Ele é médico e tem Parkinson: “IA me ajuda a seguir atendendo”
Diagnosticado com a doença aos 40 anos, Jonathan teve que se reinventar para manter sua dedicação à medicina

Há 20 anos, tenho o prazer de exercer a medicina e contribuir, todos os dias, para cuidar da saúde das pessoas. Mas essa história é sobre estar “do outro lado da mesa”.
Sou médico pneumologista e há quatro anos, recebi o diagnóstico da doença de Parkinson, uma condição que não tem cura e que poderia mudar completamente a minha vida, inclusive comprometendo minha atuação profissional.
Em 2021, aos 40 anos de idade, comecei a sentir alguns sintomas estranhos. Em alguns momentos, tinha dificuldade para iniciar ou completar movimentos, como caminhar ou levantar de uma cadeira. Minha mão esquerda também passou a apresentar tremores leves, mas que me impediam de fazer atividades rotineiras, como escrever ou segurar objetos.
Como médico, sabia que algo estava errado e que era preciso investigar. Mas, como paciente, estava com medo do que poderia ser descoberto.
Foram cerca de três meses até a confirmação do diagnóstico. Após uma cintilografia cerebral, o médico me chamou e disse que o padrão do resultado obtido com o exame era compatível com Parkinson.
Fiquei em choque. Fazia poucos meses que a minha mãe havia falecido de Covid-19 por conta de complicações graves. A notícia foi avassaladora, me deixando assustado e deprimido.
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O medo do futuro
Parkinson é um distúrbio neurológico crônico, progressivo e que afeta o sistema nervoso e ocorre devido à degeneração das células cerebrais que produzem dopamina, um neurotransmissor essencial para o controle motor.
Embora não tenha cura, o tratamento ajuda a controlar os sintomas e garantir que tenhamos qualidade de vida.
Junto com o diagnóstico e tudo que eu conhecia sobre a doença, vieram as inseguranças e incertezas sobre o futuro. O que a doença poderia tirar de mim? Comprometeria minha independência? Como seria o convívio com a minha filha? E os meus pacientes, poderia seguir atendendo?
Minha mente foi tomada por infinitos questionamentos. Mas, sabia que precisava ser racional e encarar a situação, buscando todas as alternativas para manter ao máximo a normalidade da rotina.
O tratamento com medicamentos tem sido uma solução para controlar os sintomas e me permitir continuar realizando minhas atividades.
Ajuda da tecnologia
Por ser pneumologista e atuar de forma mais clínica, consigo atender os pacientes sem limitações.
No entanto, meu maior desafio foi digitar o prontuário de cada paciente. Por conta das dificuldades motoras, essa tarefa me exigia muito e eu demorava para executar.
Ainda que a doença nunca tenha impactado na qualidade do atendimento clínico, lembro disso me deixar ansioso antes de cada consulta. Me sentia constrangido pelo tempo que levava para digitar.
Há três meses, a inteligência artificial tem sido minha parceira diária nas consultas. Descobri e tenho usado em todos os atendimentos o assistente virtual Noa Notes, da Doctoralia. A ferramenta anota automaticamente as informações e faz um resumo detalhado do atendimento, sem que eu precise digitar.
Se para qualquer profissional da saúde, essa ferramenta facilita muito a rotina, no meu caso, ainda contribui para autoconfiança. Eu consigo realizar um atendimento olho no olho, muito mais humanizado, com foco total no paciente.
A tecnologia me tirou da frente do computador durante a consulta e me permitiu ficar exclusivamente diante do meu paciente, um tempo de qualidade fundamental para o bom exercício da medicina.
Com as anotações para o prontuário sob responsabilidade da inteligência artificial, as minhas condições motoras não me incomodam mais, e posso seguir fazendo uma das coisas que mais amo, clinicar com confiança.
* Jonathan Jerias Fernandez é médico, tem 44 anos e convive com a Doença de Parkinson