Entidade americana alerta sobre uso abusivo de melatonina por crianças
Por ser um suplemento, a melatonina é vendida livremente sem prescrição médica; substância é usada como indutora do sono
A melatonina tem sido amplamente utilizada como indutora do sono em crianças e adultos – sem acompanhamento profissional na maioria das vezes, já que ela é vendida nas farmácias como suplemento e sem prescrição médica. Diante dos riscos do consumo abusivo, especialmente por crianças, a Associação Americana de Medicina do Sono (AASM) emitiu um alerta recomendando que os pais procurem um médico antes de darem melatonina para seus filhos.
Popularmente chamada de “hormônio do sono”, a melatonina é um neurohormônio produzido naturalmente pelo corpo humano e secretado pela glândula pineal, localizada na base do cérebro. Ela é responsável por regular o ritmo circadiano – o ciclo de vigília e de sono (relógio biológico).
O comunicado da entidade médica americana surgiu depois que o Centro de Controle de Doenças (CDC) percebeu um aumento expressivo de atendimento emergencial em pronto-socorros infantis por causa de superdosagens de melatonina ou intoxicação após o uso do suplemento.
Os dados americanos mostram que o número de crianças que ingeriram involuntariamente o suplemento saltou 530% em 10 anos, sendo que mais de 4 mil casos resultaram em internação hospitalar.
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Assim como no Brasil, a melatonina está regulamentada nos Estados Unidos como suplemento alimentar e está disponível nas prateleiras de supermercados e farmácias com menos supervisão do que um medicamento convencional.
O problema é que ainda há poucas evidências da eficácia para o tratamento da insônia de crianças saudáveis – poucos trabalhos mostram possíveis efeitos benéficos em casos específicos, como alguns distúrbios do sono (transtornos do ritmo circadiano) ou autismo.
Além disso, a AASM destaca pesquisas que apontam que o teor de melatonina encontrada nas farmácias variou de menos da metade a mais de quatro vezes a quantidade indicada no rótulo. A entidade diz, ainda, que a maior variabilidade foi vista em gomas mastigáveis, geralmente mais usadas pelas crianças.
Segundo a neurologista Leticia Azevedo Soster, especialista em Medicina do Sono do Hospital Israelita Albert Einstein, o uso de melatonina tem se tornado mais frequente, embora não existam números oficiais sobre esse consumo no Brasil.
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“Cada vez mais temos recebido essa demanda em consultório. Os pais nos procuram por causa dos distúrbios do sono da criança e dizem que elas fazem ou já fizeram o uso de melatonina por conta própria. Dificilmente chega um paciente que não fez uso da melatonina para consulta de questões de sono”, afirmou a médica.
Soster elogiou o alerta da entidade americana sobre os riscos do uso do suplemento sem acompanhamento adequado: “essa recomendação é muito correta. Todo tipo de automedicação deve ser evitada porque existem vários fatores que precisam ser considerados antes de prescrevemos uma medicação ou suplemento. Muitas vezes, ao acreditar que o suplemento é algo inócuo, leve, suave, a pessoa não leva em consideração alguns efeitos colaterais importantes”.
Principais problemas das crianças
Segundo a neurologista, as principais queixas dos pais são que a criança tem dificuldade de iniciar ou de manter o sono, o que acaba provocando despertares mais prolongados.
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“Muitos acham que a o fato de a melatonina ser um hormônio relacionado à noite e ao período de repouso, consequentemente seria o hormônio do sono, o que não é verdade. Ele é do escuro e do repouso, não necessariamente do sono”, explica.
Como a melatonina é classificada como suplemento e não medicamento, ela não passa por todos os testes exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aprovar um remédio no Brasil – por isso ainda não se sabe se há riscos a longo prazo.
“O que a gente sabe é que se a pessoa usa mais melatonina do que precisa, ela está simulando para o corpo que aquele momento é noite. O corpo cria o metabolismo da noite que pode ir se alongando ao longo do dia, deixando a melatonina circulante no sangue. É como se a pessoa tivesse induzindo um estado metabólico da noite durante o dia. E isso é um risco”, finalizou.
*Esse texto foi publicado originalmente pela Agência Einstein