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Arenavírus: o que se sabe sobre o novo vírus que causa febre hemorrágica

Um caso de febre hemorrágica brasileira em SP foi revelado pelo Ministério da Saúde. Conheça o agente infeccioso por trás da doença e o risco de transmissão

Por André Biernath
Atualizado em 4 nov 2020, 09h44 - Publicado em 21 jan 2020, 14h35

No dia 30 de dezembro de 2019, um homem de 53 anos foi a um pronto-socorro no interior paulista com queixas características de febre amarela. Os exames, porém, não confirmaram a doença. Num intervalo de 12 dias, ele passou por outros dois hospitais antes de morrer. Análises genéticas avançadas encontraram uma surpresa: o causador do quadro, chamado de febre hemorrágica brasileira, foi o arenavírus, que não aparecia no Brasil há mais de 20 anos. A confirmação desse caso, mesmo que seja única, é considerada grave pelas autoridades sanitárias.

Separamos abaixo as principais perguntas e respostas a respeito do tema, com informações do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde e do patologista João Renato Rebello, coordenador do Laboratório de Técnicas Especiais do Hospital Israelita Albert Einstein, um dos responsáveis pela descoberta:

O que é o arenavírus?

Os resultados dos testes realizados no Hospital Israelita Albert Einstein mostram que se trata do Mammarenavirus, um gênero pertencente à família Arenaviridae, ou arenavírus.

De forma genérica, os vírus são divididos em famílias. Dengue, zika, chikungunya fazem parte da turma das arboviroses. “Os arenavírus são outro grupo, que havia sido encontrado no Brasil na década de 1990 e estão associados com uma síndrome chamada febre hemorrágica brasileira, marcada por febre, icterícia e sangramentos”, explica Rebello.

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Como ele foi descoberto?

O caso notificado na segunda, dia 20 de janeiro, aconteceu com um homem de 52 anos, cujo nome não foi divulgado. Ele morava no interior paulista e passou as férias no Vale do Ribeira, região no sul do estado de São Paulo. Os sintomas iniciais foram febre, hemorragia, confusão mental e inflamação no fígado. O paciente passou por dois hospitais antes de ser encaminhado para o Hospital das Clínicas, na capital, onde faleceu no dia 11 de janeiro.

A suspeita inicial era de febre amarela — afinal, estamos na época de maior atividade desse vírus. “Pesquisamos ainda a presença de hepatites A, B, C, D e E, além de zika, chikungunya e dengue. Tudo negativo”, relata Rebello.

Foi então que os especialistas partiram para um novo método chamado viroma/metagenômica, que está sendo validado pelo Hospital Israelita Albert Einstein. A técnica analisa o material genético do agente infeccioso. Foi assim que o arenavírus foi flagrado.

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Há outros casos recentes de febre hemorrágica brasileira relatados?

Por enquanto, não. Mas o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo estão monitorando todos os profissionais que tiveram contato com o paciente, assim como a sua família.

Os últimos episódios conhecidos da síndrome ocorreram na década de 1990 nas cidades de Cotia e Espírito Santo do Pinhal, ambas em São Paulo. Uma mulher de 25 anos e um homem de 32 anos morreram. Outras duas pessoas foram infectadas em laboratório.

Como é a transmissão?

Sabe-se que o vírus passa por meio da inalação de partículas presentes na urina, nas fezes ou na saliva de ratos e outros roedores infectados. A transmissão entre humanos pode ocorrer por meio do contato muito próximo e constante com um indivíduo infectado, principalmente em hospitais. Sangue, urina, fezes, saliva, vômito, sêmen e outras secreções desses pacientes trazem o arenavírus. Se não forem usados equipamentos de proteção nesses ambientes, o risco aumenta.

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O arenavírus encontrado é o mesmo dos anos 1990?

A análise realizada conseguiu vasculhar todo o material genético do vírus. “Sabemos que há uma similaridade de 88% entre a versão atual e a anterior, detectada há 20 anos”, informa Rebello. Como ele não é idêntico, novos estudos vão determinar com mais detalhes quais suas diferenças e qual o risco que isso representa.

O que ele provoca no corpo?

O vírus fica incubado no corpo entre 7 a 21 dias. Os sintomas começam com febre, mal-estar, dores musculares, manchas vermelhas na pele, dores na garganta, no estômago, atrás dos olhos e na cabeça, sensibilidade à luz, constipação, tonturas e sangramentos na boca e no nariz. Se o quadro evolui, há consequências neurológicas, como sonolência, confusão mental, mudanças no comportamento e convulsão.

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Há tratamentos específicos?

Não existe nenhum remédio que bloqueie ou elimine esse vírus. O que os médicos fazem é amenizar os sintomas que aparecem.

Quais são os próximos passos?

As autoridades brasileiras já notificaram órgãos internacionais como a Organização Mundial da Saúde. Amostras do vírus também foram encaminhadas para o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, órgão dos Estados Unidos que possui laboratórios destinados a pesquisar agentes infecciosos com segurança e rapidez.

Como dito numa pergunta acima, os especialistas brasileiros estão acompanhando os profissionais de saúde e os parentes do homem de 53 anos que apresentou a doença. Se mais algum caso aparecer, eles vão divulgar para toda a sociedade.

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E o que nós podemos fazer?

Por enquanto, nada de pânico ou histeria. O caso encontrado é grave, mas tudo está sendo feito para conter a ameaça em sua origem. No mais, vale ficar atento aos sintomas e, se notar algo suspeito, procurar um hospital com rapidez.

“Falamos de um vírus encontrado em ambiente silvestre, em regiões específicas. Ele não é transmitido por mosquitos e não deve ter o mesmo impacto de outros com os quais lidamos com mais frequência, como a dengue”, esclarece Rebello.

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