Apesar da prorrogação da campanha nacional de vacinação contra a gripe e da liberação das doses para pessoas de qualquer idade, o Brasil não conseguiu atingir as metas de imunização do público-alvo contra o vírus Influenza, nem mesmo para as crianças de seis meses a 5 anos.
O resultado é o aumento da demanda por atendimentos relacionados às síndromes gripais nos prontos-socorros.
Dados do Painel Influenza, atualizados diariamente pelo Ministério da Saúde, apontam que apenas 67,6% das crianças entre 6 meses e 5 anos foram imunizadas contra Influenza em 2022 – a meta é vacinar em torno de 95%.
Já no estado de São Paulo, por exemplo, a demanda nos hospitais infantis de referência (Darcy Vargas e Cândido Fontoura) aumentou cerca de 20% nos últimos 30 dias, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, que informou que a cobertura da vacinação para o público infantil está em 65,6%.
Entre janeiro e setembro deste ano, no estado, foram notificados 690 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Influenza em crianças de até 11 anos – dentre eles, 189 foram em setembro.
O Rio de Janeiro não vacinou nem metade das crianças até 5 anos previstas (45,3%) e ficou atrás apenas do Acre (34,9%) e Roraima (31,8%), todos com índices baixíssimos.
Sem sazonalidade
Uma das possíveis explicações para os surtos de Influenza que estão acontecendo em São Paulo é que a circulação do vírus não segue mais a sazonalidade que estávamos acostumados antes da pandemia.
Nos últimos dois anos, com o isolamento social, uso de máscaras e outras medidas de prevenção, a circulação do vírus Influenza e de outros vírus respiratórios caiu consideravelmente. Com a volta da normalidade e fim das medidas de proteção, os outros vírus respiratórios voltam a circular, causando novos surtos.
Segundo dados do boletim InfoGripe, divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) referentes ao período até o mês de setembro, há uma tendência de estabilidade de circulação dos vírus respiratórios no país, mas com aumento de casos de Influenza A em São Paulo e no Distrito Federal, o que pode impactar outros estados. Em São Paulo, o relatório destaca o crescimento de casos apenas entre crianças e adolescentes.
“Aquela sazonalidade de circulação da Influenza caiu por terra pós-Covid. Os vírus estão se reorganizando e, por enquanto, não temos mais como ter um pico de circulação previsível”, afirmou o pediatra Linus Pauling Fascina, gerente médico do Departamento de Maternidade e Pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein.
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O pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), concorda com Fascina e lembrou do surto inesperado de Influenza em dezembro do ano passado, com uma cepa do vírus que nem estava na composição da vacina, fazendo disparar a procura por atendimento nos hospitais.
“Historicamente a sazonalidade de circulação do vírus Influenza era muito parecida todos os anos, por isso a campanha de vacinação sempre ocorreu no outono para nos proteger no inverno. Mas, desde que começou a pandemia, isso mudou. Agora vemos aumento de casos de Influenza de novo em pleno mês de outubro. Ainda estamos aprendendo a lidar com o rearranjo de circulação dos vírus e a única forma de nos protegermos é tomando a vacina”, afirmou.
Fascina também reforça a importância da vacinação contra a gripe para as crianças de todas as faixas etárias e diz que apesar de as crianças normalmente evoluírem bem quando estão gripadas, há casos que podem ser mais agressivos e exigir cuidados intensos e até internação.
“A maior parte das crianças evolui para um quadro de melhora, mas estamos vivendo um novo surto de Influenza e as crianças com menos de 5 anos, assim como os idosos, são mais suscetíveis a complicações porque têm o sistema imunológico mais frágil”, destaca.
A mensagem dos especialistas é que os pais não deixem para atualizar a caderneta de vacinação dos seus filhos apenas quando estão diante de uma situação preocupante ou de risco.
“A vacina contra o vírus Influenza está disponível na rede pública, é segura, é eficaz, é recomendada. A campanha contra a gripe começou no final do mês de abril, foi prorrogada até final de junho, foi aberta para qualquer pessoa e mesmo assim não atingimos a meta. Não esperem alguma coisa acontecer para atualizar a caderneta das crianças”, finalizou Cunha.
Esse texto foi publicado originalmente na Agência Einstein.