A menos de uma semana para terminar mais um Outubro Rosa, continuamos a nossa luta para melhorar a saúde das mulheres Brasil afora. Ao menos por aqui, as leitoras da VEJA SAÚDE estão indo muito bem!
Rodamos um questionário simples sobre a mamografia, exame que detecta tumores nos seios, nas redes sociais e em alguns grupos de Whatsapp e tivemos 425 respondedoras. As perguntas eram simples:
- Quantos anos você tem?
- Você já fez alguma mamografia? (sim ou não)
- Sua última mamografia foi: a) há mais de um ano ou b) há menos de 1 ano
Simples não é? E ficamos muito felizes em saber que 92% das respondedoras entre 40 e 50 anos já fizeram mamografia em algum momento da vida. E 99% das mulheres com mais de 50 também se submeteram ao exame.
Como nada é perfeito, e sabemos que conseguir o pedido médico e fazer o exame não é tarefa fácil, me surpreendeu, que neste seleto grupo, somente 7% das mulheres entre 40 e 50 estejam com seus exames “atrasados”, ou seja, não fizeram mamografia no ultimo ano. Ainda melhor, somente 1% das mulheres com mais de 50 anos o fizeram há mais de um ano.
Eu agradeço muito a todas as mulheres que se dedicaram a responder ao questionário, mas preciso alertar a você, que lê este texto que, esta não é a realidade do nosso país.
Sei disso porque tenho acesso a dados importantes e quero compartilhá-los com vocês. Eles foram produzidos pelo site Radar do Câncer, desenvolvido pelo Instituto Oncoguia. Ali, informações de diversas fontes públicas estão organizadas para fácil visualização, e é possível conhecer mais sobre a presença do câncer em diferentes regiões do país.
Foi deste local que retirei dados importantes para que a gente não acredite que o Brasil está assim bem na foto, como nós colunistas e leitores da VEJA SAÚDE estamos. Estou aqui falando do meu local de privilégio, já que sou médica e tenho acesso a exames usando meu plano de saúde.
Há 10 anos, a meta do governo era de que pelo menos 70% das mulheres com 50 anos realizassem a mamografia todos os anos. Na realidade, segundo o Radar, esse número nunca passa de 30%, como você pode ver no gráfico abaixo:
Nesta figura podemos observar que durante a pandemia tivemos a redução mais drástica do acesso e da realização dos exames: apenas 13,9% das mulheres com mais de 50 anos o fizeram em 2020. Podemos ver também que o aumento esperado após o final da Pandemia não aconteceu.
Em 2023, a porcentagem continuou baixa, e, mesmo com campanhas e muitos monumentos sendo coloridos de rosa, não passa de meros 23%. Ou seja, mesmo para as mais de 77% das mulheres que usam o Sistema Único de Saúde (SUS) e que, portanto, teriam acesso à mamografia pelo governo, os dados não melhoram como gostaríamos.
+Leia também: É urgente! Temos que reverter a queda nas mamografias no Brasil
Por isso, minha sensação é de frustração neste momento. A dualidade de estar feliz com as respostas das leitoras, mas triste por saber que, apesar de todos os nossos esforços, ainda estamos muito aquém do ideal.
Em um momento em que a inteligência artificial é a vedete de todos os fóruns e conseguimos criar vacinas em tempo recorde, ainda vivemos a triste realidade de não conseguir oferecer às mulheres um exame antigo, capaz de reduzir a mortalidade de câncer de mama.
Sim, tumores nos seios são os que mais matam as brasileiras, mas isso acontece só porque falhamos no rastreamento e, com muita frequência, se faz o diagnóstico quando o câncer já não é mais tão inicial.
Não vou discutir aqui com vocês o motivo de nós mulheres deixarmos de fazer nossos exames. São tantas as camadas que um texto só não seria suficiente. Mas deixo a seguinte mensagem:
A mamografia é somente um filme em preto e branco, mas pode salvar sua vida e devolver o colorido a ela. Sendo assim, gostaria que neste Outubro Rosa, o exame “preto e branco” fosse mais usado por todas as mulheres. E aí? Já fez sua mamografia?