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Amamentação: um desafio das mães que precisa ser mais discutido

Um documentário ilustra como o aleitamento materno é vital, mas pode ser penoso por desinformação. Entrevistamos um médico envolvido no filme sobre o tema

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 29 abr 2019, 10h25 - Publicado em 7 ago 2018, 14h17

Termina hoje (7 de agosto) a Semana Mundial da Amamentação, realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e que tem como objetivo informar e conscientizar mães sobre a importância do aleitamento materno. Proposta semelhante tem o documentário “De Peito Aberto”, que será lançada em agosto de 2019, em São Paulo – mas com uma boa dose de realidade.

O longa-metragem, dirigido por Graziela Mantoanelli, retrata a história de seis mulheres de realidades diferentes durante a amamentação, incluindo obstáculos pessoais, sociais e familiares que enfrentaram. Além disso, conta com a participação de diversos profissionais, que discutem o tema do ponto de vista histórico, social e, claro, clínico.

Confira o teaser:

No evento de pré-lançamento, Graziela revelou que, ao acompanhar a trajetória das mães desde antes do parto, percebeu a necessidade de se concentrar apenas no período de amamentação. Segundo ela, esse é um momento normalmente deixado de lado.

“A gente precisava contar essa história. Essa é a história que não tem espaço. É o lado B”, explicou a cineasta.

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A produção da Deusdará Filmes foi financiada coletivamente por 700 benfeitoras e já começou a ser exibida em cineclubes, universidades e ONGs de todo o Brasil.

Um dos médicos que contribuíram com o enredo foi Moises Chencinski, pediatra de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). SAÚDE conversou com ele no pré-lançamento:

SAÚDE: Por que o aleitamento materno é importante?

Moises Chencinski: Aleitamento materno é a base da vida. Esse é o tema da Semana Mundial de Amamentação de 2018. Podemos dividir essa importância em duas partes: o leite materno e a amamentação.

O leite é um alimento específico, natural e vivo, que se adapta a cada fase da criança. Enquanto ela é amamentada, é oferecido tudo que é necessário naquele momento. O leite materno fornece para o bebê até os anticorpos que ele precisa.

A cada dia, são publicados mais estudos mostrando a importância do leite materno. Um leite de fórmula tem 50 componentes, enquanto o materno, 250. Isso não quer dizer que não existam situações em que você tenha a necessidade de usar fórmula, mas isso deve ser a exceção, não a regra.

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Agora, quando falamos da amamentação, há a questão do vínculo: o contato pele a pele, olho no olho e a segurança que o bebê recebe através disso.

O que o senhor achou de participar desse documentário?

Temos a seguinte questão: a mulher se planeja nove meses para o momento do parto, mas não se prepara adequadamente em nada para a amamentação. Aliás, não é que ela não se prepara. Na verdade, ela não é informada.

A gente tem três filmes do “Renascimento do parto”, mas nada relacionado ao aleitamento. Agora, finalmente, temos o primeiro filme que toca na ferida e traz a realidade que vemos no nosso dia a dia. Não são apenas essas seis mulheres. Elas representam milhares de brasileiras que passam exatamente por essas situações.

Temos o depoimento de vários profissionais conhecidos mundialmente, de alto padrão nacional e que colocam as suas visões da realidade. Amamentação não é uma unanimidade ainda e não tem o apoio devido da sociedade, do poder público, dos profissionais de saúde e da imprensa.

Essa é uma iniciativa corajosa e bonita da Graziela e que deve fazer alguma diferença, se a gente souber trabalhar com ele na continuidade.

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Por que não há consenso entre os médicos sobre a necessidade da amamentação exclusiva?

Todos concordam que o leite materno é o alimento ideal, mas acredito que é necessário ter uma ênfase maior a respeito disso nos cursos de graduação. Tanto de medicina, enfermagem, psicologia, nutrição, fonoaudiologia, odontologia… a informação sobre a importância da amamentação na formação básica dos profissionais é pequena. Eles não conseguem orientar as mães, porque não aprenderam.

Existe uma pressão social e da indústria de fórmulas, que trazem dificuldades para que essas informações cheguem aos profissionais e, a partir daí, passem a atingir mães, famílias e a sociedade de maneira geral.

É muito mais fácil prescrever uma fórmula. E é mais difícil você dedicar tempo a ensinar e orientar. A mãe passa o pré-natal inteiro sem ouvir ninguém falar a respeito de amamentação. Na maternidade, raramente ela tem apoio para amamentar. As consultas com os profissionais que acompanham esse bebê também não são tão estimuladoras.

Quais as maiores dificuldades no aleitamento materno?

As principais são falta de informação e de acolhimento, o excesso de julgamento e as cobranças feitas em cima dessas mulheres.

A informação não vem espontaneamente. Um exemplo de algo que acontece muito: a criança pega errado, a mama fissura, a mulher sente dor, ocorre uma infecção, surge um abcesso e, quando o bebê chega a 15 dias de vida, a mãe fala: “doeu até o 15º dia e aí o peito calejou”. Isso não tem o menor cabimento!

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Amamentar não deveria doer. Se ela fosse informada, orientada adequadamente sobre posicionamento e pega, se fosse acompanhada, apoiada e escutada, com toda certeza a gente conseguiria acolhê-la para que pudéssemos ajudá-la naquilo que tiver interesse e quiser fazer.

Além da informação, é importante ter continuidade. Não adianta começar bem e largar a mãe achando que ela já sabe o que fazer dali para frente.

Quais ações o governo tem feito para incentivar o aleitamento?

Durante esse tempo todo, foram criadas várias iniciativas governamentais que são reconhecidas mundialmente como referências: Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno, Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de 1ª Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL), licença maternidade e paternidade e a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, que é a maior do mundo.

Porém, a informação precisa ser mais democrática e palatável e chegar em toda a população. Não podemos esperar que as pessoas venham buscá-la. Nós devemos levá-la de uma forma ampla e irrestrita.

O nome da campanha do ano passado era “Todos juntos pela amamentação”. É isso que realmente precisamos: todos juntos (governo, sociedade, empresas). O dia em que os empregadores compreenderem que uma criança amamentada adoece menos e, consequentemente, fará sua mãe faltar menos e trabalhar mais satisfeita, teremos um avanço.

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Se a empresa apoiar a amamentação, a mulher vai trabalhar melhor. Se tiver uma sala para retirar leite no local de trabalho então, todo mundo sairá ganhando. Isso é comprovado mundialmente. Há uma diferença enorme em termos de ganhos financeiros por conta do aleitamento.

No filme, é falado que isso não é mais um assunto de saúde, mas de educação. A importância de cada bebê ser amamentado e do leite materno deveria ser tema constante nas escolas e faculdades.

Tudo é positivo quando se trata da amamentação, mas não é fácil, nem simples. Então, se todos juntos não trabalharem constantemente em prol disso, mesmo que tenhamos muitas ações, isoladamente elas não irão alcançar a meta da OMS. A previsão da entidade é de que, em 2025, 50% das crianças do Brasil estejam sendo amamentadas exclusivamente até o 6º mês de vida. Estamos muito longe disso.

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