Nas últimas semanas, estamos vivendo uma explosão de casos de Covid-19, com números de internações e óbitos atingindo patamares impensáveis. Essa nova onda traz diferenças em relação à de 2020: pacientes mais jovens, comprometimento hepático mais frequente, casos adicionais de tromboses (com coágulos tanto nas pernas quanto nos pulmões).
Em resumo, temos casos mais graves ocupando mais leitos de UTI, e necessitando cada vez mais de recursos tecnológicos para superar a famosa “tempestade inflamatória” da Covid-19. E nesses estágios mais críticos da doença que pode entrar a ECMO (Membrana de Oxigenação Extra Corpórea), que também ganhou destaque após ser usada no tratamento do humorista Paulo Gustavo.
Vou tentar explicar como funciona a Oxigenioterapia nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em geral e os passos até se chegar ao uso da ECMO.
Pelo quadro infeccioso e inflamatório causado por uma pneumonia viral, os alvéolos pulmonares e os espaços entre eles (o interstício) ficam ocupados por células e substancias inflamatórias. Isso prejudica uma das principais funções do pulmão: eliminar o gás carbônico e permitir a passagem do oxigênio para o sangue.
Essa situação faz com que fiquemos com hipoxemia (baixa de oxigênio no sangue). Hoje, todos conseguem medir em casa a saturação de oxigênio no sangue através dos populares oxímetros.
Diante de uma hipoxemia, começamos a repor o oxigênio primeiro com um cateter nasal. É o famoso “caninho no nariz”, que aumenta a sua oferta na tentativa de normalizar seus níveis. Paralelamente, são instituídos os tratamentos clínicos necessários para combater a inflamação e a infecção.
Quando mesmo assim não conseguimos suprir a necessidade de oxigênio, utilizamos recursos da fisioterapia respiratória, como máscaras e aparelhos que “jogam” ar para dentro dos pulmões por pressão (a ventilação não invasiva).
Podemos ainda intercalar ou usar continuamente um Cateter Nasal de Alto Fluxo, um recurso de alta tecnologia que apresenta bons resultados. É como se fosse aquele “caninho no nariz”, mas com um tamanho maior e com fluxo e pressão elevados de oxigênio.
Caso ainda assim as concentrações de oxigênio se mantenham baixas — ou o paciente apresente fadiga muscular excessiva para respirar —, partimos para os famosos respiradores ou ventiladores. Aqui, nós passamos um tubo na traqueia (intubação), obviamente com o paciente sedado, e, através dele, ligamos um respirador que introduzirá nos pulmões um ar com concentrações de oxigênio que vão de 25 a 100%. Enquanto isso, continua o tratamento medicamentoso para combater a infecção, a inflamação e possíveis trombos, dando tempo à recuperação do corpo.
Se nem assim tivermos sucesso, podemos partir para a ECMO. Ela consiste na retirada do sangue através de uma veia para uma bomba e por uma membrana artificial, que faz a função do pulmão. A técnica ajuda a eliminar o gás carbônico e a oxigenar o sangue, que então é devolvido para o organismo.
Podemos fazer isso por algumas semanas, lembrando que o paciente ainda está usando o respirador, até que consigamos vencer a doença que causou todo o estrago. Ao notarmos uma evolução, vamos reduzindo a necessidade da ECMO, depois do respirador e daí por diante, fazendo o caminho inverso do que acabei de descrever. Até que chegamos na desejada hora de liberar nosso paciente, amigo ou familiar de volta para casa.
Que fique claro: não é só a Covid-19 que causa esse rebuliço e, eventualmente, exige a ECMO. Outras infecções respiratórias, cirurgias e várias doenças pulmonares e cardiológicas também podem causar a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
O que descrevi aqui de maneira simplificada é um caminho para a vida, e não um final de vida! Recursos existem e devem ser usados sempre de forma adequada. Não podemos ficar sem oxigênio!
Afinal, respirar é preciso.