A cirurgia de transplante capilar existe desde os anos 1950. O procedimento era então rudimentar e o resultado ficava aparente, com aspecto artificial, conhecido como “cabelo de boneca”.
Com pesquisas e aperfeiçoamentos técnicos, a restauração capilar chegou à era do transplante de unidades foliculares (estrutura composta pelo fio de cabelo e seu bulbo), no fim dos anos 1990.
Com a retirada de um pedaço de pele do couro cabeludo, o cirurgião e sua equipe preparavam, com microscópios, os enxertos foliculares.
Uma cicatriz linear, situada debaixo dos cabelos, ficava escondida, contanto que o paciente mantivesse um corte relativamente longo.
Assim, com a colocação dos enxertos foliculares fio a fio, o cirurgião conseguia replicar a natureza. Ao pentear os cabelos transplantados, o paciente ficava satisfeito: não havia sinal de uma cirurgia.
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Expansão das técnicas de implante capilar
A partir dos anos 2010, desenvolveu-se o procedimento chamado FUE (extração de unidades foliculares). Nele, as raízes de cabelo são extraídas do couro cabeludo, sem retirar a pele e sem deixar cicatriz linear.
Com essa nova técnica, houve grande expansão dos profissionais aprendendo e executando o transplante capilar. Além da popularização, houve uma banalização desta cirurgia.
Hoje, vemos um grande número de clínicas de franquia e de “fundo de quintal”, realizando procedimentos sem o adequado preparo e com profissionais mal treinados.
No Brasil, desde o começo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), houve interesse no estudo dos cabelos e de assuntos a eles correlacionados.
Ou seja, há mais de 70 anos, a cirurgia da calvície e o estudo das doenças do couro cabeludo são assuntos específicos do cirurgião plástico e do dermatologista.
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Recentemente, diante da banalização da cirurgia de transplante capilar, a Associação Brasileira de Cirurgia da Restauração Capilar (ABCRC) solicitou um posicionamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre quem seria o profissional médico capacitado e habilitado e realizar esse procedimento.
O parecer 03/2023 do CFM, aprovado na última semana, reconheceu que o transplante capilar é ato médico. Portanto, não é permitido que não-médicos (dentistas, fisioterapeutas, enfermeiro etc.) realizem o procedimento.
A determinação estabelece ainda que somente médicos cirurgiões plásticos e dermatologistas podem ser responsáveis técnicos de clínicas e hospitais que atuem nessa área.
Também, a publicidade relativa ao procedimento deve ficar restrita a cirurgiões plásticos e dermatologistas, sob pena de infração ética por ausência de titulação.
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Medida importante
Um dado identificado em nosso Censo de Transplante Capilar 2023 reforça a importância da regulação: 12% dos profissionais habilitados trataram pacientes que necessitavam de reparo de cirurgia anterior feita por profissionais não habilitados ou clínicas clandestinas.
Desses pacientes, 15% tiveram que refazer o procedimento.
Trata-se, portanto, de uma medida extremamente necessária para a proteção da saúde pública, que evitará novos desfechos ruins.
Atividades médicas não devem ser praticadas por aventureiros sem o conhecimento e a estrutura necessária. Ganham o bem-estar e a qualidade de vida daqueles que desejam passar pelo procedimento!
*Henrique Radwanski é presidente da Associação Brasileira de Cirurgia da Restauração Capilar (ABCRC) e Gustavo Mercadante é advogado da ABCRC