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Banhos de imersão em água gelada podem provocar pedras nos rins?

Popular entre atletas e influenciadores, a prática do ice bath exige atenção com a hidratação — especialmente em quem já tem predisposição a pedras nos rins

Por João Douglas Gil, fisioterapeuta, via Brazil Health*
Atualizado em 1 jul 2025, 16h16 - Publicado em 1 jul 2025, 16h13
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Banheira de gelo pós-atividades intensas virou moda nas redes sociais  (Ivan Rodriguez Alba/Getty Images)
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Nos últimos anos, os banhos de imersão em água gelada, também conhecidos como ice baths ou cold-water immersion (CWI), ganharam enorme popularidade. Celebridades, atletas e influenciadores têm exaltado seus benefícios, que iriam de melhora do humor a redução de dores musculares pós-treino.

No entanto, junto com a fama, surgiram também os alertas: será que a exposição frequente ao frio pode trazer riscos à saúde, como o desenvolvimento de cálculos renais?

Recentemente, o jornal britânico The Guardian publicou o relato de um jovem treinador de performance que, após meses de banhos gelados diários, desenvolveu pedras nos rins. Segundo o artigo, seu urologista sugeriu que a repetida exposição ao frio pode ter acentuado um quadro de desidratação e desequilíbrio eletrolítico, contribuindo para a formação dos cálculos.

Esse relato trouxe à tona um tema ainda pouco explorado pela ciência, mas digno de reflexão.

O que diz a ciência sobre os benefícios do banho de gelo?

Uma revisão sistemática e meta-análise publicada na PLOS ONE em 2025 analisou 11 estudos com mais de 3 mil participantes. Os autores concluíram que a imersão em água fria pode reduzir o estresse, melhorar o sono e até a qualidade de vida, mas também provoca um aumento agudo em marcadores inflamatórios, especialmente quando realizada de forma intensa e regular.

Além disso, a literatura demonstra que o frio extremo induz vasoconstrição, seguido por uma diurese aumentada — ou seja, o corpo excreta mais água e sais minerais após a exposição ao frio. Embora isso possa ter efeitos desejáveis (como a redução de edemas), também pode levar à desidratação, um fator conhecido na formação de cálculos renais.

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Qual a relação entre desidratação e pedras nos rins?

Segundo uma meta-análise publicada no Journal of Nephrology, a alta ingestão de líquidos está associada a uma redução de até 60% no risco de cálculos renais. O raciocínio é simples: quanto mais diluída estiver a urina, menor a chance de formação de cristais que originam as pedras.

Portanto, se os banhos frios induzem uma perda líquida adicional por diurese, sem a devida reposição hídrica, o ambiente interno pode se tornar propício à formação de cálculos — especialmente em pessoas predispostas ou com hábitos inadequados de hidratação.

O que sabemos (e o que não sabemos)

É importante destacar que, até o momento, não há estudos científicos que comprovem, com rigor, que os banhos de gelo causam cálculos renais.

As evidências disponíveis são fisiológicas e clínicas, baseadas no entendimento dos mecanismos corporais e em relatos isolados, como o citado pelo The Guardian.

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Ou seja, apesar de plausível do ponto de vista biológico, essa associação ainda não foi demonstrada em estudos controlados, o que impede qualquer afirmação definitiva sobre causa e efeito.

Cuidados e recomendações:

Se você faz uso regular de banhos de gelo ou pensa em adotá-los, considere estas orientações:

  • Hidrate-se bem antes e depois da imersão;
  • Evite sessões prolongadas e diárias, especialmente sem orientação profissional;
  • Fique atento a sinais como dores lombares, alteração na urina ou desconforto ao urinar;
  • Pessoas com histórico familiar de cálculos renais devem consultar um nefrologista antes de iniciar essa prática com frequência.

Os banhos de gelo podem, sim, oferecer benefícios à saúde física e mental, desde que realizados com moderação, consciência e acompanhamento.

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No entanto, é preciso lembrar que nem tudo que é tendência nas redes sociais é isento de riscos — e a ciência ainda tem muito a investigar sobre os efeitos a longo prazo dessa prática. Enquanto isso, manter a hidratação adequada, escutar os sinais do corpo e adotar uma abordagem equilibrada continua sendo o melhor caminho no frio ou no calor.

* João Douglas Gil é fisioterapeuta e Head Nacional de Fisioterapia da Brazil Health

(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)

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