Sobreviver ao AVC é só o começo: saiba a importância da reabilitação
Pelo menos 70% das pessoas que sobrevivem a um derrame não são corretamente encaminhadas para serviços e tratamentos de reabilitação
O acidente vascular cerebral (AVC) acumula números de incidência cada vez mais alarmantes: no Brasil, ele é considerado a principal causa de óbito, com cerca de 307 vítimas por dia.
Estudos mostram que um em cada quatro adultos acima dos 25 anos terá um AVC ao longo da vida e essa é uma condição cada vez mais recorrente em pessoas jovens. Além disso, é a principal causa de incapacidade a longo prazo, reduzindo a mobilidade e a qualidade de vida em mais da metade das pessoas que sobrevivem a ele.
Sempre falamos da importância de estar atento aos sinais do AVC e da necessidade de encaminhamento rápido da vítima à assistência médica. De fato, é importante ter isso em mente para prestar os primeiros socorros em momentos como esse. Porém, muito além disso, precisamos falar do pós-AVC.
Afinal, uma vez passada a fase aguda e conquistada a alta hospitalar, qual é o encaminhamento necessário para este indivíduo?
Hoje já sabemos que pelo menos 70%, das pessoas que sofrem um AVC não recebem o referenciamento adequado para reabilitação e acompanhamento, o que é preocupante, uma vez que as sequelas do episódio são a principal causa de incapacidade nesses pacientes.
O referenciamento após o derrame deve ser direcionado justamente à prevenção da incapacidade, à melhora da funcionalidade e à adaptação para uma vida mais adequada ao mundo exterior.
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Nesse cenário, ainda é preciso lembrar que o paciente não é o único impactado, já que ele também passará a contar com o apoio daqueles que estão ao seu redor, como família, amigos, vizinhos e cuidadores profissionais.
Qualquer grau de incapacidade que essa pessoa enfrente acaba por se refletir em toda essa rede, já que a percepção de vida de todos os envolvidos passa a ficar limitada também.
Contudo, não precisa ser assim – quanto antes o paciente for encaminhado para uma equipe multidisciplinar – com neurologistas, fisiatras, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, dentre outros – melhor será o seu prognóstico.
Espasticidade
Usemos a espasticidade como um exemplo. Presente em até 40% dos casos pós-AVC, a condição é caracterizada pela desordem do controle motor que leva a uma contração muscular involuntária e muitas vezes intensa e dolorosa.
A partir da data do derrame, o paciente pode apresentar esses sintomas em até três meses. Caso essa complicação não seja corretamente diagnosticada e tratada em tempo hábil, há o risco de encurtamento permanente do músculo, além de gerar mais incapacidades ao paciente.
Além disso, apenas especialistas como neurologistas e fisiatras são capazes de diagnosticá-lo e vão indicar soluções terapêuticas que tenham a funcionalidade como meta principal.
Abraçar os sobreviventes
Ao longo de todo o ano, vemos nas redes sociais e na imprensa lembretes da importância de reconhecer os sinais do derrame. Mas essa conversa precisa ser ampliada e abraçar também os sobreviventes, cujas necessidades não podem mais passar despercebidas.
É fundamental lembrar que, após um AVC, surgem dificuldades que podem atrapalhar muito a vida. E elas devem receber tratamento adequado, não só pelo bem do próprio indivíduo, mas de sua rede de apoio e da sociedade como um todo.
* Eduardo Melo, médico fisiatra do Serviço de Reabilitação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo