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Saúde mental e doenças de pele: um círculo vicioso e silencioso

Acompanhamento psicológico é essencial para o tratamento de condições como psoríase, lupus e vitiligo

Por Cynthia Nara, farmacêutica*
9 nov 2024, 07h00
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  • A relação entre saúde mental e doenças de pele é um tema que merece destaque nas discussões sobre o bem-estar integral do indivíduo.

    A pele, a maior barreira protetora do corpo humano, não apenas desempenha funções biológicas vitais, mas também reflete o estado emocional de uma pessoa.

    Ao longo dos anos, tenho observado que pacientes com condições que acometem a pele, como psoríase, albinismo, dermatite atópica, vitiligo e lúpus, enfrentam não apenas desafios físicos, mas uma sobrecarga mental significativa.

    A interface entre cérebro e pele é tão profunda que, muitas vezes, o sofrimento emocional desencadeia ou agrava a condição dermatológica, criando um ciclo de frustração, isolamento e, em muitos casos, depressão.

    A pesquisa sobre esta conexão é cada vez mais robusta. Segundo o estudo “Relação entre psoríase, depressão e ansiedade“, publicado pela revista Ibero-Americana, há uma alta prevalência de transtornos psicológicos em pessoas com psoríase. Sendo em média 30% a 40% para a depressão e 20% a 30% para a ansiedade, números significativamente maiores do que na população geral.

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    No entanto, o impacto na autoimagem e na forma como esses indivíduos se veem frequentemente passa despercebido, mas é fundamental para entender a gravidade do quadro de saúde geral do indivíduo.

    A autoimagem é um conceito-chave que sustenta a percepção de si mesmo. A pele, sendo o primeiro ponto de contato com o mundo, tem um papel central nessa percepção. Conforme um estudo brasileiro, este órgão é parte essencial da imagem corporal e é também um instrumento de manifestação cultural.

    Dessa forma, seu comprometimento por lesões, principalmente se forem visíveis, pode acarretar sofrimento psíquico ao indivíduo, o que aumenta a sensação de estresse e dos níveis do hormônio cortisol no sangue.

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    Esse hormônio tem influência direta na imunidade do organismo como um todo, incluindo a ativação de células de defesa na pele e liberação de radicais livres, o que favorece a fragilidade cutânea e piora os quadros dermatológicos.

    +Leia tambémO que é e o que faz o cortisol?

    Portanto, quando a pele está comprometida, a percepção da própria identidade é desafiada, e isso pode gerar uma espiral de autocrítica e estresse. que só agrava a condição original e a saúde mental.

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    Além disso, pacientes muitas vezes evitam interações sociais em decorrência do estigma e da falta de conhecimento das pessoas acerca do tema. Isso afeta suas relações e favorece, perigosamente, o isolamento. Segundo estudos, portadores de doenças dermatológicas sofrem preconceito social, sendo discriminados de diversas formas.

    No artigo “Aspectos psicológicos em dermatologia: avaliação de índices de ansiedade, depressão, estresse e qualidade de vida”, por exemplo, há uma frase bem emblemática que diz:

    “As doenças de pele, diferentemente de outras doenças, estão expostas ao externo e, talvez por isso, as pessoas com estas condições necessitem de adaptação tanto à sua doença quanto à exposição ao outro.”

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    Na frase, fica claro que esse impacto não se deve apenas à carga emocional associada à administração de sua doença, mas também à incessante batalha contra olhares curiosos e comentários insensíveis que minam a autoestima e bem-estar psicológico dos portadores de peles raras.

    É fundamental ressaltar a necessidade de uma abordagem psicoterápica para estes indivíduos, em conjunto ao tratamento medicamentoso da patologia. A abordagem deve ser integrada, e isso impacta inclusive no sucesso do próprio tratamento.

    Felizmente, nos últimos anos as estratégias de manejo para doenças de pele evoluíram, incorporando a importância da saúde mental. Essa combinação é essencial para quebrar o ciclo de dor física e sofrimento emocional. O tratamento não é apenas sobre curar a pele, mas também sobre curar o coração e a mente daqueles que vivem com essas condições.

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    *Cynthia Nara é farmacêutica, doutoranda pelo departamento de Farmacognosia e Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de  Minas Gerais (UFMG), fundadora e CEO da Pele Rara, startup que desenvolve produtos para peles sensíveis.

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