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Uso indiscriminado de antibióticos aumenta risco de nova pandemia

Esses medicamentos precisam ser utilizados com muita cautela. Médico explica

Por Cleber Sato, médico*
21 nov 2022, 09h01
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  • No mês de novembro, mais especificamente entre os dias 18 e 24, é celebrada a Semana Mundial de Conscientização Antimicrobiana, data criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conscientizar sobre um problema grave que pode resultar até mesmo em uma nova pandemia: a resistência bacteriana.

    Considerada um risco para a humanidade, que pode ser igual ou pior do que o Covid-19, a resistência bacteriana acontece quando microrganismos se adaptam e tornam-se superbactérias. Estas, por sua vez, conseguem criar um escudo contra os antibióticos que teoricamente agiriam em seu combate.

    Antes mesmo da chegada do coronavírus e da pressão sobre os sistemas de saúde de todo o mundo, a OMS já estava alerta para o avanço da resistência bacteriana.

    Em 2019, a agência das Nações Unidas divulgou um relatório no qual foi revelado que, até 2050, o número anual de mortes causadas por superbactérias poderá bater os 10 milhões e que, atualmente, esse número já é de 700 mil vítimas por ano.

    Isso pode levar a um cenário no qual nenhuma das sete classes de medicamentos antibióticos terão o efeito esperado no combate ao desenvolvimento de microrganismos nocivos.

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    Deixando o cenário caótico de lado, você pode estar se perguntando o porquê de as bactérias estarem se tornando resistentes. Isso envolve diversos fatores, como:

    E, apesar do aviso da OMS, a chegada da Covid-19 fez com que muita gente passasse a utilizar ainda mais antibióticos de maneira equivocada, tanto para “prevenir” como para “tratar” o vírus.

    Com isso, após esses dois anos de pandemia, pesquisadores estimam que o cenário de 10 milhões de mortes por resistência bacteriana em 2050 poderá ser antecipado para 2030 ou 2040.

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    + Leia também: Como descartar remédios para não contaminar o meio ambiente

    Um lembrete: antibiótico não combate vírus!

    Além da fatalidade em si, um cenário em que não seja possível contar com os medicamentos antibióticos existentes hoje traria o mesmo tipo de sobrecarga aos sistemas de saúde público e privado, ao meio ambiente e à economia.

    O problema tende a atingir primeiro as camadas mais pobres da sociedade – que são os que mais sofrem com a falta de acesso e cuidados –, elevando os custos de possíveis tratamentos alternativos para o combate de infecções, que, até então, seriam simples de se resolver.

    Também ficariam comprometidos processos cirúrgicos de baixo e alto grau de complexidade, além de procedimentos como quimioterapia e imunoterapias, uma vez que pacientes que fazem uso desse tipo de intervenção acabam com problemas de imunidade e são mais suscetíveis a doenças oportunistas, causadas por microrganismos.

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    Desde 2010, a compra de medicamentos antibióticos no Brasil é controlada por meio de receita médica, mas, ainda assim, há pessoas que fazem uso dessas substâncias em excesso ou por conta própria.

    No relatório sobre Vigilância no Consumo de Antibióticos (2016-2018), também da OMS, o país aparece como o 17º em consumo diário de antibióticos – o que equivale a cerca de 22 doses por cada mil habitantes. É certo afirmar que, após a pandemia, esse número subiu ainda mais.

    Como impedir o desastre

    Enquanto há aproximadamente 43 novas moléculas de antibióticos em desenvolvimento no mundo, algumas mudanças podem contribuir para evitar uma possível pandemia de resistência bacteriana em um futuro próximo.

    Para a indústria, fica o desafio de investir em pesquisa e desenvolvimento na área de bacteriologia e evitar a disseminação de poluentes.

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    + Leia também: Monitorar vírus, fungos e bactérias pode evitar novas pandemias

    Já para os profissionais de saúde fica o compromisso de estudar a fundo causas de infecções e possíveis formas de combate, indicando o uso de antibióticos somente quando necessário.

    Para o poder público, cabe a responsabilidade de garantir o acesso à saúde de qualidade e ao saneamento básico, além da preservação do meio ambiente.

    E, para a sociedade, fica a questão da conscientização. Simples atos já contribuem (e muito) para evitar um cenário de criação de superbactérias. Alguns exemplos:

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    Após mais de dois anos de sobrecarga na saúde, de mais de 6 milhões de mortos e de muita resiliência para seguir em frente, fica o aprendizado de que evitar uma nova pandemia – no caso a de resistência bacteriana – apesar de ser uma tarefa complexa, é responsabilidade coletiva.

    *Cleber Sato é diretor médico da Sandoz do Brasil e médico nas áreas de Ginecologia, Obstetrícia, cirurgias videolaparoscópicas e histeroscópicas e tratamento de endometriose

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