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A pior epidemia de cólera da história está acontecendo agora

O número de pessoas infectadas pela doença aumenta em 5 mil por dia no Iêmen

Por Pâmela Carbonari, da Superinteressante
Atualizado em 14 fev 2020, 18h23 - Publicado em 6 set 2017, 09h30

Desde 2015, milícias xiitas houthis e forças governamentais disputam o poder no Iêmen. Além das mais de 13 mil vítimas, a guerra civil também destruiu a infraestrutura de água, lixo e esgoto do país. Esse foi o estopim para que, desde abril deste ano, a cólera tenha tomado conta do Iêmen. Mais de 590 mil pessoas já foram diagnosticadas com a doença e 2 mil morreram. A OMS considera o surto de cólera no Iêmen como o pior patamar já registrado.

Apesar de organizações humanitárias estarem alertas sobre o tamanho da epidemia, outro motivo de preocupação é a velocidade de contágio: a cólera se alastrou por quase todas as províncias do país devastado pela guerra e em poucos meses infecta uma média de 5 mil pessoas por dia.

“Este surto mortal de cólera é a consequência direta de dois anos de conflito pesado. Os sistemas de saúde, água e saneamento em colapso impediram 14,5 milhões de pessoas de ter acesso a água limpa e saneamento, aumentando a capacidade de disseminação da doença”, afirmou o diretor executivo do Unicef, Anthony Lake, e a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, em comunicado oficial.

O país que já era o mais pobre da região antes do conflito armado, agora, além das condições sanitárias, também enfrenta uma crise de fome. E a desnutrição contribuiu para o alastramento da cólera. As instituições estimam que as crianças correspondam a um quarto das vítimas e que o número de mortos ainda aumente.

Para piorar, os combates atingiram grande parte dos hospitais e cerca de 30 mil funcionários de saúde pública estão sem receber salário há 10 meses, deixando 15 milhões de pessoas sem acesso à serviços básicos de saúde. “Unicef, OMS e nossos parceiros estão correndo para parar a aceleração desse surto mortal. Pedimos a todas as autoridades dentro do país que paguem os salários e, acima de tudo, que ponham fim a este conflito devastador”, afirmou a OMS em comunicado.

“Os sintomas do amor são os mesmos do cólera”

“Nas duas primeiras semanas do cólera o cemitério transbordou, e não ficou um único lugar nas igrejas, apesar de haverem passado ao ossuário comum os restos carcomidos de numeroso próceres sem nome. O ar da catedral ficou rarefeito com os vapores das criptas mal lacradas, e suas portas só vieram a se abrir três anos depois”.

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O parágrafo acima não é uma descrição do Iêmen, trata-se de um trecho do livro O Amor nos Tempos do Cólera. No romance, Gabriel García Márquez narra um triângulo amoroso que tem como marco histórico os surtos de cólera na Europa e no caribe colombiano. Na narrativa, Gabo descreve como a população negra e pobre foi a que mais padeceu com a enfermidade. Apesar do livro ser ficção, os motivos dos personagens ambientados na Cartagena do século XIX contraírem a doença são os mesmos que do Iêmen de 2017: condições sanitárias precárias.

A cólera é uma infecção no intestino delgado que pode ser transmitida pela água, alimentos e talheres contaminados com fezes humanas que tenham a bactéria vibrio colérico (Vibrio cholerae). Essa bactéria faz com que as células intestinais produzam muito líquido e é isso que desencadeia os principais sintomas: diarreia, cólica, vômito e enjoo. Em casos mais graves, os pacientes podem apresentar sede, olhos turvos, perda da voz, desidratação e câimbras. Em pouco tempo, a perda de líquidos e sais minerais pode causar quedas bruscas de pressão, insuficiência renal e levar à morte. Se não for tratada, o risco de morte por cólera é de 50%. Até existem vacinas contra a enfermidade, mas é necessário tomar duas doses em períodos espaçados e ela têm eficácia de 70%, o que faz com que não sejam comumente aplicadas.

Na ficção, o autor colombiano compara o amor à cólera. Gabo até têm um pouco razão, pois os humanos são os únicos animais que podem ser contaminados pelas duas “dores”. Mas, na realidade, é mais fácil prevenir a cólera que os sofrimentos causados pela paixão. Lavar as mãos, tomar água filtrada, não levar a mão à boca e comer apenas alimentos cozidos ou fervidos são o bastante para evitar a doença.

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No entanto, em locais pobres, destruídos por catástrofes naturais (o Haiti, por exemplo, lida com um surto de cólera acelerado pela passagem do furacão Matthew no ano passado. E ainda sofre com a doença desde o terremoto de 2010) ou devastados por conflitos armados, como é o caso do Iêmen, onde essas simples precauções sanitárias são um luxo.

Mundo em cólera

  • A cólera sempre esteve associada à Índia e o primeiro registro remete ao ano de 1503, descrito no livro Lendas da Índia, de Gaspar Corrêa, em que aparece como uma doença que “provocava vômitos, sede de água, estômago ressecado, cãibras musculares, olhos turvos”.
  • A primeira pandemia aconteceu entre 1817 e 1823, indo do Vale do Rio Ganges ao norte da África e outras regiões da Ásia.
    Após invadir a Pérsia, os russos levaram a doença para a Europa que, consequentemente, difundiram a doença para vários países da América.
  • O médico sanitarista inglês John Snow (não o mesmo Jon Snow de Game of Thrones) foi o responsável por manter a Inglaterra “livre” da doença na metade do século XIX ao perceber que a cólera era causada pelo consumo de água contaminada com fezes humanas.
  • A região Nordeste do Brasil registrou mais de 150 mil casos na década de 1990.
  • Em 1974, Portugal teve um surto com mais de 1 600 casos.
  • Em 2015, a organização Médicos Sem Fronteiras tratou 35 500 pessoas com a doença.
  • A OMS estima que exista de 1,4 a 4,3 milhões de casos de cólera no mundo e que de 28 mil a 142 mil pessoas morram devido à doença todos os anos.
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