A cirurgia plástica não é para todo mundo. As mudanças realizadas pelos procedimentos estéticos, em geral, são positivas tanto para o bem-estar físico quanto psicológico do paciente, uma vez que ajudam na autoestima e na autoimagem. Entretanto, essa é uma realidade apenas para quem têm uma visão real de si mesmos e que leva ao cirurgião queixas razoáveis – o que deve ser avaliado cuidadosa e individualmente.
Nesse contexto, as redes sociais têm impactado cada vez mais na forma como as pessoas se vêem, como mostra uma pesquisa recente produzida pela Universidade de Boston e publicada no Journal of Clinical and Aesthetic Dermatology. Os pesquisadores avaliaram 175 pacientes acima de 18 anos e concluíram que o tempo gasto nas redes sociais e o uso de aplicativos de edição de fotos estavam diretamente ligados à insatisfação com a aparência e a um aumento na busca por procedimentos estéticos.
Além do contato constante com padrões estéticos nas redes e a manipulação de fotos, a imagem da câmera do celular, particularmente no modo selfie, pode ser um agravante para o desenvolvimento de uma visão distorcida da própria aparência. Como a câmera é projetada para obter em uma curta distância a maior amplitude da imagem, ela acaba por distorcer a face, deixando o nariz maior e a parte lateral da face mais estreita.
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Se estiver em muitas conversas de vídeo durante o dia – algo comum após a chegada da Covid-19 –, o usuário pode acabar aceitando essa como a sua imagem real, levando-o a uma insatisfação pouco plausível com certas áreas do rosto.
Cabe aos profissionais da área, então, um diálogo aberto. Entender de onde vem o desejo daquele paciente em realizar determinado procedimento e ouvir o que ele deseja é fundamental para avaliar se o que está sendo solicitado é plausível ou se pode envolver algumas questões psicológicas, como o transtorno dismórfico corporal (TDC).
Em pacientes com dismorfia corporal em um nível grave, a cirurgia plástica deve ser muito bem pensada – em alguns casos, até contraindicada. Já em pessoas com níveis leves, o procedimento pode ser positivo e um verdadeiro aliado.
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Um estudo que conduzi ao lado de outros cirurgiões plásticos e psiquiatras, publicado no Plastic and Reconstructive Surgery Journal, mostrou que, em 80% dos casos leves do transtorno dismórfico corporal, a cirurgia plástica foi capaz de corrigir o resultado positivo do exame que avalia este transtorno.
Já os pacientes com casos mais graves de TDC foram encaminhados para o acompanhamento necessário, e a cirurgia não foi realizada.
Tais estudos comprovam a responsabilidade de profissionais que seguem os preceitos médicos em alertar de que o que um paciente deseja pode não ser o melhor para ele. É muito grave que, após uma cirurgia plástica, a pessoa se olhe no espelho e não se reconheça – ou mesmo se arrependa da cirurgia rapidamente, porque percebeu que, na verdade, gostaria de ter tido um resultado mais natural.
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Em alguns casos, é possível realizar uma cirurgia de reversão, mas o ideal – além de o mais seguro – é alinhar as expectativas antes da operação.
Assim, a escolha de um médico qualificado torna-se fundamental para alcançar resultados desejados e dentro da realidade. A cirurgia plástica não pode ser vista como uma roupa “tamanho único”; ela deve ser pensada de forma individualizada para cada paciente, de acordo com o que ele necessita e o que é possível fazer.
Ainda que exista para resgatar a autoestima e qualidade de vida dos pacientes, a cirurgia plástica não deve ser banalizada.
*Fabio Nahas é cirurgião plástico com mais de 30 anos de carreira. É o atual diretor científico internacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e foi vice-presidente da ISAPS (Sociedade Internacional de Cirurgia Estética). Ele é formado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e atualmente também atua como professor da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp, além de ser editor associado do Aesthetic Plastic Surgery Journal, órgão oficial de publicações científicas da International Society of Plastic Surgery (ISAPS).