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20% das brasileiras não vão ao ginecologista com frequência. Por quê?

Pesquisa retrata a relação entre as mulheres e essa especialidade médica. Veja onde podemos melhorar

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 30 out 2019, 11h26 - Publicado em 15 fev 2019, 16h37
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  • Cerca de 20% das brasileiras acima dos 16 anos não vão ao ginecologista com regularidade. O dado faz parte da pesquisa “Expectativa da mulher brasileira sobre sua vida sexual e reprodutiva: as relações dos ginecologistas e obstetras com suas pacientes”, encomendada pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

    O levantamento, conduzido pelo Instituto Datafolha, foi realizado entre 5 e 12 de novembro de 2018. Foram entrevistadas 1 089 mulheres de 16 anos ou mais, pertencentes a todas as classes econômicas, em 129 municípios de todas as regiões do país.

    O estudo mostra que a maior parte das brasileiras (76%) buscou o ginecologista no último ano. Dentre elas, seis em cada dez foram atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS). Esse hábito é mais comum entre as moradoras de regiões metropolitanas da região Sudeste e cresce conforme aumentam a escolaridade e o poder aquisitivo.

    Na contramão, 20% não comparecem aos consultórios com frequência. Aqui se encaixam entrevistadas que nunca agendaram uma conversa com o gineco e outras tantas que só fizeram isso uma vez ou outra. Além disso, 4% não se lembram se foram ou não ao especialista.

    E esse pessoal está correndo riscos desnecessários. A situação preocupa especialmente se você considerar que os ginecologistas muitas vezes acabam cuidando da saúde feminina em geral – e não só do aparelho reprodutor.

    Por que essas mulheres não visitam o ginecologista?

    As principais razões são: considerar-se saudável (31% das respostas) – mesmo sem ter passado por qualquer avaliação – e não achar importante ou necessário (22%).

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    “É evidente que essa é uma questão de educação”, aponta o ginecologista Marcos Felipe Silva de Sá, diretor científico da Febrasgo.

    O obstetra e ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente da entidade, acredita que a falta de contato com o profissional pode estimular casos de gravidez não planejada no Brasil.

    “A gente sabe que existe uma vulnerabilidade em relação aos métodos contraceptivos das mulheres que estão no início da vida sexual, têm baixa escolaridade e são de classes econômicas menos favorecidas”, afirma.

    Fernandes também lembra da diferença de concentração de experts pelo Brasil. Sim, na cidade de São Paulo não é tão difícil encontrar algum ginecologista.

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    “Mas essa não é a realidade em todo o país. Me assusta saber que aproximadamente 40% da população diz que o acesso não é fácil”, lamenta o presidente da Febrasgo.

    Primeira visita ao consultório

    O levantamento indica que a idade média da primeira conversa com o ginecologista é aos 20 anos de idade. “A gente acaba perdendo a possibilidade de oferecer a vacina gratuita contra o HPV e várias outras que fazem diferença para o envelhecimento saudável”, exemplifica o ginecologista Agnaldo Lopes da Silva Filho, vice-presidente regional da Febrasgo no Sudeste.

    Lopes da Silva Filho também acredita que a demora para visitar o médico influencia no número de gestações não planejadas. De acordo com ele, campanhas de conscientização ajudariam bastante.

    Já a ginecologista Maria Celeste Osório Wender, vice-presidente regional da Febrasgo no Sul, argumenta que a ida tardia ao consultório afeta o crescimento saudável das meninas. Por falta de acompanhamento, por exemplo, elas estariam mais sujeitas ao excesso de peso.

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    “A gente deixa de acessar essa adolescente, que parou de ir ao pediatra e também não está visitando o clínico por não estar doente, mas já está obesa. Essa é uma oportunidade que temos”, justifica.

    As principais razões para a primeira ida ao consultório são gravidez (ou a suspeita dela) e a necessidade de esclarecer um problema ginecológico. A gestação precoce é especialmente recorrente entre as brasileiras com baixa escolaridade.

    “Nós entendemos que essas não deveriam ser as razões da primeira consulta. Falta, da parte dos reguladores, médicos e educadores, informar que isso deve acontecer no início do período menstrual ou até antes”, defende Fernandes.

    Segundo o especialista, uma consulta no comecinho da puberdade dá inclusive uma noção de como deve ocorrer a menstruação. A menina ainda vai receber orientação sobre doenças sexualmente transmissíveis, iniciação sexual e métodos contraceptivos.

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    Pacientes confiam no atendimento médico

    Cerca de oito a cada dez mulheres citam a ginecologia como a mais importante especialidade para a saúde feminina.

    Fernandes destaca que várias pacientes vão a esses médicos para tratarem de problemas não relacionados ao aparelho reprodutor. “Isso não é diferente em outros países. O ginecologista é a porta de entrada para a assistência”, conta.

    De modo geral, praticamente todas as brasileiras acham importante que o médico acolha, realize exames clínicos, seja atencioso, aconselhe, passe confiança e forneça informações claras e suficientes. E aproximadamente nove em cada dez estão satisfeitas com esses atributos no atendimento recebido pelo ginecologista.

    “Talvez a pesquisa não seja sobre a relação dos ginecologistas com suas pacientes, mas das pacientes com os ginecologistas. É a primeira vez que houve esse olhar para a mulher, que é o principal objetivo da nossa especialidade”, conclui Agnaldo Lopes da Silva Filho.

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