O Sars-CoV-2, causador da Covid-19, é chamado de “novo” coronavírus porque ele faz parte de uma família maior, que possui membros já conhecidos pelos cientistas. Alguns desses familiares provocaram doenças em seres humanos – chegando a gerar surtos. Porém, não se disseminaram a ponto de resultar em uma pandemia como a que estamos vivendo agora.
Abaixo, conheça os outros coronavírus que já circularam (ou circulam) por aí e suas particularidades.
Mers-CoV, Sars-CoV e Sars-CoV-2: a família dos coronavírus
Antes de tudo, é bom lembrar que os coronavírus atingem várias espécies de animais. Da família, sete tipos afetam a nós, seres humanos. Quatro levam apenas a resfriados. Os três restantes, por sua vez, causam sérios problemas respiratórios.
O virologista Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), conta que, até 2002, só dois eram conhecidos – e estavam relacionados a resfriados.
“Eles eram considerados patógenos de menor importância para a população humana. Até que, em 2002, encontraram na China um vírus respiratório de grande letalidade”, relata. Para ter ideia, a taxa de mortalidade alcançava 10%.
Essa versão levou a um surto da chamada síndrome respiratória aguda grave (ou Sars) na China. Por isso, o vírus ganhou o nome de Sars-CoV. A Sars acometeu mais de 8 mil pessoas em vários países e matou 800 indivíduos. Contudo, desde 2004 nenhum novo caso aconteceu no mundo. A doença é considerada erradicada.
Depois de 2002, foram encontrados mais dois tipos, também causadores de resfriados leves. “Essa descoberta deu uma boa acelerada nas pesquisas focadas nessa família”, contextualiza Brandão.
Durante 10 anos, não tivemos nenhum surto desses agentes infecciosos. Aí, em 2012, surgiu mais um parente, dessa vez na Arábia Saudita. Ele provocava a mesma pneumonia viral vista na Sars, só que matava mais.
A nova enfermidade foi batizada de síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers) e o vírus recebeu o nome de Mers-CoV.
“Ele chamou atenção, mas não motivou grande preocupação em termos de saúde pública porque ficou restrito àquela região”, informa o virologista.
Ao contrário da Sars, a Mers ainda é uma realidade. E não só no Oriente Médio: há relatos de casos na Europa e na América do Norte. Cerca de 35% dos atingidos vão à óbito.
O sétimo e último membro da família (até o momento) você deve conhecer melhor. Ele apareceu no fim de 2019, em Wuhan, na China. Por ser muito similar ao Sars-CoV, foi batizado de Sars-CoV-2. Já a doença que ele causa é chamada de Covid-19.
O índice de mortalidade gira em torno de 3% e 4% – isso varia de um lugar para outro. “Só que ele atua no organismo de um jeito que ninguém tinha visto antes”, aponta Brandão.
“Os anteriores eram essencialmente respiratórios. Já esse novo coronavírus ocasiona, em conjunto, problemas renais, cardíacos e nervosos, além de alterações na coagulação do sangue”, enumera o professor.
Apesar de levarem a consequências diferentes, todos os coronavírus humanos têm a mesma origem: os morcegos. “Em algumas situações, há um hospedeiro intermediário. Na Mers, por exemplo, são os dromedários”, acrescenta Brandão.
Como os coronavírus são transmitidos
Em todos os casos, a doença é passada adiante por gotículas de tosse ou espirro – elas são transportadas pelo ar. A contaminação também pode ser indireta, como quando tocamos em uma superfície infectada e, em seguida, levamos a mão aos olhos, à boca ou ao nariz.
Na Mers, o contágio ainda acontece por meio do contato com a saliva, a urina ou as fezes de dromedários.
“A taxa de transmissão varia porque não está relacionada ao microorganismo em si, mas à imunidade do hospedeiro, à densidade populacional da região e às medidas de controle tomadas”, aponta Brandão.
Quais os sintomas
Tanto a Sars quanto a Covid-19 são marcadas por sinais similares aos de outras doenças respiratórias, como febre, dor de cabeça e no corpo, tosse seca e dificuldade para respirar – só que mais graves. Eles dão as caras de dois a 14 dias após a contaminação.
A Mers é bem parecida, mas parte dos pacientes também apresenta náuseas, vômitos e diarreia.
Os demais coronavírus provocam sinais de resfriados comuns: secreção e congestão nasal, espirros e febre leve.
“É bom lembrar que o período de incubação do Sars-CoV-2, em geral, é mais longo. Ele acaba sendo transmitido por semanas sem que o indivíduo sequer tenha sintomas”, alerta o especialista.
Como é o diagnóstico
Nos resfriados, normalmente ele é realizado com base nos sintomas. Para todas as outras enfermidades, colhe-se uma amostra de secreção nasal e oral com o swab – aquela espécie de cotonete. “Ali, se procura pedaços de genoma do vírus. É o chamado RT-PCR. Isso vai dizer se a pessoa estava infectada naquele momento”, esclarece o profissional.
Agora, para saber se o indivíduo teve contato prévio com o vírus, há o exame de sangue, indicado para detectar a presença de anticorpos – eles são a prova de que o corpo já produziu uma resposta contra a infecção.
“Mas ter anticorpo não significa necessariamente que se está protegido. Os coronavírus têm um padrão de reinfecções sucessivas. A imunidade normalmente é de curta duração”, pondera Brandão.
Quais são os grupos de risco
As pessoas com maior possibilidade de sofrer com Covid-19, Sars e Mers são as mesmas: idosos e portadores de doenças crônicas. Isso porque o sistema imunológico dessa turma é mais debilitado.
Por outro lado, os coronavírus que causam resfriados são mais perigosos para as crianças. “Nos adultos, eles não preocupam. Mas, na meninada eles são capazes de levar a processos respiratórios mais severos”, avisa o professor.
Como é o tratamento
Por serem infecções virais, todas elas têm cura, já que o corpo naturalmente elimina o vírus. No entanto, não há nenhum tratamento específico para resolver logo a situação. Para quem desenvolve a forma leve, o indicado é repousar, se alimentar bem e ingerir bastante líquido.
Nos quadros graves, os sintomas são controlados através de uma série de medidas que variam de paciente para paciente.
Como prevenir
Independente do tipo de coronavírus, as melhores formas de protegermos uns aos outros é higienizando as mãos constantemente com água e sabão (ou álcool em gel), utilizando máscaras faciais e mantendo o distanciamento social.
No caso da Mers, devido ao risco de transmissão pelas gotículas de dromedários, é importante evitar o contato com eles. Para quem planeja ir ao Oriente Médio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) inclusive recomenda a consulta de um guia disponível em seu site. Há orientações para a viagem no material.
Não existe vacina para nenhuma dessas infecções. Mas, devido ao impacto da Covid-19 no mundo todo, a corrida para um imunizante contra o Sars-CoV-2 anda particularmente acelerada.
Por que os surtos de Sars e Mers não se tornaram pandemias?
Existem algumas razões para a Sars e a Mers não terem culminado em uma pandemia como a que estamos vivendo neste momento com a Covid-19.
Brandão explica que a Sars ficou restrita aos hospitais, então foi mais fácil implantar as medidas de controle. O fato de se ter clareza sobre quem era o hospedeiro intermediário tanto da Sars quanto da Mers também ajudou.
“O terceiro fator é a questão da alta letalidade. Em geral, quanto maior ela é, menor a taxa de transmissão”, raciocina o virologista. Ora, se um vírus matar muito e rápido, sobra menos tempo para um indivíduo infectado passá-lo adiante.
O Sars-CoV-2, nosso inimigo atual, mata menos. Logo, sua situação é mais favorável: ele pula de uma pessoa para outra com mais facilidade.
Portanto, enquanto não tivermos uma vacina disponível, a melhor forma de combatê-lo é respeitando as medidas preventivas. Água, sabão, máscaras e distanciamento social ainda são nossos melhores aliados.