Por motivos ainda não elucidados pela ciência, cerca de 7% das gestantes brasileiras sofrem um quadro de hipertensão conhecido pelo nome de pré-eclâmpsia. Esse aumento da pressão arterial representa um perigo dos grandes, está relacionado a quadros convulsivos e até pode provocar a morte da criança ou da mulher.
Apesar de ser uma condição bastante comum, as ferramentas de diagnóstico disponíveis hoje são falhas. As diretrizes das entidades mais importantes do setor, caso da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, recomendam que o médico faça apenas uma avaliação da saúde da mulher levando em conta fatores como idade, peso, histórico familiar de pressão alta, diabetes, uso de alguma técnica de reprodução assistida (caso da fertilização in vitro) e presença de enfermidades autoimunes, como o lúpus e a síndrome antifosfolípide.
“A questão é que esse procedimento só consegue diagnosticar 40% dos casos de pré-eclâmpsia”, calcula o ginecologista e obstetra Fabrício da Silva Costa, professor da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto e da Universidade Monash, na Austrália. Isso significa que mais da metade das grávidas com níveis de pressão acima do normal não recebem os cuidados adequados a fim de manejar os riscos para si e para o bebê.
Um flagra mais veloz
A boa notícia é que já foi inventada uma maneira mais eficaz de avaliar a probabilidade de pré-eclâmpsia. “O novo teste foi criado na Inglaterra e alia vários parâmetros, como a história de saúde materna, a medida da pressão arterial, o ultrassom uterino e um exame que avalia a presença de uma substância chamada PLGF no sangue”, descreve Costa.
Todos esses dados são avaliados por um algoritmo de computador, que estima o risco de a gestante desenvolver o problema. A novidade amplia a taxa de detecção para 75% (ante, repetimos, 40% do método atual).
“Nós agora vamos investigar e adaptar esse teste para a realidade das mulheres brasileiras num trabalho que reunirá dez centros de pesquisa do país e 3 500 voluntárias”, informa o especialista. O projeto acabou de ser detalhado em uma palestra no Congresso Mundial de Ginecologia e Obstetrícia, que acontece essa semana na cidade do Rio de Janeiro. A expectativa é que o estudo se inicie em 2019 e seja concluído até 2021.
Se o risco de sofrer com a pré-eclâmpsia for alto, o profissional de saúde pode prescrever um tratamento com aspirina de baixa dose para prevenir a encrenca. Agora, se a doença já estiver instalada, é preciso lançar mão de drogas anti-hipertensivas e acompanhar de perto o crescimento fetal para determinar com exatidão o melhor momento de fazer o parto.