Internações por infarto aumentam 160% em 20 anos
Homens e mulheres enfrentam estatísticas ruins sobre a saúde cardiovascular

Nas duas últimas décadas, houve um aumento de 158% nas internações de homens por infarto. Entre as mulheres, o acréscimo foi de 157%, revelam dados da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).
No total de internações masculinas por doenças cardiovasculares (DCVs) em 2023 no Brasil, quase 85% ocorreram em caráter de urgência. No caso das mulheres, 74% necessitaram de hospitalização emergencial.
Uma das hipóteses para explicar esta prevalência masculina pode ser o fato de o grupo feminino ser mais zeloso, buscando atendimento médico já aos primeiros sintomas, ou de elas cumprirem melhor a recomendação de check-ups periódicos.
Os dados foram tabulados pela Socesp, com base em registros oficiais de 2024 até o último mês de novembro.
Entre as possíveis explicações para esta progressão, o envelhecimento da população e o incremento dos fatores de risco cardiovascular, como a obesidade, hábitos alimentares não saudáveis, sedentarismo e o estresse.
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De qualquer forma, ainda há muitas pessoas chegando ao hospital já no limite de tempo para serem salvas, engrossando as estatísticas de mortes por causas cardiovasculares.
No Brasil, as DCVs respondem por cerca de 30% dos óbitos em 2023, totalizando 388.177 mortes, sendo 205.159 homens e 182.997 mulheres. Só no estado de São Paulo computamos 50.296 óbitos masculinos e 45.237 femininos.
Quanto ao infarto, porém, há uma tendência de queda quando falamos dos mais velhos. Em contrapartida, nota-se um aumento de casos novos e outros já constatados no nicho dos jovens.
Segundo o Posicionamento sobre Doença Isquêmica do Coração, de 2023, a ocorrência de infarto, nas duas últimas décadas, aumentou 23,2% entre mulheres e 25,8% entre homens de 15 a 49 anos. Já a incidência de novos episódios foi de 7,6% (mulheres) e 5,8% (homens).
Outro ponto de reflexão é que doenças cardiovasculares acometem os sexos de maneira distinta. Para os homens, o maior vilão é o infarto (70 mil mortes, em 2023), seguido pelo AVC (54 mil) e doenças hipertensivas (29 mil). Já para as mulheres a ordem é inversa: AVC (51 mil), infarto (47 mil) e doenças hipertensivas (33 mil).
Prevenção
A prática de exercícios físicos e a alimentação balanceada são medidas que ajudam a reverter esses índices que só têm crescido.
A gravidade do quadro denota a necessidade urgente de intervenções em saúde pública, com ações focadas na prevenção, especialmente em relação aos grupos mais vulneráveis, como jovens e mulheres.
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Congresso Socesp 2025
Os prejuízos das doenças cardiovasculares são globais. Elas assinam 70% das mortes por doenças não transmissíveis no mundo. Em 2022, cerca de 19,8 milhões de pessoas morreram vitimadas por DCVs, um aumento de 39,4% em relação a 1990, quando foram registrados 12,4 milhões de óbitos.
Portanto, esta batalha está longe de terminar. De alguma forma estamos falhando no que tange à conscientização da sociedade sobre as consequências muitas vezes irreversíveis desses males.
Não para menos, a palestra de abertura do 45º Congresso da Socesp – que acontece nos dias 19, 20 e 21 de junho, no Transamerica Expo Center, em São Paulo – será sobre o tema.
A conferência estará a cargo da professora de Medicina e diretora de Pesquisa Cardiovascular Intervencionista e Ensaios Clínicos do Mount Sinai School of Medicine, em Nova York, Roxana Mehran. A especialista endossa a relevância do evento: segundo ela, “o Congresso da SOCESP é uma das maiores e melhores reuniões anuais em educação e ciência do mundo”.
Na opinião da professora, a adesão ao tratamento é um ponto de constante atenção na prática clínica. “Precisamos trabalhar duro para ter tempo com nossos pacientes e educá-los sobre sua saúde e seu papel em melhorá-la”, refletiu nossa convidada.
*Ricardo Pavanello é cardiologista e presidente do 45º Congresso da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo