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A nova geração de lentes de contato

Elas já corrigem mais de um problema visual de uma vez só e previnem a progressão dos graus. E, no futuro, poderão até monitorar a saúde em tempo real

Por Texto: Maurício Brum e Yasmmin Ferreira. Design: Estúdio Coral
22 Maio 2024, 08h53
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As lentes de contato estão passando por uma evolução acelerada do ponto de vista tecnológico (Fotos: BlackJack3D / Ilustrações: SirVectorr/Getty Images)
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Miopia, astigmatismo, hipermetropia, presbiopia… Difícil ver por aí quem não padece de algum déficit de visão para enxergar de perto ou de longe, na infância ou na velhice. Difícil ver também um problema que não entre na mira das lentes de contato.

Com o avanço na tecnologia e nos materiais, elas buscam atender um público cada vez mais amplo, com opções polivalentes e convenientes à realidade do usuário, das versões de uso e descarte diário àquelas reutilizadas meses a fio. Depende da necessidade… e do freguês.

E esse mercado acaba de ganhar um reforço com as primeiras lentes gelatinosas capazes de corrigir simultaneamente o astigmatismo e a presbiopia, a popular vista cansada. Exemplo de uma tendência que sempre faz sucesso: sanar mais de uma queixa do paciente numa tacada só.

O lançamento da CooperVision, uma das líderes globais no mercado de lentes de contato, é uma lente multifocal que serve de alternativa aos bons e velhos óculos, tendo a vantagem de se ajustar ao globo ocular e ser de fácil adaptação. Ela amplia, assim, o leque de produtos de um segmento em ascensão, mas que permanece envolto em névoas de desinformação.

“O mercado de lentes de contato está em constante crescimento, porque elas já foram incorporadas ao estilo de vida de muitas pessoas. Mas o que a gente mais ouve por aí ainda são relatos de quem começou a usar e teve problemas, indivíduos que foram mal orientados ou não tiveram acompanhamento médico. Ou seja, são pontos completamente fora da curva”, contextualiza Gerson Cespi, diretor-geral
da CooperVision para o Brasil.

A Sociedade Brasileira de Lentes de Contato (Soblec) estima que mais de 2 milhões de cidadãos as utilizam no país atualmente, mas o universo de quem poderia recorrer a elas é muito maior: pelo menos 35 milhões de brasileiros convivem com óculos de grau, por exemplo.

+Leia também: Glaucoma: com os olhos sob pressão

Acontece que não é raro encontrar pessoas que não se sentem contempladas pelas lentes ou ficam receosas em trocar as armações por um par delas. Derrubar os mitos difundidos por aí é uma das missões dos oftalmologistas. Afinal, tecnologia para dar segurança e conforto ao
usuário existe.

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No caso da nova lente multifocal, o fabricante afirma que ela oferece 200 mil combinações diferentes, cobrindo uma miríade de graus e outras necessidades dos pacientes. A novidade na praça, batizada de Biofnity Toric Multifocal, também traz para o país o silicone hidrogel de terceira geração, material que permite uma maior retenção de água, mantendo a lente hidratada por mais tempo.

Isso melhora a oxigenação da córnea e gera menos desconfortos para os olhos. A indicação se aplica a outras lentes e óculos só deve vir depois de uma consulta oftalmológica. Aliás, a avaliação e as instruções do especialista são decisivas para tirar proveito sem riscos.

Como as lentes são colocadas diretamente sobre os olhos, costumam exigir uma adaptação, bem como uma rotina de cuidados. É o caso até de checar se o seu perfil combina com as lentes.

“Elas oferecem benefícios como um campo de visão mais amplo e a comodidade a quem pratica atividades físicas, mas nem sempre são toleradas por pessoas com olho seco ou sensível”, explica Flavio MacCord, diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO).

Outros fatores pesam na escolha. “Para a prescrição das lentes de contato, temos de considerar a curvatura da córnea, a saúde da superfície ocular e a capacidade de o paciente manuseá-las e cuidar delas corretamente”, diz o oftalmologista.

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como-funciona-lente
Clique para ampliar (Ilustrações: SirVectorr/Getty Images)

 

As lentes de contato podem ser divididas em rígidas e gelatinosas. Embora o segundo modelo costume ser visto como mais confortável e com maior facilidade de adaptação, o primeiro ainda é bastante difundido, especialmente em contextos como o do astigmatismo.

 

Lançamentos como o da CooperVision buscam expandir o cardápio de médicos e pacientes. Juntos, eles poderão analisar o rol de opções disponíveis, prós e contras, o que cabe no orçamento… Até porque, entre os caminhos que podem ser tomados, há também o das cirurgias.

Elas viveram uma expansão nos últimos anos, buscando deter de forma defnitiva ou temporária as alterações visuais. Mas tampouco representam uma panaceia. “Definir a elegibilidade cirúrgica depende de uma avaliação das características oculares e das necessidades do paciente”, resume MacCord.

Entre outros critérios, o candidato precisa manter a estabilidade do grau por mais de um ano, não ter doenças como catarata ou glaucoma e receber o aval do especialista quanto ao formato e à espessura da córnea. “A cirurgia refrativa não é recomendada para pacientes com córneas muito finas ou irregulares”, exemplifca o diretor da SBO. “É importante aconselhar os pacientes até para evitar expectativas irreais sobre os resultados.”

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Para quem não pode ou não quer passar por uma operação, há uma gama de óculos e lentes de contato no mercado. E se engana quem pensa que eles excluem um ao outro. Pelo contrário: quem usa lente na rotina precisa dar um descanso à superfície ocular de tempos em tempos: o famoso “respiro”, além de garantir a limpeza correta do acessório.

+Leia também: Por que preciso de óculos? As dúvidas mais buscadas sobre saúde visual

Alguns oftalmos aconselham, inclusive, a evitar usos prolongados – a menos que haja alguma condição específca que justifique isso. “Mesmo com todos os avanços na área, usar lente não é uma coisa inócua. “Óculos errados no máximo vão causar desconforto ou dor de cabeça, não chegam a provocar doenças. Uma lente mal adaptada ou mal utilizada pode resultar em problemas bem mais sérios”, avisa o oftalmologista Leonardo Marculino, do Hospital CEMA, em São Paulo.

As lentes são o exemplo clássico de um ótimo recurso que pode dar zebra quando não se respeitam os preceitos do médico e as orientações do fabricante – e, aí, quem leva a culpa, óbvio, são os próprios dispositivos. Entre as complicações mais frequentes do uso ininterrupto ou equivocado, constam irritações oculares, olho seco e até lesões na córnea e infecções.

É por isso que os experts batem na tecla dos cuidados com o acessório… e a própria visão. Em hipótese alguma a lente deve entrar em contato com a água, seja numa piscina ou no banho, seja na pia. A limpeza, tanto da lente quanto do estojo, deve ser feita sempre com soluções próprias para essa fnalidade. Esse é o passo número 1, ignorado por muita gente, diga-se.

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Clique para ampliar (Ilustrações: SirVectorr/Getty Images)
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Para não ter chabu, também é fundamental respeitar o tempo de uso ao longo do dia e a data de validade: após o vencimento, não há garantia de que a lente pode ser higienizada adequadamente ou manter suas propriedades corretivas intactas.

E, salvo em casos de lentes específicas, que são feitas para uso noturno, jamais se deve dormir com elas. A propósito, fazem parte da nova geração de lentes modelos rígidos e adaptados ao paciente que são projetados única e exclusivamente para utilizar durante o sono. Isso mesmo! Você usa de olhos fechados.

A CooperVision e outras empresas do ramo investem nessa solução. Segundo Cespi, elas moldam a córnea para tratar o défcit visual. A pessoa as coloca à noite e pode abrir mão delas e dos óculos ao longo do dia seguinte – depois o rito se repete, pois o efeito não é definitivo.

Agora, independentemente do tipo de lente escolhido, é crítico visitar o oftalmo para reavaliar a situação periodicamente. E não só por causa do grau. “Da mesma forma que trocamos os óculos, às vezes uma lente confortável num primeiro momento deixa de ser a melhor opção após uma revisão”, explica Marculino.

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Clique para ampliar (Ilustrações: SirVectorr/Getty Images)
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O futuro das lentes de contato

Se depender da tecnologia investida, o número de beneficiários das lentes só vai aumentar. “O que vamos ver daqui para a frente são produtos que devem aprimorar cada vez mais a qualidade visual, com materiais cada vez mais biocompatíveis e acessíveis, e que permitirão inclusive um tempo de uso maior”, prevê o oftalmologista Guilherme Gubert Müller, professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

O futuro já começou para as lentes que ajudam a evitar a progressão de déficits visuais, como a miopia. Sim, a ideia é atacar o problema desde cedo. A MiSight 1 Day, que também integra o portfólio da CooperVision, não apenas corrige a miopia já instalada como auxilia a desacelerar o avanço do grau entre crianças de 8 a 12 anos (indicação que já recebeu aprovação de agências regulatórias).

Gelatinosas e de descarte diário, elas foram pensadas para facilitar a manipulação pelos mais novos, que não precisariam higienizá-las no dia a dia para usar novamente – outra tendência que, vale dizer, ganhou força, e não só entre crianças e adolescentes.

O fabricante tem estudos mostrando que, ao iniciar o tratamento com a lente nessa faixa etária, é possível reduzir em até 59% o risco de ter miopia de alto grau na idade adulta. A Johnson & Johnson também tem um produto com esse propósito.

Para os oftalmologistas, essa leva recente de lentes vem ao encontro de uma demanda gigantesca, uma autêntica questão de saúde pública. Estimativas apontam que, até 2050, mais da metade da população mundial será míope! E o problema começa a se manifestar mais cedo.

“A questão não se resume a enxergar mal a distância. Sabemos que a miopia expõe o paciente a consequências mais graves, como glaucoma, degeneração macular e descolamento de retina, uma vez que deixa o globo ocular mais alongado”, afrma Cespi. E não para por aí!

O futuro vai além das lentes corretivas e de efeito preventivo. As soluções previstas para o amanhã parecem saídas de um cenário de ficção científica. Já há quem projete integrar as tecnologias da informação, por enquanto restritas aos óculos de realidade virtual, a lentes aco-
pladas diretamente nos olhos.

Já pensou? Uma mensagem de WhatsApp piscando no cantinho do seu campo de visão? Loucura ou não, o que os médicos sonham mesmo é com dispositivos inteligentes que ajudem a controlar problemas de saúde ocular que não necessariamente estejam causando prejuízos naquele momento.

Um bom exemplo é o glaucoma, uma doença silenciosa marcada pela pressão alta dentro do olho e a destruição gradual do nervo óptico que leva a perdas de visão irreversíveis. O perigo é que ela evolui anos sem dar sintomas, não raro sendo diagnosticada quando o sujeito já não enxerga tão bem.

Pois novas lentes em desenvolvimento seriam capazes de monitorar a pressão intraocular em tempo real com sensores microscópicos, dando um panorama mais completo da situação sem precisar de exames frequentes em consultório. Além disso, elas indicariam se o tratamento para frear o glaucoma está sendo efetivo ou não.

“Também estão sendo estudadas lentes de contato com sistemas de liberação lenta de medicamentos diretamente na superfície do olho”, conta MacCord. “Isso pode ser particularmente benéfico para o tratamento de doenças crônicas, como o próprio glaucoma, e o de infecções oculares.”

Sim, o horizonte à vista é promissor, mas quem quiser aproveitá-lo deve cuidar dos olhos desde já! Isso passa pelas consultas regulares ao oftalmo e por uma seleção ó criteriosa, individualizada e bem informada ó dos recursos capazes de resolver as dificuldades para enxergar.

Entre eles, a novíssima geração de lentes de contato.

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Clique para ampliar (Ilustrações: SirVectorr/Veja Saúde)
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