PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Imagem Blog

Saúde com Diversidade

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A enfermeira especialista em educação Jussara Otaviano, embaixadora do Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia, discute a importância de valorizar a diversidade e o tamanho dos impactos da desigualdade no acesso à saúde
Continua após publicidade

Vai dar certo! É hora de rever conceitos e práticas para o bem-estar geral

Autores aproveitam o período de reflexão suscitado pelo Natal para propor uma abordagem mais empática na relação com os outros e o planeta

Por Jussara Otaviano e Adalberto Barreto*
24 dez 2023, 09h16
natal-reflexao
Respeito e acolhimento - com os outros e o meio ambiente - são mensagens a ecoar (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
Continua após publicidade

Fechamos o ano trazendo para este espaço ninguém menos que Adalberto Barreto, psiquiatra, professor e criador da tecnologia social conhecida como terapia comunitária integrativa. O título faz uma homenagem à música composta por MC Liro, Anchieta, Daniel Musy, Julio Raposo, Marquinho Pepe Santos e Uiliam Pimenta. Sim, vai dar certo! Podemos trabalhar por dias melhores… E para todos!

***

Natal é o aniversário de uma criança, símbolo do amor, da aliança entre Deus e os homens. Uma criança que, apesar da morte na cruz, foi uma vencedora, aquela que salvou a humanidade.

Natal é a festa da criança mítica, da criança vitoriosa e da criança feliz. No aniversário desta criança divina, símbolo de paz e felicidade, desperta dentro de cada um de nós outra criança, a criança que fomos e que ainda somos.

Esta criança mexe profundamente com outra criança que cada um tem dentro de si. É no Natal que elas se encontram, se olham e trocam palavras.

Cada um terá sentimentos bem específicos, pois eles revelarão o estado de espírito do adulto que somos. Para aqueles que conseguiram realizar seus sonhos de criança, vencer na vida, construir sua existência, há muito a celebrar.

Continua após a publicidade

Porém, para outros, que tiveram seus sonhos roubados, suas vidas abortadas, não raro a vontade é fugir das festas, isolar-se e chorar. Este é um momento de balanço de vida, em que tantos descobrem não ter razões para celebrar vitórias. Percebem que a criança que mora dentro de si está amordaçada, abandonada, maltrapilha, rejeitada, vagando pelas ruas da vida.

Segundo o IPEA, a população em situação de rua no Brasil supera 281 mil pessoas e, em dez anos, cresceu 211%.

Muitos se sentem envergonhados, revoltados, não veem sentido nas crianças felizes e ambientes alegres. Enquanto os outros têm razões para sorrir e celebrar, esses angustiados só encontram motivos para chorar e se isolar.

A força e a beleza do menino que traz luz contrastam com a fragilidade do que se é – e do ser que tem se tornado. É compreensível, então, que não se suporte o júbilo alheio e que se refugie no mais profundo de si mesmo, na mais triste solidão.

Continua após a publicidade

Na minha experiência como psicoterapeuta, tenho testemunhado a dor e o sofrimento destes infelizes do Natal. Muitos vieram ao mundo, mas não nasceram. Outros nasceram, mas não se desenvolveram. Outros, ainda, interromperam involuntariamente seu crescimento e arquivaram seus projetos de vida.

Faltou-lhes o alimento indispensável à existência: o amor, a compreensão, o carinho, o respeito, a acolhida, o apoio, o estímulo. São existências raquíticas marcadas por uma série de carências. Eles ignoram que possuem dentro de si forças suficientes para libertar esta criança amordaçada e faminta.

Mas perderam a capacidade de se rebelarem, de si indignarem com o estado em que se encontram. Agem como vítimas e vivem como mortas.

No dia de Natal, como eu gostaria de poder acolher todas estas criancinhas infelizes e poder dizer a cada uma que eu acredito nelas. Como eu gostaria de ajudar a descobrir suas potencialidades, desvendar-lhes os olhos, tirar sua mordaça e transmitir-lhes uma mensagem de fé e esperança.

Continua após a publicidade

Cada Natal é um apelo a cada um de nós para despertarmos esta criança interior, dar-lhe as mãos, ensinar-lhe a falar e a aprender a sonhar. É um apelo à vida, à libertação de tudo aquilo que nos impede de viver, de amar, de crescer. É um convite à adoção dessa criança abandonada dentro de cada um de nós mesmos, numa trama tantas vezes coletiva.

A evolução das sociedades tem favorecido o isolamento, a intolerância, o sectarismo, o estresse, o medo, tudo agravado por um modelo econômico marcado pela avidez de lucros e benefícios. E assim se destroem recursos socioculturais, comprometendo o vínculo social e precarizando a saúde mental de todos nós.

A humanidade está doente e precisa de ações concretas de cuidados. O brasileiro está no seu limite de tolerância. Sua saúde mental está abalada, já que a capacidade de conviver consigo mesmo e com os outros e a natureza, na busca do pertencimento, da felicidade e do sentido da vida, foi cerceada por intrigas, mentiras, fake news, distorções da realidade e polarizações assassinas. São famílias dividas, amizades desfeitas, agressões gratuitas. O desenvolvimento tecnológico se constrói em detrimento da dimensão humana.

A Covid-19 atingiu as economias até dos países ricos, mas revelou a fragilidade da humanidade que arrisca desaparecer através das desigualdades produzidas por uma economia predatória que afeta sistematicamente tudo, principalmente o meio ambiente e o clima.

Continua após a publicidade

É tempo de rever e expandir o sentido de desenvolvimento para todos e para todo o planeta. O momento é de reparar e curar danos e promover a saúde global e mental. Nosso desafio maior é erigir um modelo de desenvolvimento que respeite a natureza humana e o planeta.

A lei que regula o universo é a lei do amor da reciprocidade. Cada um de nós possui em si uma força poderosa e transformadora de si, dos outros e do planeta. Só podemos evoluir numa relação de dar e receber. Isso deveria pautar uma economia inclusiva e um crescimento sustentável.

O conceito de saúde holística é deixar a energia circular: o que sei ensino, o dinheiro que tenho invisto, compro, partilho. Tudo está interconectado. Todo acontecimento é sistêmico e interfere um no outro.  Nascemos incompletos e por isso necessitamos uns dos outros. Que este Natal seja uma ocasião para refletirmos sobre o sentido da vida pessoal e social.

É, como defendemos com a Terapia Comunitária Integrativa, uma oportunidade para cuidar de si, da comunidade e do ambiente, criando um espaço de empatia com vínculos mais saudáveis, algo de que tanto precisa o tecido social brasileiro.

Continua após a publicidade

Que possamos partilhar saberes, abrir horizontes, descobrir recursos e desenvolver espaços de cuidado e cura mesmo diante de tantos desafios econômicos, políticos e acadêmicos. Que possamos frutificar espaços de escuta e diálogo, um espaço de convivência com a diversidade sem querer colonizá-la. Um espaço de troca de afeto e respeito – hoje e sempre.

Compartilhe essa matéria via:

* Adalberto Barreto é psiquiatra, professor emérito da Universidade Federal do Ceará (UFC) e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria Social

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.