“Depois do parto, descobri que o câncer tinha se espalhado pelo meu corpo”
Julia Maués descobriu que tinha câncer enquanto estava grávida, e vive há mais de uma década com uma doença metastática. Confira seu relato

Sou brasileira, mas moro fora do Brasil desde 2002. Em 2013, durante a gestação, aos 29 anos, encontrei um caroço no seio. Recebi o diagnóstico de câncer de mama HER2+ e comecei a quimioterapia ainda grávida.
Meu filho nasceu cheio de saúde. Ver aquele bebê forte, com tanto cabelo mesmo depois da quimioterapia, trouxe uma alegria difícil de descrever. A placenta fez seu trabalho: protegeu ele como a gente esperava.
Pouco depois do parto, descobri que o câncer já tinha se espalhado por todo o meu corpo. A partir dali minha vida mudou completamente. Deixei meu trabalho como economista para focar no tratamento e em estar com o meu filho.
Desde então, sigo em tratamento — enfrentando efeitos colaterais duros e, ao longo dos anos, algumas complicações no caminho, como um problema no coração causado pela toxicidade dos medicamentos. Mas vivo há mais de uma década com câncer metastático. E sigo porque tive acesso aos tratamentos mais novos, com equipes excelentes e um bom seguro de saúde.
Todos os medicamentos que usei só existem porque um dia foram estudados em pesquisa. Antes de terem nome, eram apenas números em protocolos de pesquisa. Estar viva hoje é um resultado direto do avanço da ciência.
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Com o tempo, me tornei defensora da ideia de que o paciente precisa ser parte ativa das decisões sobre seu tratamento. E que qualidade de vida importa tanto quanto eficácia. Isso é ainda mais importante em doenças crônicas como o câncer metastático, onde o tratamento nunca acaba.
É por isso que admiro tanto o trabalho do Instituto Projeto Cura. Trata-se de uma instituição de vanguarda, sem fins lucrativos, criada em 2016, que se dedica a conscientizar a sociedade sobre os benefícios das pesquisas clínicas e a endereçar a sua importância para avanços no tratamento do câncer — um tema essencial para a saúde pública e a qualidade de vida da população do Brasil e da América Latina.
Se eu continuo viva hoje, é por causa da ciência. Mas, se eu continuo vivendo de verdade, com autonomia e dignidade, é porque aprendi a participar das decisões sobre meu cuidado. E as pessoas vivendo com câncer no Brasil também têm esse direito.
*Julia Maués tem 41 anos e vive nos Estados Unidos. É ativista da causa do câncer de mama metastático