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O dia em que uma novela alavancou a doação de medula no Brasil

"Laços de Família", que voltou às telas, fez a média de inscrições para doação saltar de 20 para 900 em dois meses. Atitude salvou pessoas com câncer

Por André Bernardo
Atualizado em 9 fev 2021, 18h47 - Publicado em 9 fev 2021, 15h46
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  • No dia 11 de dezembro de 2000, oito em cada dez televisores ligados no Brasil estavam sintonizados na novela Laços de Família, da TV Globo. No capítulo daquela noite, a personagem Camila (Carolina Dieckmann), que sofria de leucemia mieloide aguda, decide raspar a cabeça, ao notar a queda dos primeiros tufos de cabelo após a quimioterapia.

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    “Cortar meu cabelo na frente das câmeras? Como assim?”, espantou-se a atriz Carolina Dieckmann, em depoimento ao projeto Memória Globo, ao relembrar o telefonema do diretor Ricardo Waddington explicando como seria a cena. No dia da gravação, Waddington levou um aparelho de som para os estúdios. Na hora do “Gravando!”, começou a tocar Love by Grace, música-tema da personagem. Aos primeiros acordes da canção de Lara Fabian, Carolina não conseguiu segurar a emoção e desabou no choro. A cena, de pouco mais de 3 minutos, é uma das mais antológicas da TV brasileira.

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    Mais do que simplesmente emocionar o público, a cena conscientizou o telespectador da importância da doação de medula óssea. Em apenas dois meses, a média mensal de inscrições no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) saltou de 20 por mês, em novembro de 2000, quando o tema começou a ser abordado, para 900, em janeiro de 2001. Um aumento de 4 400%!

    “Na época, tínhamos muita dificuldade para encontrar doadores não familiares no país. Os poucos eram sempre nos registros internacionais”, recorda o hematologista Luis Fernando Bouzas, então vice-diretor do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e chefe da divisão médica. “Com a repercussão da novela, o Disque-Saúde passou a receber milhares de ligações de pessoas interessadas em se cadastrar. A procura era tanta que congestionou as linhas. A campanha foi um sucesso e superou as expectativas”.

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    Até o ano 2000, de acordo com dados do Inca, o REDOME contabilizava 3,5 mil doadores. Um ano depois, com o sucesso de Laços de Família, foram registrados 6,2 mil novos cadastros. Vinte anos depois, são 5,2 milhões de doadores, e o REDOME é hoje o terceiro maior registro de doadores do mundo.

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    “Atualmente, ao buscar um doador, o paciente brasileiro acessa também os registros internacionais, que contabilizam mais de 38 milhões de doadores. No entanto, mais de 70% dos doadores encontrados para pacientes brasileiros vêm da doação nacional, ao contrário do que acontecia na época da novela. Depender apenas de registros internacionais limita bastante a procura”, explica Bouzas.

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    Para ser doador, alguns dos requisitos são ter entre 18 e 55 anos e não ter câncer, doença hematológica ou do sistema imunológico. “O transplante de medula óssea ajuda a salvar vidas. São mais de 80 tipos de enfermidades, como leucemias agudas ou crônicas, doenças autoimunes e de origem genética”, afirma o médico.

    Baseado numa história real

    Todos os dias, Manoel Carlos Gonçalves de Almeida, de 87 anos, lê uma média de seis jornais. Não por acaso, a ideia de abordar o tema da doação em Laços de Família nasceu da leitura de um deles. Em 1990, Maneco, como é carinhosamente chamado, se interessou pela história de uma mulher nos Estados Unidos que engravidara do ex-marido para salvar a vida da filha, que sofria de leucemia. Na mesma hora, o autor de Baila Comigo (1981), Por Amor (1997) e Mulheres Apaixonadas (2003), entre outras produções, pensou em transformar a notícia em uma história para TV, mas, convencido de que o cinema americano chegaria primeiro, desistiu da ideia.

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    Alguns anos depois, os jornais italianos noticiaram um caso parecido. Dessa vez, Maneco não perdeu tempo: tirou a ideia da gaveta e ofereceu a sinopse à emissora. “Fomos procurados para prestar consultoria à novela. Entre outros conceitos, conversamos sobre a busca por um doador, o tratamento com quimioterapia e os efeitos colaterais. A produção da novela chegou a fazer visitas e filmagens nas dependências do instituto”, conta Bouzas.

    Terminada a história, a Globo exibiu imagens da personagem Camila tendo os cabelos raspados em sua programação, como parte de uma campanha sobre a importância da doação de medula óssea. Graças à iniciativa, ganhou o BitC Awards for Excellence 2001, o mais importante prêmio de responsabilidade social do mundo, na categoria Global Leadership Award.

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    “Não abro mão de incluir temas na minha novela que possam motivar o público e levá-lo a exercer atos de generosidade”, afirma o autor, em depoimento ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo (clique para comprar). “Obviamente, quando a novela acaba, esse exercício vai minguando até sumir, mas o que se consegue durante aqueles oito meses no ar já tem grande significado e é gratificante”.

    Inclusive porque a novela pode voltar ao ar, como acontece agora no horário do Vale a Pena Ver de Novo.

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