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Você realmente conhece o ar que respira?

Monitorar e melhorar a qualidade do ar dos ambientes é uma questão cada vez mais prioritária para a saúde

Por Leonardo Cozac e Marcelo Munhoz, do Qualindoor ABRAVA*
14 out 2022, 09h19
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  • Bebemos em torno de 2 litros de água por dia, um hábito essencial para a nossa saúde que aprendemos a cultivar desde a infância, quando também nos ensinam que a água deve ser inodora, insípida e incolor. Se o líquido não estiver nessas condições, você o beberia? O mesmo tipo de reflexão vale para a qualidade do ar que respiramos diariamente. A diferença é que nem sempre podemos identificar se ele está adequado ou não.

    De acordo com o Qualindoor – Departamento de Qualidade do Ar Interno da ABRAVA (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), respiramos cerca de 10 mil litros de ar por dia e não conseguimos passar mais de poucos minutos sem ele.

    Mas, por incrível que pareça, ainda não aprendemos a cuidar devidamente do ar em benefício da nossa saúde da mesma maneira que cuidamos da água ou dos alimentos que ingerimos. Quer ver alguns exemplos? Você sabe como está a qualidade do ar que respira agora, enquanto lê este artigo? Não importa se está dentro de casa, no escritório, no automóvel ou na rua. É bem provável que não faça ideia se o ar que respira está bom ou não.

    Temos o hábito de limpar superfícies, pisos e móveis dos ambientes, retirando a poeira grossa visível. Mas o que acontece com o ar desses locais? Será que basta higienizar superfícies? Veja, se o processo não for bem feito, jogamos partículas finas, invisíveis a olho nu, no ar que respiramos.

    É o que acontece quando usamos vassouras ou espanadores. Mesmo o aspirador de pó só retém parcialmente essa sujeira mais fina capaz de se infiltrar no sistema respiratório. E isso se o aparelho contar com bons filtros de ar e eles forem limpos e trocados com frequência.

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    Se queremos respirar um ar mais saudável, livre de poluentes, também devemos ficar atentos a ele. Vamos a outros exemplos do dia a dia. Será que prestamos atenção à qualidade do ar de ambientes como a academia de ginástica ou a escola dos nossos filhos?

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    No primeiro caso, as trocas respiratórias são mais intensas devido ao esforço físico realizado. No segundo, as crianças ficam em salas fechadas por horas, necessitando de um espaço saudável que garanta o aporte adequado à atenção e ao desempenho. A concentração elevada de CO2, por exemplo, costuma levar a fadiga, sonolência, mal-estar e dores de cabeça.

    Provavelmente, a qualidade do ar dentro desses lugares não está na prioridade dos gestores. E pelo simples motivo que os clientes não costumam checar nem exigir uma boa qualidade do ar interno. Mesmo os donos dos estabelecimentos nem sempre estão atentos a esse aspecto tão relevante para a segurança e a saúde de quem frequenta tais espaços.

    Já está claro que a sociedade moderna não aprendeu a cuidar do ar que respira. Mas precisamos chamar atenção a esse tema, com o desafio de gerar conscientização sobre algo que não sentimos ou enxergamos. Além do controle de poluentes em geral, um primeiro passo é dar atenção a sistemas de climatização dos ambientes. Instalações e manutenção adequadas são fundamentais.

    O Brasil possui legislações antigas, as quais exigem, desde 1998, que ambientes com ar-condicionado tenham um Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC), com um responsável técnico, bem como laudos semestrais da qualidade do ar interno. O consumidor tem direito ao acesso a esses documentos.

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    Se isso virasse um hábito, as empresas e estabelecimentos certamente passariam a prestar mais atenção e a investir na melhoria do ar interno.

    Um ponto em que todo mundo deve ficar de olho é se qualquer local fechado possui alguma ventilação que permita a entrada do ar atmosférico, a circulação e a renovação do ar interno. Pode ser ventilação natural ou mecânica, sendo essa mais indicada devido à capacidade de promover a troca com a insuflação de ar filtrado e controlado (no caso, os filtros retêm a poluição, ajudam a controlar a umidade e temperatura e nos protegem de ruídos e intempéries).

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    Outras medidas de higienização dos ambientes, com produtos e processos certificados, são necessárias. Recomendamos, por exemplo, aspiradores de pó com filtros do tipo HEPA, similares aos usados em hospitais e aeronaves, que já estão disponíveis no mercado com preços mais acessíveis.

    O uso de purificadores de ar nos ambientes fechados também é um meio de proteção. Assim como purificamos nossa água, podemos purificar o ar. Muitos equipamentos já possuem filtros modernos ou são dotados de novas tecnologias, como a fotocatálise ou as lâmpadas UV-C.

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    Do mesmo modo que acontece com as edificações, devemos cuidar do ar que respiramos dentro dos automóveis e dos transportes públicos. O filtro de ar do veículo ou da cabine precisa ser trocado de tempos em tempos. Já checou como está o filtro do seu carro? Ele é o elemento que nos protege da poluição atmosférica.

    Nesse contexto, também orientamos às pessoas que passam longo tempo dentro de um veículo que mantenham a renovação do ar externo com alguma frequência. Isso permite diluir e dispersar poluentes, gás carbônico e até mesmo micro-organismos.

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    E um último alerta, especialmente para a população que utiliza fogão à lenha para cozinhar. A fumaça residual dessa queima é muito prejudicial à saúde humana. Por isso, é necessário cozinhar em ambientes abertos ou bem ventilados. Se for dentro de casa, o fogão deve estar perto de janelas, conectado a uma chaminé ou a um exaustor mecânico. Também são bem-vindos ventiladores para ajudar a expulsar a fumaça do ambiente.

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    Tudo isso faz parte de uma questão de saúde pública. E deveria estar mais contemplado nas ações e políticas determinadas por nossos governantes. O custo de uma campanha de conscientização ou mesmo o fornecimento de sistemas de proteção do ar à população carente é muito inferior às despesas do Estado com doenças relacionadas.

    As pessoas passam em torno de 90% do tempo de suas vidas em ambientes fechados. Cuidar do ar que respiramos é decisivo para ter uma vida segura e saudável. Pense nisso!

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    * Leonardo Cozac é engenheiro, fundador do Qualindoor ABRAVA e presidente do PNQAI – Plano Nacional de Qualidade do Ar Interno; Marcelo Munhoz é presidente do Qualindoor ABRAVA

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