Qual foi a última vez que seu médico lhe falou sobre vacinação? Não, não estou me referindo só à Covid-19, mas ao calendário de imunizantes que, quando seguido religiosamente, nos protege de dezenas de doenças infecciosas.
Sabemos que a relação médico-paciente mudou e as vacinas vira e mexe são alvo de esquecimentos ou de medos descabidos. Daí a importância de o profissional conhecer o histórico de quem atende e transmitir orientações de confiança — inclusive sobre imunização.
Foi de olho nisso que, ao lado de especialistas da ADJ Brasil, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), participei da condução de uma pesquisa com 2 027 pessoas com diabetes, pais e mães de crianças com a condição e cuidadores.
Chama a atenção de saída que 56% dos adultos com a doença não se recordavam de quando o médico havia falado sobre vacinação em consulta. E é interessante contrastar esse dado com o obtido do grupo de pais e mães de crianças com diabetes: 74% disseram que o pediatra abordou o assunto.
Isso nos leva a crer que a temática fica restrita ao consultório pediátrico e há uma negligência de boa parte das outras especialidades médicas em trazer a vacinação para o momento do atendimento.
A situação é ainda mais urgente em se tratando de diabetes porque existe um calendário vacinal específico para esses pacientes. Só que a nossa pesquisa revela algo preocupante: mais de 85% dos participantes desconhecem a existência desse calendário. Precisamos mudar isso!
Na pandemia, ficou evidente que pessoas com diabetes são mais suscetíveis a complicações por infecções como a Covid-19. A hiperglicemia, o aumento da taxa de açúcar no sangue, leva a alterações imunológicas e torna essa parte da população mais vulnerável a vírus, bactérias e afins.
Outra informação de destaque do nosso estudo é que 93% dos entrevistados não conheciam os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs). Ocorre que imunizantes como a vacina pneumocócica polissacarídica 23-valente, indicada a indivíduos com diabetes, encontram-se somente nesses centros, que, segundo levantamento da SBIm, não passam de 60 em nosso país. Como resultado desse desconhecimento, a maioria dos participantes da nossa pesquisa não tomou ainda esse imunizante que os defende de bactérias por trás de pneumonia e outros males.
Os achados que trazemos à luz ressaltam a necessidade de estreitar a interação dos médicos com seus pacientes e firmar uma conexão mais sincera, responsável e humanizada. Dentro desse escopo, é essencial que o profissional, a despeito da especialidade, fale e oriente sobre o papel das vacinas.
Quando o médico dá a devida atenção ao paciente, o trata como um todo e tira as dúvidas e receios dele, consegue construir uma relação de confiança que gera maior adesão às medidas preventivas e terapêuticas. E, no fundo, toda a sociedade tem a ganhar com isso.
* Vanessa Pirolo é jornalista, tem diabetes tipo 1 e representa 35 associações de pacientes junto ao governo federal pela ADJ Brasil