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Reumatologistas ainda são poucos e raros no Brasil

No Dia Nacional de Luta contra o Reumatismo, médico explica o papel da especialidade e por que precisamos ampliar a oferta e o acesso a esse profissional

Por Jayme Fogagnolo Cobra, reumatologista*
Atualizado em 30 out 2020, 14h35 - Publicado em 30 out 2020, 09h38
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  • Parece no mínimo paradoxal comemorar o Dia Nacional de Luta contra o Reumatismo em um país em que pode haver mais de 20 milhões de pessoas acometidas por doenças reumáticas e, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), existem cerca de 2 400 especialistas disponíveis para atendê-las. O cenário fica pior quando pegamos dados do IBGE e da Previdência Social mostrando que os problemas reumáticos representam a segunda maior causa de solicitações de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez no Brasil.

    Para complicar, desse número total de reumatologistas citado acima, mais da metade se concentra em São Paulo e atende em consultórios particulares. Qual é o motivo de tamanha discrepância?

    Primeiro, a falta de conhecimento sobre o reumatismo, termo que na verdade abrange mais de 120 tipos de doenças que podem estar ligadas a articulações, músculos, ligamentos, tendões ou ao próprio sistema imunológico. Falamos de um universo que compreende artrites, dores nas costas, tendinites e bursites causadas por esforços repetitivos e doenças inflamatórias autoimunes. E que engloba estudos bioquímicos e cruzamentos com outras especialidades.

    Muitas vezes, a dor e o inchaço numa articulação vêm de um problema autoimune, por exemplo. Uma dor contínua nas costas pode ser o primeiro sintoma de uma condição chamada espondilite anquilosante. A questão é que essas doenças precisam de um reumatologista para fazer o diagnóstico precocemente. Em geral, as pessoas com esses sintomas procuram o ortopedista, que cuida mais de traumas. Nós, reumatos, é que tratamos das “ites” que têm causas inflamatórias. Em meio a essa busca equivocada, brasileiros ficam sem diagnóstico e tratamento adequados.

    Outro mito em torno das doenças reumáticas é pensar que elas se restringem aos idosos. Não é verdade. Elas surgem em sua maioria por um mau funcionamento do sistema imunológico, podendo aparecer em qualquer idade e não acometer só as juntas. Assim, provocam dores e outros sintomas, além de abalar a qualidade de vida, inclusive em pessoas mais jovens.

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    Um terceiro aspecto, e que reflete o que apontei há pouco, é que o acesso ao especialista, tanto no sistema público como no privado, ainda é muito difícil. Aprendi com os ensinamentos do meu avô, o professor Castor Jordão Cobra, um dos pioneiros nos estudos e no tratamento das doenças reumáticas no país, que a reumatologia deveria seguir um caminho democrático. Portanto, é importante consolidar serviços mais completos, que atuem também em hospitais e possam ampliar exponencialmente o acesso aos cuidados nessa área.

    Inclusive em tempos de adversidade como o da pandemia de Covid-19. Quando o coronavírus chegou ao Brasil, os reumatologistas tiveram de assegurar e resguardar seus pacientes com respostas imediatas. Por isso, a minha equipe assistiu e leu inúmeras discussões de como o novo vírus poderia afetar pacientes em tratamento de doenças autoimunes. Assim como milhares de outros médicos ao redor do mundo, refletimos e elaboramos estratégias para protegê-los.

    Nesse contexto, realizamos um estudo prospectivo com 100 pacientes em tratamento de doenças autoimunes desde o início da epidemia, que foram monitorados durante quatro meses. Mensuramos os anticorpos, testamos a presença do vírus e concluímos que durante o pico da pandemia os pacientes se comportaram como o restante da população. Nenhum deles evoluiu para um quadro grave ou precisou ser internado.

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    Dos 18 que foram infectados pelo Sars-CoV-2, quatro tiveram a doença de forma branda e 14 evoluíram assintomáticos. Os resultados dessa pesquisa, conduzida pela Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra, a Dasa e o Hospital Santa Paula, se somam a outras evidências internacionais que guiaram a continuidade dos tratamentos de forma segura e embasada nesses pacientes.

    Eu e todos os especialistas que participaram do estudo acreditávamos que mesmo com o pequeno número de 2 400 profissionais pelo país ainda podemos provar para essas mais de 20 milhões de pessoas que sim, somos poucos, raros, mas estamos aqui para servir e ampliar cada vez mais o acesso a quem sofre com essas doenças crônicas.

    E vamos continuar nossos trabalhos e esforços para que qualquer pessoa acometida por uma doença reumática possa se sentir acolhida e segura, nutrindo a esperança de que um dia esses números se invertam e possamos oferecer uma assistência mais democrática.

    * Jayme Fogagnolo Cobra é reumatologista, diretor da Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra, em São Paulo, e líder de um grupo de mais de 40 médicos que atuam em oito hospitais da região Sudeste

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