A insuficiência cardíaca é um distúrbio em que o coração não consegue suprir mais as necessidades do corpo. Ou seja, a enfermidade se desenvolve quando a ação de contração ou relaxamento do órgão se torna inadequada, normalmente devido à fraqueza ou à rigidez do músculo cardíaco, ou mesmo a ambas.
São dois os tipos de insuficiência cardíaca. Na de fração de ejeção reduzida, o coração se contrai com menos força e bombeia uma porcentagem menor do sangue do que retorna a ele. Na com fração de ejeção preservada, o órgão fica enrijecido e não relaxa após a contração, o que prejudica sua capacidade de se encher de sangue.
Independentemente do tipo, a insuficiência cardíaca é um problema grave, com alto risco de mortalidade e uma questão de saúde pública. No Brasil, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte na população em geral, sendo que a insuficiência do coração é a primeira causa de internação hospitalar em pessoas acima dos 60 anos.
Metade dos pacientes com essa condição pode morrer até cinco anos após o diagnóstico e a doença e o tratamento trazem um alto ônus financeiro para o Sistema Único de Saúde (SUS), representando a maioria dos custos relacionados a hospitalizações no contexto das doenças cardiovasculares. Um estudo baseado em dados do DATASUS sobre admissões por insuficiência cardíaca entre 2007 e 2016 mostrou que o custo médio por paciente internado aumentou 97% no período.
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Além dos impactos no sistema de saúde, a doença pesa na qualidade de vida dos pacientes. Porém, temos boa notícia, com a aprovação neste mês de uma nova indicação de um medicamento para pessoas com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a prescrição da empagliflozina para esses pacientes, o que significa que, a partir de agora, os indivíduos com a doença poderão se beneficiar de mais um tratamento a despeito do tipo de fração de ejeção.
A empagliflozina é um comprimido inicialmente desenvolvido para tratar o diabetes. Estudos clínicos subsequentes com a medicação demonstraram resultados positivos também para pacientes com insuficiência cardíaca, tendo ou não diabetes.
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Em 2021, a Anvisa aprovou o uso do medicamento como parte do arsenal de tratamento para a insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida. O aval veio após a publicação de um importante estudo que demonstrou redução de 25% no risco de morte ou hospitalização com a utilização da empagliflozina, além do tratamento-padrão.
A nova decisão da agência deriva dos resultados positivos apresentados por outro estudo, o EMPEROR-Preserved, que contemplou adultos com ou sem diabetes e diagnóstico de insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada. O trabalho concluiu que o remédio demonstrou redução de 21% no risco relativo de morte cardiovascular ou hospitalização por essa doença do coração.
Pesquisas anteriores que testaram várias drogas nesse grupo de pacientes não haviam conseguido comprovar benefícios claros até o momento. A empagliflozina, por sua vez, representa um tratamento capaz de melhorar significativamente a saúde de pessoas com ambos os tipos de insuficiência cardíaca, fora reduzir a progressão das lesões renais, tão frequentes nessa população.
Ou seja, hoje os pacientes podem contar com uma terapia que auxilia no restabelecimento do equilíbrio entre os sistemas cardíaco, renal e metabólico, diminui o risco de complicações graves e aumenta a qualidade de vida.
Como médico e pesquisador que se dedica a essa área há anos, posso afirmar que estamos diante de um marco no tratamento da insuficiência cardíaca no Brasil. Temos o primeiro e único medicamento aprovado que consegue reduzir o risco de morte e hospitalização independente do tipo da doença.
Essa é uma notícia com potencial de transformar a vida de milhões de brasileiros. E que faz nosso coração pulsar de tanto orgulho.
* Múcio Tavares de Oliveira Jr é cardiologista, pesquisador e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)