Prestes a estrear como colunista de VEJA SAÚDE, me foi sugerido o título Respirar é Preciso como nome para este espaço, o que de imediato aceitei. Meus temas abordarão principalmente problemas e sintomas respiratórios que hoje fazem parte do cotidiano de todos nós. Precisamos lembrar que as doenças respiratórias ou pulmonares estão entre as principais enfermidades crônicas e entre as cinco maiores causas de óbito no Brasil e no mundo.
Por muito tempo, a maioria das pessoas se preocupava somente com os problemas cardiológicos — e, sim, temos que continuar cuidando bem do coração em todos os sentidos. Mas pela primeira vez em meus 40 anos de pneumologia vi todo mundo preocupado com tosse, falta de ar, pulmões com aparência de “vidro fosco” e até saturação de oxigênio, ainda que muitos não saibam exatamente o que isso significa.
A pandemia do coronavírus mudou nossa percepção da importância da respiração, sempre vista anteriormente como algo natural, automático e garantido, que não precisa ser pensado nem ser alvo de tanta atenção. A Covid-19 realmente mudou tudo!
A partir deste ano ouvimos e buscamos informações sobre sintomas e doenças respiratórias, discutimos mais a prevenção e o tratamento, ficamos de olho no número de respiradores disponíveis nos hospitais, acompanhamos os noticiários, as pesquisas em andamento e as cifras da pandemia. Nos preocupamos com o ar que respiramos e nos isolamos para proteger nossos entes queridos.
Este também é o ano em que passamos a respirar de máscaras quando saímos por aí, máscaras que, de certa maneira, inibem um pouco o entra e sai do oxigênio e não nos deixam sentir plenamente o ar em nossa face.
Ao mesmo tempo assistimos a uma ciência que, em tempo recorde, produziu mais de 60 mil estudos a respeito de todos os aspectos dessa nova doença: o agente causador (o coronavírus que todos conhecem), como ele consegue superar nossas defesas e se espalhar pelas vias respiratórias e o resto do corpo, como desencadeia sintomas como tosse, perda de olfato e paladar, falta de ar, diarreia, dor no corpo…
Compreendemos também o potencial dessa infecção em causar uma intensa inflamação, embora não saibamos com detalhes ainda quem vai ter a forma grave ou não. Hoje sabemos lidar melhor com a doença, apesar de ainda não termos uma medicação plenamente eficaz nem uma vacina. Existem atualmente mais de 3 500 estudos clínicos com medicamentos para Covid-19 e 113 pesquisas com imunizantes.
Nunca se viu tanto conhecimento produzido em tão curto espaço de tempo. E aprendemos que a maneira mais eficiente de prevenir o contágio é uma atitude simples e preconizada há séculos: lavar as mãos. Sim, higiene com água e sabão (ou álcool em gel, se a primeira opção não estiver disponível) nos protege do coronavírus e de tantas outras infecções respiratórias.
A pandemia também teve outros efeitos colaterais. Não sei se repararam, mas o número de outras doenças do aparelho respiratório despencou este ano. Primeiro devido ao isolamento social: menos gente procurou os serviços de saúde com medo do novo vírus. Mas também pela redução da poluição atmosférica, que fez cair o número de crises de asma, por exemplo. Pacientes com bronquite e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) praticamente sumiram dos pronto-atendimentos. Podemos e devemos aprender nestes momentos de adversidade.
Por isso, vamos manter a higiene das mãos e o uso das máscaras até essa pandemia passar. Esses são gestos que barram o vírus, que evitam que ele se dissemine e chegue aos nossos pulmões, podendo dar início a uma terrível tempestade inflamatória. Só assim conseguiremos respirar melhor e mais livremente.
Procurarei nesta coluna esclarecer as principais doenças respiratórias de forma simples e direta, com embasamento científico, além de inibir diversos mitos espalhados por aí. Em hebraico, o termo “respiração” (neshima) é muito semelhante à palavra “alma” (neshama). Vamos cuidar dos nossos pulmões. Sem respiração, nossas vidas ficam vazias. Afinal, o ar que entra nos pulmões também enche a alma.