No Brasil, aproximadamente 18 milhões de pessoas vivem com diabetes. A Federação Internacional de Diabetes estima que metade desse público — que corresponde a 8,9% da população brasileira — não sabe ser portador da doença. Nesse contexto, dados do Ministério da Saúde apontam que 20% das internações por complicações dessa condição ocorrem em decorrência de lesões nos membros inferiores. Não é à toa que o pé diabético virou uma questão de saúde pública.
Ao longo dos anos, o diabetes acarreta o que em medicina chamamos de neuropatia. São alterações em nervos que culminam na redução da sensibilidade natural da pele e em mudanças nas estruturas ósseas e musculares. Sem a capacidade de sentir dor, o indivíduo não percebe quando machuca os pés. E um pequeno machucado pode evoluir para a amputação de uma parte ou de todo o membro inferior.
Também contribui para esse quadro o fato de que diabéticos tendem a desenvolver problemas nas artérias, o que dificulta a oxigenação dos tecidos e, no caso de uma lesão não ser identificada e tratada a tempo, leva à gangrena.
Se considerarmos que uma parcela das pessoas com diabetes está acima do peso, fuma e tem colesterol alto, veremos um cenário muito propício a situações desse tipo e à piora na qualidade de vida.
O fato é que o pé diabético representa hoje uma das maiores causas de ocupação de leitos hospitalares e longos períodos de internação. Na rede pública brasileira, 85% das amputações não traumáticas são precedidas de feridas e cerca de 58 mil pessoas morrem por ano devido a complicações do diabetes. Em 2016, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 137,4 mil internações em função do diabetes, somando um custo de 92 milhões de reais.
O autoexame dos pés
Nos diabéticos, micoses, calos, rachaduras ou feridas simples podem ser o ponto de partida de um problema de consequências drásticas, caso da mutilação de parte do membro inferior ou do membro todo. Nesse estágio, há grande probabilidade de o indivíduo já apresentar também comprometimento em outros órgãos, como rins, olhos e coração.
Além de manter um estilo de vida saudável e a adesão ao tratamento médico, o diabético deve prezar pelo autocuidado com os pés. As principais medidas nesse sentido são: examinar os membros inferiores com regularidade, enxugar bem os pés após o banho, ficar atento a micoses ou arranhões, evitar andar descalço e não usar calçados apertados.
Felizmente, nos últimos anos ganha evidência o papel da equipe multidisciplinar — endocrinologista, cardiologista, cirurgião vascular, nutricionista, fisioterapeuta, enfermeiro etc — no atendimento e no acompanhamento do paciente diabético. Com orientações, cuidados e avaliações periódicas, fica mais fácil proporcionar uma vida normal e livre de complicações. Lembre-se: prevenção e controle ainda são o melhor caminho para uma vida saudável.
Cuide dos seus pés com carinho.
* Dr. Eliud Garcia Duarte Júnior é cirurgião vascular, coordenador da Comissão Nacional de Atuação Multidisciplinar de Diabetes e Pé Diabético da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular