A triste realidade é que o suicídio é a segunda causa de morte entre os adultos jovens. A depressão, por sua vez, é uma das principais condições por trás da ideação suicida e hoje já é a causa número 1 de incapacidade no mundo. Mas o que estamos fazendo em nosso dia a dia para melhorar esse cenário?
Sim, assistimos a movimentos de conscientização sobre saúde mental, à articulação de políticas públicas para suas vítimas e ao trabalho dos meios de comunicação cobrindo cada vez mais o assunto. Mas e você, o que tem feito para mudar as coisas? Sim, você!
Quantas vezes ligou para uma pessoa que não tem encontrado e perguntou como ela está? Quantas vezes deu um simples bom dia àquele sujeito com quem você cruza na rua ou no elevador? Às vezes tornamos as pessoas invisíveis.
E, aí, deparamos com relatos como o de I, que segue minha página no Facebook: “Eu ia envenenar a mim e a minha filha, mas li suas postagens e pensei que eu realmente estava a ponto de fazer uma grande besteira (…) Resolvi erguer minha cabeça e seguir. Hoje, nesse pouco tempo que mando mensagem a você e você responde, não me sinto uma pessoa sem valor. Obrigada por isso. Agora eu sei que ainda tem gente que se importa comigo”.
Essa mensagem nos mostra como tantas vezes o destino de uma vida pode ser mudado por um bom dia, uma frase de atenção, um acolhimento. Como a comunicação, tão intensa nos dias de hoje, pode ser usada para o bem e para melhorar o rumo de nossas vidas.
Episódios assim infelizmente não são raros. E, com a pandemia, manter o bem-estar mental tem sido um grande desafio para as famílias e o Estado. Uma pesquisa recente do Instituto Ipsos aponta que 53% dos brasileiros relataram pioras em sua saúde mental no último ano. E nosso país já não ia bem nessas estatísticas: estudos nos colocam na liderança no ranking da ansiedade e da depressão.
O desfecho mais traumático de um transtorno mental é o suicídio, que levou, segundo cálculos do governo, 13 mil brasileiros no último ano. Não podemos deixar que o fardo da pandemia, que elevou os índices de sofrimento emocional e o consumo de álcool e drogas, piore a situação.
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Desde a reforma psiquiátrica iniciada na década de 1970 e a consolidação da rede de atenção psicossocial, implementada através de uma portaria do governo federal em 2011, o Estado detém a missão de atender e resguardar pacientes com doenças psíquicas. Só que essas políticas públicas volta e meia sofrem golpes (inclusive no orçamento), que acabam por atrapalhar o esforço de tantos profissionais de saúde envolvidos nos cuidados com esse público.
Isso nos faz retomar às questões do início deste texto. Não podemos deixar só na mão do Estado e das instituições a solução do problema. Como indivíduos e como sociedade, precisamos desenvolver e demonstrar empatia pelo próximo, promover o respeito e a etiqueta social, dar mais valor a um bom dia… São atitudes que transbordam acolhimento, dão significado à vida alheia e atenuam a exposição de quem está sofrendo a riscos.
Pensemos nisso e tentemos fazer do nosso mundo um lugar melhor. Dê mais bom dia! Façamos pequenas coisas capazes de salvar vidas.
* Márcio Renzo é fisioterapeuta e capitão do Corpo de Bombeiros de São Paulo