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Pediatria Descomplicada Garantir saúde, carinho e bem-estar na infância. Esse é o objetivo de cada linha escrita por Kelly Oliveira, pediatra e consultora internacional de amamentação.
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Pais omissos: onde perdemos nossas crianças e adolescentes?

Uma série que mistura brincadeiras infantis com jogos mortais escancara que a violência pode começar dentro de casa, com a conivência dos pais

Por Kelly Oliveira
Atualizado em 2 nov 2021, 11h42 - Publicado em 31 out 2021, 11h50
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  • Em setembro de 2021, a Netflix lançou a série coreana Round 6 que, em pouco mais de um mês, tornou-se a mais assistida dessa plataforma de streaming na história. No entanto, junto com o número surpreendente de telespectadores, o programa traz uma grande preocupação: a exposição de crianças e adolescentes a cenas inapropriadas dentro de casa, ao alcance do controle remoto.

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    A polêmica série se apropria de jogos infantis e faz deles o ponto central de um campeonato de sobrevivência. A equipe que perde em brincadeiras como batatinha-frita 1, 2, 3, bolinha de gude e cabo de guerra é assassinada, enquanto quem vence segue na disputa pelo prêmio milionário.

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    De tanto que as crianças assistiram a esse seriado, cuja classificação etária é de 16 anos, os desafios da ficção viraram febre fora das telas.

    No dia 13 de outubro, uma das “brincadeiras” de violência foi reproduzida na escola francesa College George-Sand. Após um confronto entre alunos do terceiro e sexto ano, cinco estudantes foram levados às pressas ao hospital. De acordo com os relatos, eles foram vítimas de espancamento e massacre.

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    Embora a série seja inapropriada para os mais novos, ainda há quem diga coisas como: “se eu não deixar, eles vão ver em algum outro lugar” ou “não vejo problema, é algo fictício”. Será mesmo?

    Estamos falando de cinco crianças de 8 anos que sofreram espancamento por colegas de 11 anos porque foram influenciadas por um programa que tem cenas de torturas psicológicas, violência explícita, suicídio, sexo e até tráfico de órgãos. Isso é bastante sério. Soube de meninas e meninos muito novinhos que acompanharam essa série.

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    + LEIA TAMBÉM: O comportamento da criança mudou? Pode ser culpa da pandemia

    Também tenho ouvido relatos de escolas preocupadas e de crianças com medo e alterações de comportamento. São efeitos já explicados pela ciência.

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    Um relatório de 2015 da American Psychological Association, feito por especialistas em desenvolvimento infantil e técnicas de meta-análise, revelou que a exposição aos programas de entretenimento com conteúdo violento aumenta pensamentos e comportamentos agressivos, sentimentos de raiva, excitação fisiológica, julgamentos hostis, além de diminuir habilidades de envolvimento pró-social. A garotada ainda demonstra menos empatia e ímpeto de ajudar outras pessoas. Também há prejuízo no desempenho acadêmico.

    Por que esse tipo de conteúdo é tão nocivo

    Crianças não têm total percepção da realidade e, como consequência, podem não diferenciar o que é ficção do que é real. No caso de brincadeiras violentas, isso é extremamente perigoso, elevando o risco de danos físicos e psicológicos irreversíveis.

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    Influências, sejam boas ou ruins, são poderosas. Amigos, colegas da escola, livros e telas: tudo aquilo que seu filho vê e ouve terá grande impacto sobre ele. O ideal é que nós, pais, sejamos os seus maiores “influenciadores”.

    Diante disso, faço uma pergunta a vocês: é preciso ser exposto a violência para ensinar sobre não-violência, respeito e amor ao próximo? É preciso ser exposto a pornografia e sexo explícito para aprender sobre educação sexual? É preciso provar drogas para saber que fazem mal ao corpo?

    + LEIA TAMBÉM: O que acontece na infância não fica na infância

    Então, por que expomos crianças e adolescentes desnecessariamente a uma série que é inadequada para eles? Por que admitimos a nossa própria incapacidade de controlar o que eles assistem, usando argumentos como “eles vão acabar vendo na casa do amigo ou escondido”?

    Se não somos capazes de passar aos nossos filhos valores e virtudes nas quais eles poderão se apegar e, assim, construir seu caráter, devemos reconhecer que há algo de errado conosco. É preciso voltar às bases.

    Não dá para acreditar que uma criança de 10 anos é capaz de tomar suas próprias decisões, julgando o que é bom ou ruim para si. Ela não sabe! É apenas uma criança. Cabe aos pais guardarem seus filhos, protegendo-os de algo que nem sempre os pequenos enxergam o quão ruim é. Fazer menos do que isso seria omissão, e mesmo negligência.

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    Quando um bebê tenta colocar o dedo na tomada ou está prestes a pegar uma faca, nós rapidamente o tiramos de perto dessas ameaças, certo? Pois precisamos fazer o mesmo com as crianças e os adolescentes em relação àquilo que pode prejudicá-los, ainda que eles não tenham a real compreensão do risco.

    Os mesmos pais taxados de “chatos” ou “caretas” serão aqueles que vão ouvir o “muito obrigado” dos seus filhos quando estes forem adultos. Digo isso por experiência própria, pensando na minha infância e adolescência.

    É papel dos pais educar, ensinar princípios e valores que moldarão o caráter da criança e cultivar as virtudes que elas levarão para a vida inteira. E isso não se faz em um dia: é uma construção de anos. Por isso, invista tempo em seus filhos. Abra sempre um espaço para diálogo. Ouça-os de verdade. Encha-os de amor, carinho e atenção. Esse é um investimento que, certamente, valerá a pena.

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