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Do nariz aos pulmões, dos pulmões ao nariz... Percorrendo o sistema respiratório, o pneumologista Elie Fiss, professor titular da Faculdade de Medicina do ABC, desmistifica tudo que pode tirar nosso fôlego.
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Corticoide na Covid-19: entenda o papel do remédio

A medicação é usada para tratar quadros graves de coronavírus, além de outras doenças crônicas. Nosso colunista explica sua eficácia e efeitos colaterais

Por Elie Fiss
Atualizado em 9 fev 2021, 18h45 - Publicado em 9 fev 2021, 09h48
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  • Quando receitamos corticoide para um paciente, independentemente do contexto, não é raro que a pessoa fique com alguns receios, sobretudo por causa de eventuais efeitos colaterais. Ela questiona: vou inchar? Vou engordar? Vai cair minha resistência? E assim por diante.

    Como esses medicamentos podem ser utilizados em quadros de Covid-19, vou tentar esclarecer ainda mais a história. O assunto inclusive veio à tona porque um tipo de corticoide foi o primeiro tratamento a se mostrar realmente efetivo para o controle da inflamação desencadeada pelo coronavírus.

    O primeiro ponto a ser destrinchado é que nosso organismo produz naturalmente uma espécie de corticoide, o cortisol. Esse hormônio é vital para nossa sobrevivência e o equilíbrio do corpo. Assim como sua falta é extremamente prejudicial, o excesso por tempo prolongado pode gerar reações indesejáveis (mas só a longo prazo).

    Um dos efeitos mais estimados do corticoide é sua ação anti-inflamatória. É por isso que prescrevemos a medicação em casos de asma, DPOC, artrite, doenças autoimunes etc. E é também por isso que ela entra em cena contra a Covid-19.

    A infecção pelo coronavírus desencadeia, em alguns pacientes, uma tremenda inflamação, a tempestade inflamatória. Muitos remédios foram testados para combatê-la. Quase todos falharam.

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    Mas um alívio surgiu com os resultados de um estudo internacional, o Recovery, que comprovou que o uso de um tipo de corticoide (a dexametasona) foi positivo em pacientes internados com quadros graves de Covid-19. Agora, outros tipos de corticoide, como a prednisolona, também já estão sendo utilizados com sucesso.

    As pesquisas com os corticoides vêm demonstrando que eles reduzem o número de óbito em pacientes muito graves, diminuem o tempo no respirador, encurtam a internação em UTI e no hospital… E ainda podemos estender esses benefícios a pacientes com quadros mais moderados que são encaminhados à terapia intensiva.

    Mas e os efeitos colaterais? Começamos com a interferência na glicemia de quem tem diabetes. Mas não há motivo para preocupação por aqui: no hospital, conseguimos contornar isso com remédios que baixam o açúcar no sangue. Quando se para de usar o corticoide, tudo volta ao normal.

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    Da mesma forma, inchaços, alteração no nível de glóbulos brancos e facilidade para ter hematomas também regridem após a redução da dose e sua interrupção. Podemos citar ainda reações adversas como visão turva ou piora da catarata, mas, entre centenas de pacientes que temos tratado, são poucos os pacientes que relatam essa condição — as repercussões visuais tendem a acometer mais diabéticos ou quem já tinha problemas oftalmológicos.

    Nas doenças crônicas antes citadas (asma, DPOC e companhia), usamos muitas vezes o corticoide por anos seguidos ou mesmo de forma contínua, sempre com cuidado e monitorando possíveis efeitos colaterais. Interromper o tratamento sem orientação médica é um tiro no pé! Comparando com a Covid-19, o tempo de uso do medicamento na infecção é bem mais curto para nossos padrões — falamos de algumas semanas, um ou dois meses.

    Diante de uma infecção pandêmica, que tem levado milhares de pessoas ao hospital ou a óbito diariamente, o emprego do corticoide, associado a outras medicações como anticoagulantes e ao suporte de oxigênio adequado, traz um enorme alento a quem precisa do tratamento.

    Usando de forma responsável e baseados nas evidências, podemos continuar dizendo, como fazemos entre nós, médicos, “viva o corticoide!”.

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