O Abril Marrom é o mês de conscientização sobre a cegueira. Diversas doenças têm a perda da visão como consequência, e a melhor maneira de preveni-las é com visitas regulares ao oftalmologista.
No topo da preocupação estão o glaucoma, que pode causar perda de visão irreversível sem apresentar sintomas, e a catarata, problema também silencioso, mas tratável.
Além disso, esse mês vem para lembrar que cuidar da saúde ocular é enxergar melhor o todo o corpo. O oftalmologista pode desconfiar de outras doenças ao analisar os olhos. Por outro lado, males crônicos como hipertensão, diabetes e reumatismo também ameaçam a vista.
“Por meio da luz, os olhos colaboram com a produção de hormônios e saúde do metabolismo. Além disso, 85% do nosso relacionamento com o meio ambiente ocorre pela visão. Por isso, a deficiência visual tem um custo social grande e a inclusão dos portadores é difícil”, reflete Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista e presidente do Instituto Penido Burnier.
Principais cuidados para proteger os olhos
Cada fase da vida exige um cuidado especial. “Começa no berçário, com o teste do olhinho, depois vem a fase escolar, quando a criança pode não enxergar, mas não comunica isso aos pais, e o acompanhamento anual após os 40 anos, para quem não tem um problema que exija idas periódicas ao consultório antes disso”, lembra Queiroz Neto.
No dia a dia, é bom saber usar o sol a favor da retina. Precisamos de luz, mas o excesso também agride. Óculos que tenham filtro ultravioleta, mesmo os de grau, podem ajudar quem fica mais exposto. “Eles não precisam ser os solares para ter essa função, que é invisível na lente”, explica o presidente do Instituto Burnier.
Outro cuidado é com a automedicação com colírios. “Qualquer produto tem um princípio ativo. Até para quem está com o olho seco há prescrições bem específicas, porque o problema envolve o desequilíbrio em diferentes camadas do filme lacrimal”, alerta Queiroz Neto.
Os olhos foram esquecidos na pandemia
Como em todas as outras áreas, a saúde ocular ficou abandonada durante a pandemia. Um estudo da Unicamp aponta uma queda de 92% nas consultas clínicas ambulatoriais durante o isolamento.
Também foram reduzidos em 94% os exames de campo visual, em 73% os procedimentos cirúrgicos e em 20% a quantidade de medicamentos oftalmológicos distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
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Além disso, a própria Covid-19 pode levar a sequelas nos olhos, e a doença foi relacionada a diferentes formas de lesões na retina.
Glaucoma
O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo, afetando mais de 76 milhões de pessoas em 2020. No Brasil, estima-se que 3,1% da população seja afetada pela doença, segundo dados divulgados pelo Hospital das Clínicas da Unicamp.
A doença vai reduzindo o campo de visão da pessoa de maneira imperceptível até chegar à cegueira. Isso é provocado, na maioria dos casos, pela alta pressão ocular, que lesiona os nervos responsáveis por levar informações do olho ao cérebro.
“Há quem desenvolva glaucoma com a pressão normal, mas a probabilidade de ter a doença é maior em quem tem medições acima de 21 mmHg”, esclarece Vital Paulino Costa, oftalmologista e chefe do setor de glaucoma da Unicamp.
Pode acontecer com qualquer pessoa, mas há fatores de risco. “Ele é mais frequente a partir dos 40 anos, quando há uma prevalência de 2%. Essa proporção sobe para 5% acima dos 70 anos”, explica Vital.
Há ainda o fator genético, que faz aumentar de oito a dez vezes a probabilidade da doença surgir. Quem tem miopia com grau acima de seis e os que convivem com o diabetes também precisam ficar mais atentos.
“Ainda não há uma explicação formal do porquê, mas pessoas negras também têm mais probabilidade de sofrer de glaucoma ao envelhecer”, conta o oftalmologista da Unicamp.
Há diversos exames para chegar ao diagnóstico do glaucoma. Após medir a pressão ocular, é feito um OCT (tomografia de coerência óptica) que mede a espessuras das fibras óticas com a função de verificar se há uma redução delas. Outro exame avalia o campo visual.
“E, hoje, uma plataforma reúne dados dessas três análises e ajuda o médico a bater o martelo”, relata Vital.
Antes de decidir o tratamento, o médico verifica o nível de progressão da doença. “Tem paciente que consegue contar os dedos e outros que só veem vultos. É possível agir para que a perda de visão não avance ainda mais, exceto quando o indivíduo já perdeu a percepção de luz. Nesse caso, não há mais como intervir”, explica o professor da Unicamp.
BUSCA DE MEDICAMENTOS
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Colírios que atuam na pressão ocular são os mais utilizados para o tratamento, o problema é o valor desses medicamentos. “A cirurgia pode ser uma opção para os que têm intolerância a essas substâncias ou até mesmo falta de acesso por questões financeiras”, revela o professor.
Novas tecnologias como o uso de lasers já são entendidas como bem-sucedidas. Também faz parte do tratamento manter as visitas periódicas ao médico.
Catarata
A catarata é a perda de transparência do cristalino, a lente natural atrás da íris que faz o foco nas imagens. A doença está entre as principais causas de deficiência visual no mundo.
O principal motivo por trás da catarata é o envelhecimento. Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) mostram que a prevalência é de 17% antes dos 65 anos, de 47% entre 65 e 74 anos e mais de 73% quando se passa dos 75.
O problema também pode ser congênito, quando um bebê nasce com ele, ou decorrente de males crônicos (diabetes, inflamações oculares…), maus hábitos (tabagismo e alcoolismo), trauma ocular, exposição prolongada à radiação ultravioleta sem proteção e uso de certos medicamentos (em especial os corticoides).
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A solução é a cirurgia, que remove a opacidade intraocular e restaura a nitidez das imagens, proporcionando melhor qualidade de vida.
Como surgiu o Abril Marrom e por que a cor foi escolhida?
“O marrom foi escolhido porque representa a cor de íris mais comum nos olhos dos brasileiros”, afirma Costa.
Já o mês foi selecionado para coincidir com o Dia Nacional do Braille (dia 8 de abril), data de nascimento de José Álvares de Azevedo, professor que trouxe o alfabeto braile ao Brasil. Ele morreu em 1854.