Os cuidados com a saúde precisam ser diários e necessitam do envolvimento de todos: de cada pessoa, independentemente de estar bem ou doente, da sociedade e dos órgãos públicos e privados. É importante destacar aqui o papel de profissionais de saúde, educadores e pacientes em um cenário específico e pouco abordado durante a pandemia: a ameaça das bactérias resistentes. É preciso falar sobre isso!
Em todo o mundo, a resistência bacteriana é responsável pela morte de 700 mil pessoas por ano. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050 teremos mais de 10 milhões de mortes, mais do que as provocadas atualmente pelo câncer. É um horizonte preocupante, que demanda novas ideias e estratégias para mudar essa realidade.
O tratamento básico de infecções por bactérias é ancorado nos antibióticos. O primeiro deles, a penicilina, foi descoberto em 1928 por Alexander Fleming, um grande feito, que muito contribuiu na redução de mortes por doenças bacterianas.
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De lá para cá, no entanto, o uso inadequado desses medicamentos tem contribuído para o aparecimento das bactérias resistentes, aquelas que escapam da ação do antibiótico.
Prescrever um tratamento, especialmente para infecções, requer uma boa investigação diagnóstica para chegar à possível causa da doença. A partir disso, vamos saber se há exames necessários e o que receitar.
Para indicar um antibiótico, precisamos avaliar adequadamente para entender se a infecção é mesmo bacteriana, se ele vai combater aquela bactéria em específico, sendo importante garantir a dose certa (de acordo com peso, perfil de absorção etc.)… Enfim, são vários parâmetros nem sempre observados.
Além disso, temos um desconhecimento por parte dos pacientes e/ou prescritores sobre os riscos do uso dos antibióticos, o que tem impacto na disseminação da resistência bacteriana.
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Precisamos quebrar o paradigma de que qualquer infecção deva ser tratada com antimicrobianos, particularmente os antibióticos. Essa falsa impressão – e a pressão pela prescrição – está há muito tempo em nossa cultura e, aqui, falo como infectologista e cidadã.
Temos que nos conscientizar que é necessária uma atuação que começa na sala de aula, com os alunos de saúde que um dia serão prescritores, e se estende por programas de controle de antimicrobianos, que é o gerenciamento do uso de antibióticos, em hospitais e unidades de saúde.
Experiências internacionais mostram o impacto dessas atitudes na segurança dos pacientes. E as campanhas educativas para o público em geral também são fundamentais para promover a conscientização e gerar mudanças.
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Diante da realidade atual e global da resistência bacteriana, ainda é importante reforçar outras medidas: manter as mãos sempre higienizadas e a vacinação em dia. Essas duas atitudes, simples e acessíveis, ajudam a evitar quadros infecciosos que podem resultar na prescrição necessária de um antibiótico.
Assim, a adoção dessas boas práticas está em nossas mãos. Depende de todos nós – profissionais de saúde, pacientes, governos e sociedade civil – mudar nosso presente e futuro em relação às bactérias.
* Sylvia Lemos Hinrichsen é infectologista, professora titular de Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e consultora de biossegurança