Por que ainda não temos uma vacina contra o diabetes?
Podemos pensar em ter um imunizante contra o diabetes tipo 1 ou o tipo 2? Nosso colunista reflete sobre isso em tempos de espera pela vacina da Covid-19
Na última semana, um paciente me perguntou no consultório: por que já existem várias vacinas para controlar a Covid-19 em tão pouco tempo e até hoje nada de vacina para o diabetes? É uma questão intrigante e que merece nossa reflexão.
O primeiro ponto a se considerar é que a Covid-19 é uma doença infecciosa cujo agente causador foi devidamente descoberto. A ciência conhece as características físicas, estruturais e genéticas do coronavírus e, com isso em mãos, foi possível planejar e desenhar vacinas. Em resumo, conhecemos a causa da doença.
O diabetes, para começar, não é uma doença só, mas um grupo de doenças. As versões mais comuns são o diabetes tipo 1 e o tipo 2. Este, de longe o mais prevalente, está ligado aos maus hábitos mais comuns nas últimas décadas: sedentarismo, dieta excessiva e desregrada, obesidade…
Além disso, o diabetes tipo 2 possui um grande componente hereditário, que ainda não conhecemos em detalhes. Não há um único gene envolvido com o problema, mas várias unidades do DNA associadas a ele.
Assim, como vamos mudar a carga genética de uma pessoa com tantos genes em jogo? Como vamos vacinar uma pessoa para comer menos? Ou, então, imunizá-la para se exercitar mais? Isso não existe.
Pensando agora no diabetes tipo 1, aquele que, desde o início, depende da reposição de insulina, o fato é que não conhecemos sua causa até hoje! Simplesmente não sabemos ao certo o motivo pelo qual o sistema imune das pessoas que desenvolvem a doença passam a agredir as células produtoras de insulina lá no pâncreas. Se não sabemos a causa, como podemos fazer uma vacina?
É por essas e outras que é tão difícil prevenir ou mesmo curar o diabetes. Mais e mais pesquisas são necessárias para entendermos melhor cada tipo de diabetes, suas causas e, assim, pensar se vacinas poderão ser úteis ou não nesse contexto.