Uma dose de tecnologia após o café da manhã. Este receituário hipotético poderia ser indicado para nós, médicos, por uma razão simples: é eficaz. E a grande maioria dos profissionais de saúde confia nesta prescrição.
Uma pesquisa da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo junto a colaboradores da área aponta que 77,2% dos consultados concordaram que a tecnologia melhora os resultados das terapias propostas e a acuidade dos diagnósticos.
Para 34,2%, o grande bônus com a aplicação das novas tecnologias é o monitoramento do paciente. Outros 34,2% acreditam que o engajamento aos tratamentos é facilitado na medida em que o médico se apropria de métodos interativos, por exemplo. E 19% pensam que os exames ganham qualidade com os processos de inovação.
A telemedicina é um dos modelos mais emblemáticos ao falarmos de tempos modernos. Necessária na pandemia, mostrou sua eficácia e deu provas de que, quando bem utilizada, não corta a relação médico-paciente e ainda otimiza atendimentos, abreviando agendas e desafogando a alta demanda da saúde pública e privada.
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Cerca de 40% dos doutores ouvidos realizam consultas online, no mínimo, de duas a três vezes ao mês. Destes, 19,2% lançam mão do recurso uma ou mais vezes por semana.
Outra solução que parece estar se popularizando nas clínicas é o Registro Médico Eletrônico (EMR). Trata-se de um programa integrativo, que mantém os dados do paciente em uma ficha digital única.
Os EMRs facilitam o rastreamento das fichas cadastrais, identificam a necessidade de cuidados preventivos (como alergias e medicamentos ministrados) e monitoram a qualidade da recepção clínica.
A pesquisa da SOCESP inquiriu os entrevistados e mais de 40% se declararam experts ou com nível avançado para fazer uso dessa ferramenta.
As respostas positivas sobre o emprego da tecnologia na medicina criam um círculo virtuoso, estimulando que os profissionais se interessem pelo tema. Ainda de acordo com o levantamento, 94,9% estão abertos para aprender mais sobre o assunto.
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O levantamento foi realizado pelo head de inovação do Instituto do Coração (InCor) e coordenador da Arena de Inovação do Congresso da SOCESP, Guilherme Rabello, e um time de colaboradores. Os respondentes eram participantes da última edição da Arena de Inovação e Tecnologia, evento que integrou o 43º Congresso da SOCESP, em junho de 2023.
A arena conta com ciclos de palestras sobre as inovações da indústria 4.0 aplicáveis à cardiologia.
Cardiologia de precisão
A cardiologia é uma das especialidades que mais se beneficia com a tecnologia. E isso por alguns motivos:
- Rápida apuração, recuperação e correlação de informações
- Monitoramento remoto e aperfeiçoamento da classificação de risco de pacientes em tempo real
- Composição de tratamentos personalizados
- Coleta, armazenamento e cruzamento automático de dados para aprimorar diagnósticos
- Interpretação à distância
Já entre os novos aparatos à serviço da cardiologia, smartwatches (cintos e pulseiras também) que detectam e notificam alterações no ritmo cardíaco; sensores em pequenos adesivos, que acompanham variáveis, incluindo pressão arterial; ecocardiogramas incrementados por inteligência artificial (IA) e suporte técnico para cirurgias com robôs.
E vem mais por aí: sistemas de IA estão sendo desenvolvidos para medir, por exemplo, depósitos de placas nas artérias coronárias e prever risco de um ataque cardíaco nos próximos cinco anos.
Impossível dizer que todo este arsenal “do bem” desumaniza a medicina. Não há uma só destas novidades que não priorize a pessoa, seja o especialista, seja o paciente. Ao contrário, promove-se uma democratização dos atendimentos, muitas vezes, quebrando até barreiras geográficas, levando o melhor até onde ele não chegaria, não fosse a estrada da tecnologia.
*Ieda Jatene é presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP (gestão 2022/2023)