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Precisamos tratar a dor direito e com respeito

Enquanto alguns países exageram no uso de certos analgésicos, outros sofrem com a falta de tratamentos para a dor

Por Dr. André Junqueira e dr. João Batista Garcia*
26 nov 2019, 14h13
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  • A dor é um dos sintomas mais frequentes e temidos. Nos pacientes com câncer, é uma das maiores causas de sofrimento, acometendo de 30 a 50% dos indivíduos em tratamento e mais de 70% daqueles nos estágios avançados da doença e no fim da vida. Se por um lado dispomos de diversos fármacos para controlar a dor, por outro nem sempre eles são devidamente usados. Os medicamentos opioides — grupo que engloba codeína, morfina etc. — são a base do tratamento de dores moderadas a intensas, agudas (como no pós-operatório) ou crônicas (sobretudo no câncer) devido à sua rápida ação e eficácia e à ausência de dose máxima.

    No entanto, esses analgésicos despertaram alarme e desafios diante do seu uso abusivo em alguns países, em especial Estados Unidos, Canadá e Austrália. A “crise dos opioides”, caracterizada por um emprego prolongado e indiscriminado desses remédios, levou a altas taxas de dependência e mortalidade nessas nações. E teve um impacto profundamente negativo no manejo da dor em todo o mundo, uma vez que aumentou o medo de se prescreverem opioides.

    Para a América Latina e a maioria da população mundial, porém, a disponibilidade e o acesso a esses medicamentos ainda são inadequados e sua baixa oferta e indicação no ambiente médico levam ao subtratamento da dor e a um sofrimento desnecessário. Dados da Organização das Nações Unidas apontam que a situação no Brasil e região é diferente da realidade americana, onde os opioides viraram uma ameaça em termos de abuso e mortes por substâncias ilícitas.

    Hoje entendemos a dor como uma experiência angustiante associada não só a lesões físicas mas também a componentes sensoriais, emocionais, cognitivos e sociais. Como sintoma subjetivo, os médicos precisam confiar nos relatos do paciente. A reação à dor e a resposta ao tratamento variam de acordo com a capacidade de lidar com o sofrimento, o suporte da família e amigos, o surgimento de efeitos adversos, dentre outros.

    Assim, ao indicarem os analgésicos, os profissionais de saúde devem avaliar todo um contexto capaz de influenciar a expressão da dor — o que inclui a presença de distúrbios físicos e psicológicos e o risco de uso abusivo de alguma substância.

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    É preciso um trabalho conjunto de educação e regulação para encorajar a utilização adequada e o monitoramento dos opioides. Mas tendo em mente que a crise na América Latina é oposta à dos EUA e outros países desenvolvidos. O desafio aqui é o subtratamento e o sofrimento diante da dor.

    *André Junqueira é médico e presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. João Batista Garcia é médico e presidente da Federação Latino-Americana de Associações para o Estudo da Dor

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