Infelizmente, a dengue está sendo a protagonista do verão brasileiro. Em janeiro de 2024, foram registrados mais de 217 mil casos, segundo dados do Ministério da Saúde – mais que o triplo das notificações do mesmo período do ano passado, quando as autoridades sanitárias contabilizaram 65 366 infecções transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
A dengue causa sintomas como febre alta, dores no corpo, manchas avermelhadas e pode ser fatal. Os óbitos acontecem na ocorrência de complicações, como queda brusca da pressão arterial ou hemorragias.
Mas a dengue preocupa especialmente pacientes crônicos, como aqueles com doença cardíaca. Isso porque muitos cardiopatas fazem uso de anticoagulantes e antiagregantes, remédios de uso contínuo voltados a evitar a formação de coágulos, que provocam a obstrução da circulação sanguínea.
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Acontece que a dengue também compromete a coagulação do sangue. Ou seja, esses medicamentos potencializam o risco de hemorragias importantes provocadas pela infecção.
Perante a dengue hemorrágica, a forma mais grave da doença, a suspensão desses medicamentos deverá ser imediata. Já quando o diagnóstico for da dengue comum, a decisão de interromper o uso de anticoagulantes e antiagregantes plaquetários caberá ao cardiologista.
Mesmo a aspirina – tomada regularmente por muitos em caráter preventivo para tromboses naqueles com doenças vasculares – não deve ser continuada em caso de dengue hemorrágica. Apesar de potencialmente com ação anticoagulante mais leve, ela pode agravar hemorragias nesses pacientes.
A recomendação do Ministério da Saúde é, diante do diagnóstico de dengue, seguir alguns protocolos. Entre eles:
- Se usar anticoagulantes ou antiagregantes e se a contagem das plaquetas estiver acima de 50 mil/mm3, não há porque retirar os remédios.
- Já entre 30 mil e 50 mil/mm³, a orientação é internação para controle plaquetário de rotina. A suspensão das drogas depende do tipo de medicação.
- Quando as plaquetas estiverem abaixo de 30 mil mm³, o controle do sangue deve ser diário, com total cessação de anticoagulantes e antiagregantes. Nesses casos, também pode haver necessidade de transfusão de plaquetas.
É importante lembrar que a pessoa com dengue tem risco de evoluir de um estágio a outro rapidamente. Por esse motivo, todos necessitam de reavaliação frequente até a alta completa.
Prevenção ainda é a palavra de ordem
Desde o ano passado, a rede privada de saúde oferece a Qdenga, uma vacina desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda. São recomendadas duas doses com intervalo de três meses entre elas – e a imunização adequada é conferida um mês após a segunda aplicação.
A vacina é contraindicada para gestantes, lactantes e imunodeprimidos.
O Ministério da Saúde também aplicará a Qdenga em populações específicas – é uma minoria de pessoas, porque há poucas doses disponíveis.
Apesar de este movimento vacinal ter sido iniciado, não existe um tratamento específico para a dengue. Por isso, o melhor caminho para manter distância dessa infecção é exterminar os focos de água e tomar medidas para não ser alvo do mosquito, como usar repelentes.
Especialmente para quem tem uma doença cardiovascular, essas medidas são muito valiosas.
*Idelzuita Leandro Liporace é assessora científica da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, doutora em medicina pela USP e coordenadora do Setor de Anticoagulação Oral do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia