Escrito pela Dra. Mara Behlau*
A faixa das pessoas acima dos 60 anos é a que mais cresce no planeta. Em 2015, essa parcela correspondia a 8,49% da população mundial, totalizando 274 milhões de homens e 341 milhões de mulheres. Segundo a Organização das Nações Unidas, o número deve triplicar até 2050. O envelhecimento é um fenômeno que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais, e representa sinal de acesso ao sistema e às boas práticas de saúde. Sabemos que, com o avançar da idade, corpo e mente ficam mais lentos, mas hoje vemos muitos idosos ativos e participantes na sociedade. Um dos aspectos mais importantes nas relações interpessoais é a comunicação oral, que se dá por meio da fala. A voz traz a identidade de uma pessoa. E, como outras funções do organismo, também envelhece. Esse processo, chamado presbifonia, ocorre em geral a partir dos 65 anos.
A voz é produzida na laringe, órgão que fica no pescoço e abriga duas pregas vocais. Elas vibram, em média, 100 vezes por segundo nos homens e 200 vezes por segundo nas mulheres a fim de gerar a fala. Com o passar dos anos, os músculos da laringe se modificam, as cartilagens se endurecem, há menos lubrificação na região… Essas alterações tornam o sofisticado sistema de produção do som menos eficiente.
Nem todo mundo sofre de presbifonia de maneira acentuada e existem aqueles que mantêm suas vozes jovens, mesmo tendo passado dos 70. É o caso de Caetano Veloso, Roberto Carlos e Sílvio Santos. A saúde física e mental, a história de vida, aspectos próprios à constituição do indivíduo e o uso profissional da fala estão entre os fatores que interferem no envelhecimento vocal.
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Esse fenômeno ocorre de maneira diferente entre homens e mulheres. Com a idade, elas tendem a ficar com a voz mais grave (grossa) e eles, com a voz mais aguda (fina). Além disso, o decorrer dos anos torna mais comuns queixas como rouquidão, pigarro, cansaço ou desconforto para falar, menor capacidade de projetar a voz… Por vezes é preciso consultar um médico para identificar se esses sintomas não são fruto de um problema de saúde.
Há uma série de medidas que podem ser tomadas com o intuito de abrandar o envelhecimento da voz. Existe inclusive uma espécie de “academia” para as cordas vocais, o método conhecido como reabilitação vocal. Esse programa, prescrito e orientado por um fonoaudiólogo, permite recuperar parcialmente a funcionalidade da voz, deixando-a mais forte, adequada ao sexo e com maior flexibilidade para ser projetada no ambiente se o contexto exigir. O envelhecimento é inevitável, mas a qualidade de vida pode e deve ser mantida – inclusive quando a gente fala por aí.
*Dra. Mara Behlau é fonoaudióloga, professora da Universidade Federal de São Paulo e diretora do Centro de Estudos da Voz (SP)