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O preocupante horizonte no tratamento do câncer de mama no Brasil

Especialista reflete sobre os impactos da pandemia no diagnóstico e no tratamento da doença. Mobilização para minimizar os danos é urgente!

Por Franklin Fernandes Pimentel, mastologista e oncologista*
25 out 2021, 10h20
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  • O horizonte para o tratamento do câncer de mama no Brasil de fato preocupa. Mesmo antes da pandemia de Covid-19, o país já sofria com problemas estruturais que dificultavam o acesso ao diagnóstico e ao tratamento em estágios iniciais da doença, quando a chance de cura pode ser maior que 90%.

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    Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), feita no início da crise do coronavírus, já apontava que o tempo médio para uma pessoa conseguir diagnóstico e iniciar o tratamento era de 200 dias, ou seja, quase sete meses. É um tempo precioso que se perde.

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    Nos últimos anos, mais da metade das pacientes com câncer de mama (56%) iniciavam o tratamento em estágios avançados. Dessas, 35% já estavam em estágio metastático, quando a doença se espalha para outros órgãos e o objetivo do tratamento deixa de ser a cura e passa a mirar o aumento da sobrevida e uma melhor qualidade de vida.

    O que a pandemia adicionou a esse cenário foi um represamento dos diagnósticos por mamografia, o que deve pressionar toda a estrutura de atendimento oncológico pelos próximos anos. Dados do Radar do Câncer mostram uma queda de 48% no número de exames realizados em 2020 em relação ao ano anterior.

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    Esse fator agrava uma situação que já era complicada: o Observatório de Oncologia indica que somente 23% das brasileiras em idade de rastreamento tiveram acesso a mamografias entre 2015 e 2019.

    A situação que se coloca para os próximos anos, quando estivermos em condições sociais mais parecidas com a pré-pandemia, vai potencialmente de “mal a pior”. Isso pode ser traduzido em uma onda de diagnósticos tardios, que deve comprometer todo o sistema, sobretudo as unidades de tratamento de alta complexidade.

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    Além disso, a incidência de câncer no país e no mundo vem apresentando aumentos anuais, com a estimativa de que essa será a principal causa de morte até 2030, ultrapassando as doenças cardiovasculares.

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    Reconhecer a situação que se apresenta (e ainda está por vir) como uma verdadeira crise é urgente. E devemos lembrar que situações de crise, se bem aproveitadas, são oportunidades inestimáveis de transformação. É preciso contabilizar os desafios e os avanços que tivemos nos últimos dois anos e reinterpretar tudo aquilo que passamos na linha de frente.

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    + LEIA TAMBÉM: Os desafios e os avanços no tratamento do câncer de mama

    Lições da pandemia

    A pandemia pode nos deixar um legado de busca por maior eficiência nos fluxos de tratamento. Afinal, se no combate ao coronavírus foi implantada uma rede ágil e coordenada para detectar, notificar, encaminhar e tratar a infecção, essa estrutura deveria ser adaptada para os casos de câncer, acelerando todas as etapas da detecção ao tratamento.

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    Nessa seara, a telemedicina representa um dos marcos que vieram para ficar e que apresentam potencial de otimização para o sistema de atendimento, podendo ajudar a reduzir a pressão em toda a rede de saúde. Em diversas situações nas quais o paciente tinha de gastar muito tempo se deslocando até o serviço de saúde e esperando pela consulta, o atendimento por telemedicina provou reduzir gastos e desconfortos, sem prejuízo na resolutividade.

    Muitos estudos têm sido conduzidos nesse campo, como os projetos desenvolvidos por nosso setor no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), que hoje conta com mais de dez pesquisadores apoiados pela Capes. Buscamos avaliar quais os impactos da pandemia na eficácia do tratamento do câncer ginecológico e de mama e o papel da telemedicina nesse contexto.

    A telessaúde ainda é incipiente no Brasil, uma vez que as experiências foram adotadas de forma provisória e levaremos um tempo até ter os dados para analisá-las. O mesmo se aplica a todas as adequações em termos de protocolos e tratamentos feitas ao redor do mundo para atender a essa emergência global.

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    Há inúmeros aprendizados a serem assimilados. Na própria oncologia, nunca havíamos considerado o distanciamento social e a escassez de leitos como fatores a serem considerados na escolha do tratamento. Assim, houve uma migração de alguns tratamentos injetáveis para versões orais, e a preferência por terapias menos tóxicas, com menor risco de internação, mesmo que em algumas situações a eficácia pudesse ser inferior.

    Na própria decisão de fazer ou não quimioterapia, os pacientes com comorbidades mostraram-se receosos em fazer as sessões e serem contaminados em um momento que não houvesse leitos de UTI. Passamos a considerar isso e fazer avaliações ainda mais profundas sobre os riscos e benefícios do tratamento naquele momento. Ou seja, foram muitos fatores considerados e protocolos modificados, práticas que podem se manter após o controle da Covid-19.

    Coloco na conta ainda o divisor de águas que a pandemia será para a sociedade como um todo. Fomos obrigados a parar, reduzir ritmos, redefinir prioridades… Incontáveis profissionais de saúde entraram em exaustão física e mental. O momento pede reflexão e um olhar com mais responsabilidade para a nossa saúde.

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    Se pensarmos que a construção de um futuro melhor passa pela reconstrução de cada um de nós, precisamos também nos mobilizar por um esforço coordenado capaz de mudar o cenário de cuidados com as outras doenças além da Covid-19, e o câncer de mama é uma questão prioritária.

    * Franklin Fernandes Pimentel é mastologista e oncologista Clínico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e consultor científico da Libbs Farmacêutica

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