °C.
Por outro lado, menos de 6% das ocorrências globais foram registradas em regiões com médias acima de 18 °C. Os achados foram publicados no periódico Social Science Research Network.
Calor não é garantia de proteção contra o coronavírus
Ao analisar esses dados, é importante ponderar que muitos países do Hemisfério Sul, como o próprio Brasil, ainda realizavam seus primeiros testes quando o trabalho do MIT foi feito. Sem falar que, em comparação a outras nações, nós estamos apenas no começo da epidemia, e com dados já preocupantes.
A verdade é que existem poucos estudos sobre a relação entre o clima e o novo coronavírus. Para chegar a conclusões mais fidedignas, muitos outros trabalhos precisam aparecer.
O que se sabe é que vírus respiratórios, como o influenza, da gripe, costumam ser mais incidentes no inverno. “Mas isso é mais pelo fato de ficarmos em ambientes fechados nessa época, o que facilita a contaminação”, aponta Adriano Massuda, médico professor da FGV-EASP e pesquisador da T.H. Chan School of Public Health, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
Isso não significa que o influenza desapareça no verão. Fatores comportamentais e densidade populacional parecem pesar bastante na velocidade de transmissão, mesmo em surtos de outros vírus. “Você pode viver em uma região de clima quente, mas circular em locais fechados com ar condicionado e aglomerações, aumentando o risco da mesma maneira”, completa Massuda.
Cidades do Norte e Nordeste, por exemplo, já enfrentaram surtos de gripe ligados aos períodos de chuva, talvez pelo fato de obrigarem o convívio em ambientes fechados. São Paulo também vive epidemias periódicas de influenza no final do verão.
É diferente da dengue, onde há uma relação muito mais direta com temperaturas elevadas, que favorecem a reprodução do Aedes aegypti, o mosquito vetor da doença.
Por essas e outras, não dá para dizer que o calor será capaz de frear a incidência da Covid-19. Os próprios autores ressaltam que os resultados não sugerem “de jeito nenhum” que o Sars-Cov-2 não se espalhará em climas quentes. Medidas como o isolamento social e higienização frequente das mãos são, até agora, as mais eficazes para desacelerar sua propagação.