A perda do prazer em fazer coisas que costumavam agradar e alegrar tem nome: anedonia, um dos sintomas característicos da depressão.
Essa redução ou ausência de prazer em atividades que antes geravam interesse e satisfação pode ser um sentimento passageiro, mas, quando perdura por semanas ou meses, é associada a depressão, esquizofrenia e outros transtornos mentais.
Agora, a ciência investiga os mecanismos neurológicos associados à anedonia, para descobrir como ela influencia outros quadros que afetam a saúde mental. Algumas pesquisas apontam que a anedonia, enquanto sintoma, é um dos fatores preditivos para episódios depressivos mais duradouros.
Qual o significado de anedonia?
Você provavelmente sabe que hedonismo significa a busca por prazer – e nomeia toda uma doutrina filosófica movida por este fim. Daí, dá para deduzir que do grego, a palavra anedonia traz um significado contrário: a perda do prazer, da alegria ou do desejo.
De forma geral, a anedonia pode ser descrita também como uma diminuição da libido – entendida de forma ampla como uma energia que não é apenas sexual, mas que leva as pessoas a buscarem prazer em diferentes atividades.
Embora essa separação não seja consenso, alguns pesquisadores propõem uma classificação da anedonia em: anedonia social, quando não há prazer em encontrar ou conviver com outras pessoas; e anedonia física, que diz respeito à falta de prazer relacionado a sensações físicas como comer, escutar música, ter contato físico e manter atividades sexuais.
Vale fazer uma distinção. Embora anedonia e ansiedade possam estar associadas, a anedonia social é distinta da ansiedade social. Enquanto na ansiedade social o sujeito fica relutante em comparecer a eventos sociais porque tem medos e preocupações ligados ao que pode ocorrer na situação, na anedonia social a pessoa evita socializar porque percebe que não vai sentir qualquer satisfação ao estar em contato com os outros.
A anedonia também é diferente da apatia: a apatia se refere ao desinteresse generalizado em qualquer acontecimento da vida, já a anedonia se trata da perda do interesse que antes era associado com determinadas atividades. Mas é possível sentir ambas ao mesmo tempo.
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Quais os sinais de anedonia?
A anedonia não é considerada uma doença por si só, mas um sintoma de outras condições. Essa sensação de falta de prazer pode aparecer junto de:
- Tédio;
- Sensação de anestesiamento;
- Apatia;
- Dificuldade para dormir;
- Baixo desejo sexual.
O que causa anedonia?
A investigação científica sugere que, biologicamente, a anedonia está ligada a um problema no sistema de recompensa cerebral. Por isso, uma das relações analisada pelos cientistas é a da regulação da anedonia com a dopamina – neurotransmissor conhecido como hormônio da felicidade ou prazer.
A própria definição de anedonia varia ao longo da história da psiquiatria. Hoje, ela é considerada um dos principais sintomas do transtorno depressivo maior.
Quadros de transtorno bipolar, esquizofrenia e doença de Parkinson também são associados à anedonia, assim como a síndrome do estresse pós-traumático. O abuso de substâncias é outra causa para o surgimento dessa sensação – especialmente em momentos de abstinência, a sensação de falta de prazer pode aparecer.
Em casos de doenças crônicas, a anedonia se manifesta junto da fadiga e afeta a qualidade de vida.
Anedonia tem cura?
Assim como a depressão, a anedonia pode ser manejada com tratamento que inclui psicoterapia e uso de medicamentos antidepressivos.
Se a anedonia é passageira, ela pode ser apenas um sinal de que algo não está mais ajustado na vida – você pode parar de sentir prazer ao realizar as tarefas do trabalho, por exemplo, porque na realidade desejava estar em outro emprego. Mas se é duradoura, pode diminuir a qualidade de vida.
Em qualquer um dos casos, o acompanhamento com psicólogo pode ajudar. Mudanças de estilo de vida, como a prática frequente de exercícios físicos, são outra recomendação.
Ao buscar um psiquiatra para tratar do problema, alguns exames também podem ser solicitados, já que a deficiência de vitamina B12 e D, bem como o hipotireoidismo podem provocar sintomas similares aos da depressão.
A linha de tratamento varia caso a caso. A presença da anedonia pode inclusive servir como fator para designar o melhor tipo de antidepressivo para cada um. Apesar dos mecanismos neurológicos associados à anedonia ainda serem pouco conhecidos, já existem alguns indícios de que antidepressivos que atuam sobre a dopamina sejam mais efetivos para quem tem anedonia.